sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Futebol

Copa União 1987 e Clube dos 13 – A Linha do Tempo e do Dinheiro

por Mauro Beting*

Eu sei. É chato. Mas não acabou. Nem vai acabar.
É preciso ser ainda mais chato. Tentar mostrar a linha do tempo de quem perdeu a linha, mas não o dinheiro.

Tudo começa no início de 1986, quando Octávio Pinto Guimarães, ex-presidente da Federação do Rio, e Nabi Abi Chedid, ex-presidente da Federação Paulista, concorrem à presidência da CBF, em oposição a Medrado Dias, candidato apoiado por Giulite Coutinho, de elogiável atuação, entre 1980 e 1986. A disputa acirrada foi vencida pela oposição. Com uma jogada típica da parelha que assumiria (ou não) o comando (ou não) do futebol brasileiro. Como o estatuto da entidade previa, em caso de empate, a posse do candidato mais velho, o que daria vantagem a Medrado Dias, Nabi e Otávio inverteram a ordem da chapa horas antes da votação. O vice Octávio virou presidente. O presidente Nabi virou vice. E assim venceram. Sem, na prática, precisar da manobra. Ganharam por um voto. 13 a 12. Um voto foi anulado por estar rasurado.

E a trapalhada começou no dia da posse. Octávio não cedeu o comando do futebol totalmente como era previsto. Gostou do cargo, e não apenas das questões administrativas, financeiras e políticas. Nabi, raposa da política partidária, líder do PFL na Assembleia Legislativa paulista, estrilou, e começou a mandar do seu jeito. A duplicidade de poder ajudou a enxovalhar um futebol que perderia de vez o rumo no BR-86.

BRASILEIRÃO DE 1986
A confusão é ainda maior e mais chata que a da Copa União e da criação do Clube dos 13.

“Em 1986, a CBF conseguiu (des) organizar o mais bagunçado Campeonato da história (e isso, amigos, é um feito). Era um monstrengo com 80 clubes divididos em 8 grupos de 10 – quatro de elite, quatro menos votados. Classificavam-se para a segunda fase os sete primeiros dos quatro primeiros grupos (28 clubes) e mais os vencedores dos grupos inferiores (4). E, para temperar com ácido a feiúra deste rostinho, ali pelo fim da primeira fase uma decisão do STJD (ele já existia) deu ao Joinville pontos de um jogo contra o Sergipe (por causa de doping). O Vasco, eliminado por isso, entrou na justiça comum para cassar a decisão. E conseguiu.

Para evitar uma guerra de liminares, a CBF tentou desclassificar a Portuguesa, por conta de um problema com ingressos. Os clubes paulistas reagiram solidários e ameaçaram boicotar a segunda fase. A entidade máxima, pois, encontrou uma solução salomônico-genial: botar todo mundo pra dentro. A segunda fase passou a ter 33 times. O problema é que com número ímpar de equipes ficou difícil fazer a tabela. A saída foi convidar mais três equipes pela janela – Santa Cruz, Sobradinho e Náutico. Essa vergonhosa zona – no primeiro ano de uma polêmica nova gestão na CBF (a dupla Otávio Pinto Guimarães – Nabi Abi Chedid) – plantou a “revolução” do ano seguinte. No fim, o São Paulo foi campeão, derrotando o Guarani de Ricardo Rocha em Campinas e nos pênaltis. O América-RJ ficou em terceiro (depois de eliminar o Corinthians) e o Atlético-MG em quarto.

O detalhe a observar: antes do Campeonato, e por pressão dos clubes, o Conselho Nacional de Desportos (CND) e a CBF acertaram que 1986 seria “classificatório” para 1987. Dos 44 times dos módulos de “cima” do torneio – 24 seriam classificados para a primeira divisão do ano seguinte. A confusão jurídica implodiu essa combinação – e evitou que dois times grandes disputassem a segundona num suposto campeonato de 1987 (Botafogo e Coritiba).”

