domingo, 20 de março de 2011

Villa Nova (Nova Lima) e Atlético (Belo Horizonte)

por Wagner Augusto*
Quando o Villa Nova pisar o gramado da Arena do Jacaré neste domingo, 20/03, o time se defrontará contra seu mais antigo adversário na história. De fato, o clássico contra o Atlético representa a partida de futebol disputada há mais tempo em Minas Gerais. O primeiro jogo aconteceu no dia 14 de julho de 1912.
A realização desse amistoso, que ocorreu num festival em homenagem ao aniversário de Bueno Brandão, que era o presidente de Minas Gerais, consta em reportagens publicadas pelo jornal Estado de Minas, em setembro de 1938 e em dezembro de 1949. O 14 de Julho era também comemorativo à liberdade e à independência dos povos americanos e por isso uma banda de música se apresentou durante o jogo.

O antigo campo do Atlético, local do primeiro cotejo entre Leão e Galo, era localizado na Av. Paraopeba, atual Rua Augusto de Lima, onde hoje está construído o Minascentro. O Álbum de Ouro do Clube Atlético Mineiro informa que foi a primeira vitória do Galo numa partida intermunicipal, já que no primeiro jogo dessa natureza na história do alvinegro, em 12/5/1912, o time foi goleado no mesmo local por 5x1 pelo Granbery, time do tradicional educandário de Juiz de Fora-MG onde estudou o ex-presidente Itamar Franco.

O capitão do Villa nesse amistoso foi John Clemence e o do Atlético, Meirelles. Na preliminar: Atlético-B 4x0 Villa Nova-B.

FICHA TÉCNICA
14/7/1912 – domingo – Amistoso
Atlético 5x1 Villa Nova
Gols – Meirelles, Meirelles, Meirelles, Meirelles, Morgan (A) – Trevice (V)
Local – Estádio do Atlético na Av. Paraopeba (Belo Horizonte-MG)
Atlético: Nullo, Morethzon e Alfredo; Sebastião Laranjeiras, Henrique den Dopper e Proença Sigaud; Jair Reis, João Brito, Meirelles, Morgan e Aristides. Técnico – Francisco Neto
Villa Nova: John Clemence, Willy Willians e Albert Clemence; George Fellews, Eduardo Morgan e Baptista; Dimas, Aristeu, Trevice, João Moreira e Machado. Técnico – Ground Committe

Leão x Galo
Ao longo dessa velha rivalidade é fato que o Atlético estabeleceu uma boa vantagem no cômputo geral dos 232 jogos realizados até hoje. O Villa Nova, porém, que contabiliza 43 vitórias nessa peleja, levou a melhor em várias decisões em que esteve frente a frente com o alvinegro de Belo Horizonte.

O Villa Nova, com essas 43 vitórias sobre o Atlético, a primeira obtida em 13/10/1918 (goleada de 7x2, no Alçapão do Bonfim) e a última no dia 21/1/2007 (3x2, no Mineirão, pelo Campeonato Mineiro), é o terceiro clube que mais venceu o Galo na história. Somente Cruzeiro e América têm mais triunfos em cima do alvinegro.

Vale a pena reviver três ocasiões históricas em que o bravo Leão do Bonfim superou o Galo e se tornou um dos seus adversários mais temíveis e aziagos.

Decisão do Campeonato Mineiro de 1934
Villa Nova e Atlético chegaram à última rodada do Campeonato Mineiro, que era disputado em turno e returno, com pontos corridos, em condições de decidir o título no clássico que seria disputado entre eles no Estádio Castor Cifuentes. O Galo tinha um ponto à frente do Villa Nova e bastava o empate para se sagrar campeão pela primeira vez na era do profissionalismo. O Leão do Bonfim precisava vencer para levantar o bicampeonato mineiro (ou tricampeonato, se levarmos em consideração que o Villa já tinha vencido o torneio promovido pela AMEG, uma entidade dissidente, em 1932).

O lendário Estadinho do Bonfim estava lotado, contando na tribuna de honra com as ilustres presenças do governador de Minas Gerais, Benedito Valadares, e do ministro da Agricultura, Odilon Braga. O primeiro tempo terminou empatado por 0x0, resultado que garantia o troféu ao Atlético. O Villa Nova inicia o segundo tempo com uma alteração que seria decisiva para os destinos da partida: a entrada do jovem atacante Perácio no lugar de Pascoal.

