terça-feira, 26 de outubro de 2010

Viaduto das Almas

Foram 53 anos e 267 dias e noites de um pesadelo que parecia não ter fim. Mas, nesta terça-feira, enfim o macabro Viaduto Vila Rica, mais conhecido como Viaduto das Almas, no km 592 da BR-040, em Itabirito, na Região Central, a 50 quilômetros de Belo Horizonte, será aposentado. Às 17h, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, inaugura o elevado Márcio Rocha Martins, que substitui a antiga estrutura, erguida em curva e que tragou pelo menos 200 vidas, segundo estimativa da Associação Brasileira dos Caminhoneiros, desde 1º de fevereiro de 1957, data de sua inauguração.


A saída de cena do Vila Rica é um alívio para os cerca de 15 mil motoristas e passageiros que arriscam a vida diariamente no trecho. Por outro lado, é exemplo de como o poder público gasta mal o dinheiro do contribuinte, pois a obra que salvará muitas vidas durou 12 anos para sair do papel: o primeiro projeto do empreendimento estava pronto desde 1998, mas a construção só começou em 2006. Para piorar, a inauguração foi adiada por seis vezes. O resultado foi o aumento do custo total da obra, que saltou de R$ 40 milhões para R$ 60,6 milhões.

A morosidade do governo federal em desativar o velho Vila Rica custou a vida de muitas pessoas. A maioria das tragédias foi causada pelo design do elevado, erguido em curva, a 30 metros do solo e com 260 metros de extensão por 9 metros de largura. O novo viaduto tem dimensões seguras: 21 metros de largura por 460 metros de comprimento. Sua principal vantagem é que foi costruído em linha reta. Além disso, tem área para escape e a mureta de proteção é bem maior que a do antigo.


O fazendeiro José Alves foi a primeira vítima do Viaduto das Almas, em 20 de julho de 1958. O agricultor, que morava em Entre Rios de Minas, na Região Central, dirigia uma caminhonete que foi empurrada para fora da ponte por um caminhão do Rio de Janeiro, e seu motoristas nem sequer parou para socorrer o mineiro.




José morreu durante uma viagem a BH, onde visitaria o pai internado em um hospital. Sua esposa, Maria da Paixão, estava grávida quando perdeu o marido. O desastre ocorreu no dia em que o casal completaria oito anos de casamento. Naquela manhã, a hoje viúva acordou bem cedo e informou ao companheiro que estava grávida. O fazendeiro, feliz com a notícia, deu um beijo na mulher e disse: “Será menina, se chamará Maria e terá olhos azuis”. Ele acertou, mas não teve chance de conhecer a filha. Maria de Lourdes não conheceu o pai. Hoje, a aposentada Maria de Lourdes, de 51 anos, vive das lembrandas de um pai que foa a primeira vítima do viaduto macabro.

O Viaduto das Almas foi entregue à população em 1957 pelo então presidente Juscelino Kubistchek (1902/1976) como parte da cerimônia de inauguração da BR-3, hoje 040. A rodovia era um marco para os mineiros, pois, além de ser a primeira estrada totalmente pavimentada do estado, ligava Belo Horizonte à capital da República, o Rio de Janeiro – Brasília só seria inaugurada em 1960. Por ironia, a obra foi considerada por muitos a mais charmosa da importante rodovia.



Mas, o bonito viaduto se transformou numa das maiores armadilhas da malha nacional. Em setembro de 1967, um ônibus da Cometa, que saíra do Rio, não conseguiu cruzá-lo: 14 pessoas morreram, entre elas a atriz Zelinha, da extinta TV Itacolomi. Em outubro de 1969, o maior desastre: outro ônibus da Cometa, que também havia deixado a Cidade Maravilhosa, derrubou a precária mureta de proteção, deu uma cambalhota no ar e caiu com as rodas para cima, matando o motorista e 29 passageiros. Em 1994, mais um ônibus despencou da ponte: 13 vidas perdidas.

Futuro incerto
O Dnit informou que repassará o antigo viaduto aos cuidados da União, que ainda não sabe o que fará com ele. A única certeza é que não será jogado ao chão, pois, abaixo dele, há o Riacho Monjolos, apelidado por nativos de Córrego das Almas, por causa de os moradores mais antigos acreditarem que a neblina que forma sobre o filete de água atraía almas penadas.

O apelido do córrego inspirou o governo federal, em 1957, a batizar o elevado como Viaduto das Almas. A ponte só ganhou o nome de Vila Rica em 1974.

Fonte: www.uai.com.br

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