quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Os craques voltaram ou deixaram de ser craques?

por Erich Beting*
Primeiro foi Fred, depois Adriano, Ronaldo, Robinho e por aí vai. Nos dois últimos anos, tivemos uma sensação boa de que o futebol brasileiro passou a se organizar para fazer com que grandes jogadores voltassem a atuar pelo país, equilibrando um pouco a balança tão desigual em favor da Europa (principalmente) e de outros centros mais ricos da bola.
Mas será que são os craques que estão voltando ou então o futebol brasileiro deixou de ter tanto craque tipo exportação assim?
A situação econômica mundial e a própria qualidade técnica dos nossos jogadores ajudam a explicar um pouco esse fenômeno. Sim, o faturamento dos clubes de futebol do Brasil se aproxima, e muito, de diversos clubes europeus. Já começamos a colocar clubes entre os top 50 do mundo em faturamento, mesmo com uma moeda que, no mínimo, tem metade do valor da de lá. Isso já foi suficiente para acabar com o primeiro problema que tínhamos, que era a saída de muito jogador para locais mais distantes, que davam melhores condições para o atleta viver.
O Leste Europeu ou o Oriente Médio turbinado por bilionários do petróleo já não são destino certo de nossos jogadores mais jovens (com 17, 18 anos) ou um pouco mais velhos (acima de 25) como foi há meia década. Agora, o jogador pensa muito bem antes de sair do país e ir para qualquer lugar no exterior.
Mas, da mesma forma, a volta de atletas para o Brasil tem muito a ver com o interesse pelo jogador brasileiro lá fora. O atleta que se segura firme na Europa e não cogita voltar ao país está no auge das formas física e técnica. São casos, numa lembrança rápida, de Júlio César, Maicon, Lúcio, Luisão, David Luiz, Alex (Chelsea), Thiago Silva, Breno, Ramires, Lucas, Alexandre Pato, Kaká... A lista é vasta. O Brasil continua como o principal produtor de pé-de-obra para os gramados europeus, mesmo com os clubes europeus também se preocupando mais pela formação de atletas, como reflexo do sucesso do Barcelona e da seleção espanhola, formados, praticamentes, nas categorias de base do clube catalão.
A volta de grandes nomes como os citados no início do post tem, portanto, muito a ver com o desinteresse do mercado europeu em bancar altos salários para baixo rendimento dentro de campo. Há quanto tempo Adriano não joga bem na Europa? Ronaldinho Gaúcho não é mais aquele melhor do mundo desde quando? Como Robinho voltou ao país depois de ser encostado na reserva do Manchester City? O craque já não é tão craque assim.
A diferença é que, agora, o futebol brasileiro tem dinheiro para contratar esse atleta antes de ele encerrar a carreira. Antes, era improvável achar que um Ronaldo ou um Ronaldinho poderiam atuar no país com tantos milhões ganhos no exterior. Só que, aqui, há hoje chance de que esses milhões apareçam com algum patrocinador disposto a bancar a contratação desse jogador. Mesmo assim, alguns clubes ainda fazem loucuras financeiras para que o atleta regresse, mesmo sem ter a garantia técnica de que ele vá ter uma boa performance dentro de campo, algo que a Europa com menos dinheiro deixa de fazer.
Se conseguirmos, nos próximos anos, usar essa melhoria na vida econômica, turbinar ainda mais os ganhos do futebol (as receitas oriundas do torcedor ainda estão adormecidas na maioria dos clubes) e souber gerenciar melhor os campeonatos daqui, sem dúvida que poderemos reduzir sensivelmente a exportação de nosso pé-de-obra.
Os dois melhores termômetros para isso são Ganso e Neymar. Até quando vamos conseguir mantê-los em atividade no país? A volta de craques que inspiraram esses atletas é um bom motivo para eles quererem continuar por aqui. Pode ser o início de um ciclo virtuoso do futebol brasileiro. Mas, hoje, são os pseudo-craques, mas nomes de grande história em nosso futebol, que estão de volta ao Brasil.
*Erich Beting é Jornalista
Fonte: www.uol.com.br

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