Aos 24 minutos do segundo tempo, o ponta-direita villa-novense Tonho passa pela marcação de Mário Gomes e cruza no segundo pau. O ponta-esquerda Canhoto devolve a bola para o meio da grande área. Perácio aparece por trás da zaga atleticana e desfere uma forte cabeçada na bola que vai parar no fundo das redes do goleiro Armando Policeni. Gol do Villa Nova e aí começa uma tremenda confusão, com os jogadores do Galo alegando que a bola saíra no cruzamento de Tonho, voltando ao campo devido à ação de um torcedor do Leão que a empurrou com uma bengala, retornando-a ao gramado.

Os jogadores do Villa Nova negam veementemente a “bengalada” e a polícia não consegue controlar a situação. Já os atletas do Atlético estimulam a confusão para que a noite comece a escurecer o Castor Cifuentes (a iluminação do estádio só foi instalada em abril de 1982!). Por falta de garantias, o árbitro Guilherme Gomes, que havia sido importado do Rio de Janeiro a peso de ouro para apitar a decisão, resolve encerrar o jogo e sai de Nova lima sob forte esquema de segurança.

Começa, então, a batalha nos tribunais para se decidir o imbróglio criado com a suspensão da partida. O Villa Nova pleiteia a manutenção da vitória por 1x0, alegando que o Atlético forçou a confusão para encerrar o clássico e buscar a vitória no “tapetão”. O Galo insiste na anulação do jogo e a marcação de outro para Sabará, município vizinho a Nova Lima e sede do Esporte Clube Siderúrgica, grande rival do Leão do Bonfim naqueles tempos. Nem uma coisa, nem outra: numa decisão equilibrada, a Associação Mineira de Futebol, AMF, a entidade que organizava o Campeonato Mineiro à época, decidiu que os 21 minutos restantes seriam jogados realmente em campo neutro, porém, com os portões fechados. O complemento da decisão foi marcado realmente para o Estádio de Nossa Senhora da Praia do Ó, campo do Siderúrgica, mas os portões fechados impediram a estratégia do Atlético de contar com a simpatia dos torcedores locais, além dos seus próprios, para pressionar o Villa Nova.

Cinqüenta dias após o polêmico lance da bengala, que entrou para os anais do rico folclore do futebol mineiro e nunca foi completamente esclarecido, embora os indícios sejam de que se tratou de uma tentativa de armação por parte do Atlético, os 21 minutos do clássico foram jogados em Sabará. O Villa Nova segurou o assédio atleticano e não permitiu o empate. Com a manutenção do 1x0 obtido com o gol de Perácio, que depois iria para o Botafogo e disputaria a Copa do Mundo de 1938 como titular absoluto, o Leão sagrou-se campeão mineiro de 1934.

30/09/1934 – domingo – 15h
Villa Nova 1x0 Atlético
Gol – Perácio ( 24’ do 2º)
Público – 5.000
Local – Estádio Castor Cifuentes (Nova Lima-MG)
Árbitro – Guilherme Gomes (RJ)
Villa Nova: Geraldão, Chico Preto e Sérgio; Zezé Procópio, Neco e Geninho; Tonho, Alfredo Bernardino, Campos, Pascoal (Perácio) (intervalo) e Canhoto. Técnico – Zé de Deus
Atlético: Armando Policeni, Tião e Evandro; Justo, Lola e Mário Gomes; Lelo, Paulista, Guará, Nicola e Elair. Técnico – Floriano Peixoto
OBS. Jogo encerrado aos 24 minutos do segundo tempo.

18/11/1934 – domingo – 15h
Villa Nova 0x0 Atlético
Público – Partida disputada com portões fechados
Local – Estádio de Nossa Senhora da Praia do Ó (Sabará-MG)
Árbitro – Osvaldo Kroft de Carvalho (MG)
Villa Nova: Geraldão, Chico Preto e Sérgio; Zezé Procópio, Neco e Geninho; Tonho, Alfredo Bernardino, Campos, Perácio e Canhoto. Técnico – Zé de Deus
Atlético: Armando Policeni, Tião e Evandro; Jaci, Lola e Mário Gomes; Lelo, Paulista, Guará, Nicola e Elair. Técnico – Floriano Peixoto
OBS. Foram disputados os 21 minutos restantes do jogo anteriormente suspenso.

