terça-feira, 24 de maio de 2011

Literatura

"A Vida como ela é… O homem Fiel, e outros contos"

Durante dez anos, de 1951 a 1961, Nelson Rodrigues escreveu sua coluna A vida como ela é… para o jornal Última Hora, de Samuel Wainer. Seis dias por semana, chovesse ou fizesse sol. A chuva podia ser como "a do quinto ato do Rigoletto" e o sol, daqueles "de derreter catedrais", segundo ele. Todo dia, com uma paciência chinesa e uma imaginação demoníaca, Nelson escrevia uma história diferente. E quase sempre sobre o mesmo assunto: adultério. Desse tema tão simples e tão eterno, ele extraiu quase 2 mil histórias. Os ficcionistas que fingem se levar a sério precisam de toda uma aura de mistério para criar. Nelson dispensava esse mistério. Chegava cedinho à redação, acendia um cigarro e, na frente dos colegas, entre miríades de cafezinhos, escrevia A vida como ela é… As histórias saíam de casos que lhe contavam, da sua própria observação dos subúrbios cariocas ou das cabeludas paixões de que ele ouvira falar em criança. Mas principalmente da sua meditação sobre o casamento, o amor e o desejo.

O cenário dos contos de A vida como ela é… é o Rio de Janeiro dos anos 50. Uma cidade em que casanovas de plantão e mulheres fabulosas flertavam nos ônibus e bondes; em que poucos tinham carro, mas esse era um Buick ou um Cadillac; em que os vizinhos vigiavam-se uns aos outros; e em que maridos e mulheres viviam sob o mesmo teto com as primas e os cunhados, numa latente volúpia incestuosa. Uma cidade em que, como não havia motéis, os encontros amorosos se davam em apartamentos emprestados por amigos — donde o pecado, de tão complicado, tornava-se uma obsessão. E uma época em que a vida sexual, para se realizar, exigia o vestido de noiva, a noite de núpcias, a lua-de-mel. E em que o casal típico — e, de certa forma, perfeito — compunha-se do marido, da mulher e do amante.

Nelson Falcão Rodrigues (1912 - 1980).
Dramaturgo, teatrólogo, jornalista, cronista esportivo e escritor. Nelson iniciou sua carreira jornalística em 29 de dezembro de 1925, como repórter de polícia do jornal A Manhã. Tinha treze anos e meio. Em 1931, Nélson passou a trabalhar no jornal O Globo, sem salário. Apenas no ano seguinte é que Nélson seria efetivado como repórter do jornal. A partir de 1940, Nelson dividiu-se entre o emprego em O Globo e a elaboração de peças teatrais. Em 1941 escreveu A mulher sem pecado, que estreou sem sucesso. Pouco tempo depois assinou a revolucionária Vestido de noiva, peça que estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com estrondoso sucesso, sendo até hoje considerada como o marco inicial do moderno teatro brasileiro. Em 1945 abandonou O Globo e passou a trabalhar nos Diários Associados. Nélson Rodrigues escreveu dezessete peças teatrais. Seu filho Nelson Rodrigues Filho, no final dos anos 70, tornou-se militante da esquerda e passou para a clandestinidade. Nelsinho "Prancha" (seu codinome) foi preso em 30 de março de 1972. Em 23 de agosto, dia do aniversário de seu pai, Nelsinho foi autorizado a deixar a prisão e assistir ao nascimento da filha Cristiana. No dia 16 de outubro recebeu a liberdade condicional. Nelson Rodrigues, que havia nascido no Recife-PE, em 23 de agosto de 1912 e filho do ex-deputado federal e jornalista Mário Rodrigues morreu no Rio de Janeiro-RJ na manhã do dia 21 de dezembro de 1980.

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