sexta-feira, 17 de junho de 2011

Literatura

"Os Anos 40 - A ficção e o real de uma época"
Poucas obras de memória incorporam uma perspectiva que as transforma em elementos de compreensão social ou histórica. Como poucas são também aquelas que, costurando fatos, perfis e emoções, tecem a própria trama dos conflitos humanos e intentam penetrar no mistério e na essência dessa trama. Entre estas últimas inclui-se "Os Anos 40". O livro dá voz a um desconcerto diante da existência. Os personagens de uma vida em emergência - à jovem, que viveu os anos 40, e às coisas que em sua memória (as porcelanas, os retratos, os casarões) assumem a dignidade de personagens - sobrepõe-se a imersão em grandes temas como a incompreensão da morte, o inestancável transcurso temporal, as rugosidades do anseio amoroso.O tecido que se fia na alma perplexa se oferece à leitura através de uma voz feminina, ainda que se trata de uma voz cujas inflexões traem o acento de sua mineiridade, de uma voz que como no verso do poeta não se nega à prece: "Espírito de Minas me visita". O leve toque de despretensão e a discreta entonação de uma linguagem que não se eleva sobre o rumor de passos cotidianos compõem um estilo, não tanto despojado, mas matreiramente articulado para suportar a fotografia que dói na parede. Dentro dessas coordenadas, tem-se com "Os Anos 40", mais que um retrato de época, um retrato das marcas que uma época imprime num espírito. Ainda hoje, trinta anos após sua primeira edição, este livro traz aos leitores algumas indagações que, estas sim, resistem à passagem do tempo.
"Os Anos 40", autora: Rachel Jardim

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