Decisão do Campeonato Mineiro de 1951
Os dois tradicionais rivais se encontram novamente para decidir o título do Campeonato Mineiro de 1951. O Atlético carregava o trauma de jamais haver conquistado um tricampeonato, proeza que Villa Nova, Palestra Itália/Cruzeiro e América (considerando o decacampeonato obtido ainda na era do amadorismo) já ostentavam. O alvinegro perdera a oportunidade de levar o tri em vários ocasiões: 1928, 1933, 1940, 1943 e 1948. Nesse ano, foi derrotado pelo América por 3x1 numa partida conturbada em que o árbitro inglês Cyril John Barrick, o famoso mister Barrick, teria validado um gol irregular do Coelho. Tal como na final de 1934, o Atlético alegou ilegalidade no lance, afirmando que a bola tinha batido no muro do Estádio Otacílio Negrão de Lima, voltado e entrado no gol pelo lado externo das redes.

Portanto, a decisão de 1951, que na verdade foi disputada em janeiro de 1952 e marcou as primeiras transmissões esportivas da Rádio Itatiaia de Belo Horizonte, representava mais uma chance para o Atlético quebrar o tabu referente ao tricampeonato estadual. Mas, do outro lado estava o esquadrão do Villa Nova, comandado por Martim Francisco e recheado de craques que imortalizaram essa conquista do time alvirrubro. Foram necessários três jogos para se conhecer o grande campeão. O torneio de 1951 recebeu o nome de supercampeonato devido ao equilíbrio e a força dos dois poderosos rivais.

01° Jogo – 13/01/1952 – domingo – 16h
Atlético 1x1 Villa Nova
Gols – Alvinho (18` do 2°) (Atlético) – Tão ( 38’ do 2°) (Villa)
Público – 17.000
Renda – Cr$ 146.000,00
Local – Estádio Otacílio Negrão de Lima – Alameda (Belo Horizonte-MG)
Árbitro – Francisco Trindade (MG)
Assistente 1 – Geraldo Fernandes (MG)
Assistente 2 – Willer Costa (MG)
Atlético: Sinval, Juca e Osvaldo; Geraldino, Zé do Monte e Afonso; Lucas Miranda, Antoninho, Mauro Patrus, Alvinho e Vavá. Técnico – Iustrich
Villa Nova: Arizona, Madeira e Anísio; Vicente, Lito e Tão; Osório, Vanduca, Tobias, Foguete e Fradeco. Técnico – Prão
OBS – Aos 35 minutos do segundo tempo, o árbitro marcou pênalti para o Atlético. Madeira segurou Alvinho dentro da área. O ponta-direita Lucas Miranda chutou para fora.

02° Jogo – 24/01/1952 – quinta-feira – 19h
Atlético 2x2 Villa Nova
Gols – Mauro Patrus (8’do 1°), Lucas Miranda ( 39’ do 1°) (Atlético) – Osório ( 31’ do 1°), Escurinho ( 33’ do 1°) (Villa)
Público – 19.500
Renda – Cr$ 164.000,00
Local – Estádio Independência (Belo Horizonte-MG)
Árbitro – Francisco Trindade (MG)
Assistente 1 – Geraldo Fernandes (MG)
Assistente 2 – Willer Costa (MG)
Atlético – Sinval, Juca e Osvaldo; Geraldino, Zé do Monte e Haroldo; Lucas Miranda, Mauro Patrus, Vavá, Alvinho e Zeca. Técnico – Iustrich
Villa Nova: Arizona, Madeira e Anísio; Vicente, Lito e Tão; Osório, Vanduca, Chumbinho, Foguete e Escurinho. Técnico – Prão
OBS – O governador Juscelino Kubitschek deu o pontapé inicial da partida. O segundo jogo deveria ter sido disputado no dia 20/01, às 16h, mas foi adiado pelo árbitro da partida, Francisco Trindade. O gramado não tinha condições devido a uma forte chuva que caiu ao final da decisão do Campeonato de Aspirantes entre Paissandu e Siderúrgica, preliminar de Villa Nova x Atlético. O campo apresentava várias poças d`água, principalmente em frente aos gols.