E TEM MAIS!!!
Não era só a bagunça no BR-86. Era um Brasil que se ensaiava diferente, depois da ditadura militar. A eleição indireta de Tancredo Neves, em janeiro de 1985, iniciava a Nova República. Não tão nova assim quando o ex-(para sempre) situacionista José Sarney assumiu o poder, com a morte do presidente que nem posse chegou a tomar, em 21 de abril de 1985. A eleição do Congresso constituinte, em novembro de 1986, botou tudo no caldeirão político. Era hora de reformar o país. O futebol, ainda atrelado ao Ministério da Educação via Conselho Nacional dos Desportos (CND), também era pauta do dia. E plataforma de votos.

Melhor explica o jornalista UBIRATAN LEAL:
“Enquanto a CBF estava à deriva, os clubes já se organizavam para fazerem valer seus interesses. No caso, a maior preocupação era fazer lobby para incluir na pauta da Assembleia Constituinte um artigo que lhes desse autonomia de organização e funcionamento. A campanha foi bem sucedida e a união de clubes ganhou força. Em abril de 1987, Flamengo e São Paulo se negaram a ceder seus jogadores para uma excursão da Seleção Brasileira à Europa e tiveram respaldo do CND. Márcio Braga, presidente do Flamengo na época, saiu da reunião que anulou a convocação da Seleção dizendo, triunfante, que era o “fim do autoritarismo no futebol brasileiro”.

Em junho de 1987, Octávio Pinto Guimarães anunciou: “a CBF não tem condições de organizar o Campeonato Brasileiro deste ano”. O motivo era a falta de dinheiro para arcar com as viagens dos times e outras despesas da competição. Sob o risco de ficar sem a competição que já era a mais importante do calendário, os grandes clubes resolveram tomar as rédeas da situação. “Liguei para o Nabi e perguntei se era sério o que o Octávio falava. Ele disse que era e ‘deu a bênção’ para que organizássemos o campeonato se quiséssemos”, conta Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo e do Clube dos 13″
http://www.balipodo.com.br/

Giulite Coutinho presidiu a CBF com notável correção de 1980 a 1986
Octávio Pinto Guimarães presidiu a CBF de 17 de janeiro de 1986 a 16 de janeiro de 1989
Ricardo Teixeira foi eleito presidente da CBF em 16 de janeiro de 1989
João Havelange presidiu a Fifa de 1974 a 1998

30/01/88 – Guarani x Sport se enfrentam no Brinco. Empate por 1 a 1. No mesmo horário deveriam jogar no Beira-Rio Inter x Flamengo, mas, na mesma hora, Flamengo estreava na Taça Guanabara, contra o Vasco, no Maracanã.

06/02/88 – Jogo de volta decisivo do quadrangular do BR-87. Ilha do Retiro. SBT transmitiu. Marco Antonio de cabeça aproveitou de cabeça um cruzamento do lateral Betão. 1 x 0 Sport. Campeão do quadrangular decisivo do BR-87. Campeão de direito do BR-87.

O time dirigido por Jair Picerni, que substituíra Emerson Leão, que deixara o clube em dezembro: Flávio; Betão, Estevam, Marco Antonio e Zé Carlos Macaé; Rogério, Ribamar e Zico; Robertinho, Nando e Neco.

O Guarani vice-campeão de direito: Sérgio Neri; Baiano (o titular Giba estava machucado), Luciano, Ricardo Rocha e Albéris; Nei, Paulo Isidoro e Marco Antonio Boiadeiro; Catatau, Evair (com hérnia de disco, atuou no sacrifício) e João Paulo.

LIBERTADORES-88 – Campeão e vice do quadrangular final do BR-87 (Copa União), Sport e Guarani foram os representantes brasileiros na Libertadores, que começou em julho.

COPA UNIÃO II ou BR-88 – Além dos 16 do Módulo Verde de 1987, os sete primeiros do Módulo Amarelo de 1987 (Sport, Guarani, Bangu, Atlético-PR, Criciúma, Vitória e Portuguesa) e mais o América carioca, convidado pela CBF, mesmo depois de ter desistido de participar do Módulo Amarelo em 1987.
*Mauro Beting é Jornalista

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