domingo, 23 de agosto de 2009

No Interiorzão, até Faustão levou tapa na cara

Fauzi Kanso* As histórias sobre futebol e sofrimento dos elementos da crônica esportiva são enormes. Não existe um locutor que não tenha vivido momentos difíceis, para não dizer de pânico, em transmissões de futebol pelo nosso interiorzão paulista.Final dos anos 60, começo dos anos 70, nós da Rádio Cultura de Campinas, fomos à Bragança Paulista transmitir Bragantino e Ponte Preta. A rivalidade entre os dois times era muito grande e ninguém escapava das selvagerias de parte das torcidas de ambas as equipes. Rumo à Terra da Linguiça Como a viagem de Campinas à Bragança era curta, alugamos no Largo do Carmo o táxi do Baiano, um baixinho rechonchudo que tinha orgulho do seu reluzente DKW-Vemag. Com ele no volante, poucas horas antes do jogo seguimos para a “Terra da Lingüiça” onde, sabíamos, o clima não seria dos melhores. Fausto Silva, recém-chegado de Araras e que eu coloquei na equipe como repórter volante, já espaçoso na época, viajou no banco da frente junto ao Baiano. O Fausto, que virou Faustão, por conta de uma miopia usava óculos de grossas lentes, verdadeiros fundos de garrafas. Para chegar ao estádio tínhamos que passar por uma rua estreita com torcedores do Bragantino em ambos os lados. No banco de trás íamos eu, narrador; Zaiman de Brito, comentarista; e Antônio de Pádua Palhares, para montagem dos equipamentos. O Fausto, como disse, viajava no banco da frente muito à vontade, esparramado e com o braço direito sobre a porta que tinha o vidro abaixado. Era o seu primeiro trabalho e ele, claro, estava feliz e muito orgulhoso. Recepção "animal" Um torcedor, desses desclassificados que vão ao estádio só para arrumar encrencas, repentinamente, passou a mão no grosso braço do Fausto e deu-lhe um beliscão. Assustado, nosso repórter colocou o rosto para fora do carro, naturalmente, para dizer alguns impropérios mas, de repente, não mais que de repente, outro torcedor-animal, aproveitando-se do descuido e inocência do Faustão, deu-lhe uma tapa de raspão no rosto fazendo cair o óculo. Como todo covarde, o agressor saiu correndo. O carro que já andava quase parando em função do fluxo de pessoas, parou. Dele desci rapidamente para apanhar o óculo caído ao chão. No que desci do veículo, abriu-se um clarão com as pessoas recuadas, paradas e esperando alguma reação mais violenta de nossa parte. Foi ai que, por Deus, comecei a gritar: “Calma gente. Somos funcionários da Ensatur, empresa de ônibus do Nabi Chedid lá em Campinas, e vocês querendo nos trucidar... "A roda foi se dissipando rapidamente enquanto outros torcedores vieram para nos dar proteção até os portões de entrada. Após o início da transmissão alguém reconheceu o Fausto no gramado com o microfone na mão. Ah!, meus amigos, foi uma confusão infernal ! Ai sim foi necessária a intervenção do prórpio Nabi Chedid, em carne e osso, para podermos terminar a jornada esportiva e voltarmos vivos para Campinas. Foi nesse episódio que conhecemos o bordão famoso – até hoje - do Fausto: “PÔ, MEU! “- “O QUE É ISSO, MEU ?”, “VAI PRO INFERNO, Ô MEU !” Estou contando esta história para homenagear o Fausto Correa da Silva, que no final dos anos 60 veio para Campinas terminar o colégio (Culto à Ciência) e principiar o curso de Direito, na PUC-Campinas. Foi através da Rádio Cultura que ganhou dinheiro para ajudar nas despesas de estada e estudos e, através do seu enorme talento, ganhar os céus do mundo através da Rede Globo de Televisão. Olha só como é a vida: Todos os dias eu e o Fausto fazíamos nossas refeições no Restaurante do Arlindo, que ficava ao lado do Jockey, na Praça Antõnio Pompeu. Certo dia, num almoço, o Fausto me perguntou se eu conhecia algum país. ----O Paraguai e a Argentina, respondi. ----Meu sonho é ganhar muito dinheiro para conhecer o mundo, disse Fausto. Fausto sem ÃO Depois que abandonei a profissão e o Fausto, por méritos só dele, foi embora para São Paulo, nunca mais nos vimos. Sei que o sonho de conhecer o mundo ele já realizou, não só de avião como de navio também e, que foi a Itália o país que roubou parte do seu coração. Faço esse registro agora porque, como a imprensa noticiou, o Fausto fez uma cirurgia por problemas de saúde e que esta cirurgia vai lhe proporcionar uma perda de uns 30 quilos. Assim, o nosso querido Faustão que ganhou notabilidade em todo o Brasil, vai voltar a ser o nosso Fausto sem o ÃO. *Fauzi Kanso é Cronista Esportivo Fonte: www.futebolinterior.com.br

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