03° Jogo – 27/01/1952 – domingo – 16h
Atlético 0x1 Villa Nova
Gols – Vaduca ( 5’ do 2°)
Público – 25.000
Renda – Cr$ 211.300,00
Local – Estádio Independência ((Belo Horizonte-MG)
Árbitro – Geraldo Toledo (MG)
Assistente 1 – Alcebíades Dias Magalhães — Cidinho Bola-Nossa Assistente 2 – Willer Costa (MG)
Atlético: Sinval, Juca e Osvaldo; Geraldino, Zé do Monte e Haroldo; Lucas Miranda, Antoninho, Mauro Patrus, Alvinho e Vavá. Técnico – Iustrich
Villa Nova: Arizona, Madeira e Anísio; Vicente, Lito e Tão; Osório, Vanduca, Chumbinho, Foguete e Escurinho. Técnico – Prão
OBS – O Villa Nova exigiu uma arbitragem carioca e os nomes de Mário Vianna, Gama Malcher e Tijolo estavam na lista para apitar a partida. O Atlético por sua vez queria um juiz mineiro. A Federação não conseguiu um árbitro carioca e o juiz da partida só foi ser conhecido depois de um sorteio realizado no Independência depois de 40 minutos após o horário marcado para o início da partida. Geraldo Toledo, Alcebíades Dias Magalhães, o folclórico Cidinho Bola-Nossa, um notório atleticano, e Willer Costa eram os nomes incluídos no sorteio. O zagueiro Juca, do Galo, é irmão dos villa-novenses Osório e Vaduca.

Quartas-de-Final do Campeonato Mineiro de 1997
Décadas depois de épicas decisões, Villa Nova e Atlético se viram diante de um enfrentamento eliminatório no Campeonato Mineiro de 1997. O Galo havia sido o primeiro colocado na Fase Classificatória do certame e o Leão do Bonfim conseguiu a sua qualificação a duríssimas penas num modesto 8º lugar. Era o confronto entre o melhor colocado e o pior, entre os oito finalistas do Mineiro. Mas, o Villa Nova não tomou conhecimento dessa desvantagem e venceu bem no Castor Cifuentes por 3x1. Depois, foi só administrar a vantagem no Mineirão e carimbar o passaporte às semifinais. O aguerrido Leão tombaria apenas na decisão diante do Cruzeiro.

Jogo de Ida – 18/05/1997 – domingo – 16h
Villa Nova 3x1 Atlético
Gols – Guiba ( 5’/2º), Marquinhos ( 30’/2º), Adão ( 35’ do 2º) (Villa) e Leandro Tavares ( 19’/1º) (Atlético)
Público – 4.488
Renda – R$47.475,00
Árbitro – Antônio Willian Gomes (MG)
Assistente 1 – Helberth Costa Andrade (MG)
Assistente 2 – Marco Antônio Martins (MG)
Cartão Amarelo – Geovane, Jean (Villa) – Leandro Tavares (Atlético)
Cartão Vermelho – Mário (Villa) – Doriva (Atlético)
Villa Nova: Cláudio Santos; Wilson Mineiro, Geovane, Eleomar (Cláudio Roberto) e Wander; Jean, Joca (Marquinhos), Guiba e Kal Baiano; Badico (Mário) e Adão. Técnico – Brandãozinho.
Atlético: Taffarel; Edgar, Luís Eduardo, Márcio Santos e Marcos Adriano; Doriva, Gutemberg, Marquinhos (Juninho Rodrigues) e Leandro Tavares; Euller e Evair (Valdeir). Técnico – Eduardo Amorim

Jogo de Volta – 25/05/1997 – 16h
Atlético 1x0 Villa Nova
Gol – Nilo ( 35’ do 2º)
Público – 25.337
Renda – R$123.841,00
Local – Estádio Governador Magalhães Pinto – Mineirão (Belo Horizonte-MG)
Árbitro – Marco Antônio Cunha (MG)
Assistente 1 – José Eugênio (MG)
Assistente 2 – Roberto da Silva Nasta (MG)
Cartão Amarelo – Marcos Adriano, Alex Oliveira (Atlético) – Wilson Mineiro, Cláudio Roberto, Wander, Jean, Joca, Kal Baiano, Adão (Villa)
Atlético: Taffarel; Marcos Adriano (Cairo), Luís Eduardo (Cláudio Caçapa), Márcio Santos e Dedê; Juninho Rodrigues, Gutemberg, Alex Oliveira (Nilo) e Leandro Tavares; Euller e Valdeir. Técnico – Eduardo Amorim
Villa Nova: Cláudio Santos; Wilson Mineiro, Cláudio Roberto, Eleomar e Wander (Alemão); Jean, Joca, Guiba, Marquinhos (Paulo César) e Kal Baiano; Adão (Carlinhos). Técnico – Brandãozinho.
*Wagner Augusto é Jornalista
Fonte: ALMANAQUE DO LEÃO DO BONFIM.

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