terça-feira, 21 de junho de 2011

América-MG

O DECA DO AMÉRICA TEM NOVE CAMPEONATOS
Assembléia dos Clubes em 1925 considerou o Campeonato daquele ano, que o alvi-verde soma como o último de sua histórica série de 10 conquistas, como inexistente.

por Henrique Ribeiro*

Um dos maiores mitos do futebol que é o deca-campeonato mineiro do América entre os anos de 1916 e 1925 contém erros históricos. Uma pesquisa nos jornais Diário de Minas, Minas Gerais e Estado de Minas desmente os argumentos apresentados pelos americanos e revela que o Clube contabiliza o Campeonato de 1925 que foi, oficialmente, declarado como inexistente numa assembléia dos Clubes naquele ano. O certame até a sua interrupção também tinha o Sete e o Cruzeiro, como um dos líderes por pontos perdidos. Outra curiosidade é que não existia o Campeonato Estadual e o titulo máximo, até então, era o de "campeão de Belo Horizonte", como descreve um levantamento do departamento técnico da Federação Mineira publicado no jornal Estado de Minas de 1931.

O Certame de 1925 deveria ter sido disputado por 6 equipes da capital: América, Atlético, Cruzeiro, Luzitano, Sete e Sport Calafate. O primeiro argumento errôneo do América é que "o Campeonato de 1925 teve apenas uma partida, que foi o clássico contra o Atlético". Na verdade, ocorreram 04 partidas, sendo uma delas decidida por WO. Na 01ª rodada, em 31/05/1925, o Sete goleou o Sport Calafate por 5 a 2 e o Cruzeiro ganhou os pontos do

Luzitano que não compareceu ao estádio do Barro Preto para enfrentá-lo. Na rodada de 14/06/1925, o América com gols de Bolivar, Satiro, Osvaldo e Gaúcho contra um de Amaral goleou o Atlético por 4 a 1 e o Sete, com um gol de Sinfrônio, venceu o Luzitano por 1 a 0.

O segundo argumento americano é de que "com a goleada sobre o Galo, as equipes se renderam a supremacia alvi-verde e desistiram de disputar o restante do certame". Na verdade, o América foi o primeiro clube a se desinteressar pela disputa, quando propôs a Federação o adiamento da 02ª rodada, que deveria ser disputada, em 07/06/1925, que contaria com dois jogos (América x Sport Calafate e Cruzeiro x Sete) para promover um amistoso contra o Sírio de São Paulo. O Cruzeiro foi o convidado para formar a preliminar contra o Sírio Horizontino, clube recém criado na Capital. O Campeonato, como era de costume, foi interrompido entre os meses de junho e julho para os preparativos da Seleção Mineira e a disputa do Campeonato Brasileiro de Seleções. O Campeonato deveria recomeçar em agosto, mas as rodadas foram substituídas por amistosos com os clubes promovendo a vinda de adversários do interior e de outros estados. O terceiro argumento alvi-verde é que"como aconteceu apenas uma partida (na verdade foram 04) e o América conquistou a única vitória foi proclamado numa assembléia dos Clubes como o campeão do ano". Se este critério tivesse realmente prevalecido o Cruzeiro e o Sete também deveriam ter sido proclamados campeões, pois lideravam a tabela com 0 (zero) pontos perdidos cada, ao lado do América. No entanto uma matéria do jornal Estado de Minas de 16/01/1931 dá um ponto final na história e revela que na assembléia ocorrida em 18/12/1925, a decisão que os presidentes de Clubes tomaram foi a de considerar o Campeonato como inexistente.

No final do ano de 1930, o Cruzeiro, após conquistar o tri-campeonato de 1928-1929-1930 enviou um protesto a Federação Mineira solicitando a entrega dos troféus e medalhas que ainda não havia recebido. No entanto, nenhum clube campeão desde 1922 havia recebido as premiações. O presidente da Federação Mineira, Tomás Naves, solicitou ao departamento técnico que fizesse um levantamento de todos os campeões no período e marcou uma solenidade na sede da entidade para a entrega dos troféus. A pesquisa nos arquivos da Federação foi realizada pelos funcionários Antonio Kneipp Rodrigues e Adão Lopes. Um levantamento de todos os campeões foi feito, dentre eles de aspirantes e da 2ª divisão e consta a informação da ata da assembléia de dezembro de 1925 que considerou o certame daquele ano como inexistente, além de esclarecer que a competição não era o Campeonato Mineiro, mas o Campeonato de Belo Horizonte.

É importante esclarecer que, segundo os critérios da Confederação Brasileira do Desporto, era proibida a criação de ligas municipais nas capitais e, portanto, os certames destas cidades deveriam ser organizados pela entidade máxima do estado, no caso de Minas, a Federação Mineira. Outro campeonato tão forte quanto o da capital era o de Juiz de Fora, organizado e promovido, pela Sub-Federação Mineira criada naquela cidade e que era disputado, regularmente, desde 1918. A partir de 1933 os estatutos determinaram que o título estadual deveria ser disputado entre os campeões das respectivas cidades, mas devido a incidentes no certame de 1933 e por ser considerado deficitário, não chegou a ser disputado. A Federação Mineira divulga desde então os campeões dos campeonatos oficiais promovidos diretamente por ela surgindo aí a confusão de que os certames de Belo Horizonte são considerados como estaduais.

O América Futebol Clube foi o primeiro clube do futebol brasileiro a impor uma hegemonia em uma competição. Nos primeiros 10 campeonatos oficiais disputados em Belo Horizonte, que começou em 1915, o alvi-verde só não conquistou o primeiro, que teve o Clube Atlético Mineiro como o primeiro

vencedor. Entre os anos de 1916 e 1924 só deu América. No campo e na bola, o alvi-verde foi ultrapassado pelo ABC, em 1941, quando conquistou por 10 vezes consecutivas o Campeonato do Rio Grande do Norte sagrando-se de fato e de direito o único deca-campeão regional do Brasil.
*Henrique Ribeiro é Historiador

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