segunda-feira, 15 de junho de 2009

Avenida Rio Branco: 30 anos

Prestes a completar 30 anos, a triplicação da Avenida Rio Branco é considerada, ainda hoje, "o maior canteiro de obras que Juiz de Fora já viu". A via sustenta fluxo de 35 mil veículos por dia, é rota de ligação entre regiões opostas do município, abriga diferentes manifestações culturais, artísticas e políticas, e configura-se ainda como espaço vital para o comércio e a prestação de serviços ao longo de seus 6,4 quilômetros. A importância atribuída à Rio Branco é, em grande parte, fruto do audacioso projeto executado durante a administração do "prefeito atrevido", como o professor de História Francisco Antônio de Mello Reis era chamado por seus opositores. Ele comandou obras vitais para o desenvolvimento urbanístico da cidade, sem as quais o Centro de Juiz de Fora poderia estar hoje um caos. — O projeto de urbanização abrangia a cidade inteira. Envolveu não só a construção de três pistas na Rio Branco, como também a reestruturação de todo o transporte coletivo — afirma. Grandiosa, a obra urbanística foi executada em dois anos, entre 1980 e 1982, mas os projetos de infraestrutura necessários para a modificação da via foram iniciados quando Itamar Franco ainda era o prefeito, no início da década de 1970. Antes de triplicar a pista, foram construídas imensas galerias subterrâneas, necessárias para a captação de águas pluviais. De acordo com Mello Reis, sem a construção dessas redes, a água da chuva que desce pela encosta do Morro do Imperador inundaria a avenida, causando grande transtorno à população.
CONSULTORIA
Mas foi em meados de 1979 que o plano urbanístico tomou forma. Elaborado por uma empresa carioca, a Copavel, o projeto contou com influências de profissionais do mundo todo. Mello Reis esclarece que o planejamento viário, ao contrário do que se imagina, não foi influenciado por obras realizadas em Curitiba, capital do Paraná, famosa pela boa estrutura no transporte coletivo. Na verdade, contou com consultoria internacional de profissionais da Austrália e Nova Zelândia. Empresas europeias também participaram. O calçamento dos passeios ao longo dos quatro quilômetros centrais e do Parque Halfeld, feito com pedras portuguesas, foi executado por firma espanhola. Já a iluminação e o cabeamento subterrâneo, compostos por postes equipados com motor para realizar a troca de lâmpadas, foram executados por empresa da Alemanha. Os brasileiros também deram contribuíram. O paisagista paulista Roberto Burle Marx foi responsável pelos canteiros centrais da avenida, hoje bem diferentes dos originais. A arquiteta Rosa Grena Kliass, também paulista, projetou a reformulação do Parque Halfeld, inaugurada seis meses antes da obra da avenida, em 1981. As sinalizações vertical e horizontal ficaram por conta da extinta Empresa Brasileira de Transporte Urbano (EBTU), órgão vinculado ao Governo federal, que financiou a instalação.
MERGULHÃO Cerca de dois mil trabalhadores estiveram no canteiro de obras durante os dois anos da construção. O projeto do Mergulhão e da ponte do Manoel Honório foram os símbolos da reestruturação no trânsito. — Na época, a Rede Ferroviária Federal iria decidir sobre a eletrificação dos trens e, com isso, precisaríamos construir um viaduto muito alto, com altura mínima de sete metros. Sugeri, então, que fizessem um mergulho sob os trilhos e acabou pegando o nome Mergulhão — conta Mello Reis. O alargamento da ponte Pedro Marques de Almeida, que possuía apenas duas pistas simples e limitava o fluxo de veículos para o Manoel Honório, liberou o acesso para a garganta do Dilermando, facilitando o tráfego para os bairros da região Nordeste.
TRANSPORTE COLETIVO Secretário de Transportes da época, José Alberto Bedendo lembra que a construção da pista central da Rio Branco foi projetada especialmente para abrigar o novo sistema de transporte coletivo. As 28 empresas existentes foram unidas nas sete atuais, dividindo a oferta do serviço por regiões. Além disso, foi implantada a tarifa única de passagem, para a população da periferia. Hoje, segundo o ex-secretário, uma passagem do Centro para Benfica poderia ficar em R$ 4. Mello Reis afirma que a Rio Branco atual "precisa de uma reforma geral". Ele diz que o projeto de quase três décadas era para ter vida útil de 20 anos, motivo pelo qual está hoje saturado. Eventuais intervenções, no entanto, só devem acontecer depois da implantação do novo modelo de operação do transporte coletivo, cujo processo de licitação está em estudo na Prefeitura.
*Joarle Magalhães é Jornalista

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