domingo, 31 de maio de 2009

Enquanto isso, o povo continua Esperando Godot

Geraldo Muanis*
Em outubro de 1988, Juiz de Fora vivia os últimos meses da administração Todos Juntos, do prefeito Tarcísio Delgado.
O tradicionalismo político seria quebrado com a inimaginável vitória do radialista Alberto Bejani para reger os destinos do município, um golpe até hoje não bem digerido por quem semprese julgou o dono do terreiro e da consciência do eleitor. Os quatro anos - 89 a 92 - que se seguiram, ditos "Do Povo para o Povo", foram no melhor estilo arrasa-quarteirão. A Prefeitura funcionava na esquina de Avenida Rio Branco com Rua Halfeld. Ao lado, estava a Câmara dos Vereadores, onde a tropa de choque bejanista se engalfinhava contra um bloco de esquerda de quatro ou cinco gatos pingados. A aldeia virou um reduto collorido, com assistencialismo barato e populismo.
Bejani ainda estava casado com a vereadora Márcia Bejani e as denúncias contra um e outro se sucediam. Os escândalos reverberavam pelos corredores da Casa Legislativa e do Paço Municipal e atroca de secretários se assemelhava ao movimento de motel de beira de estrada. No final da administração, a nau bejanista afundava e alinhados de primeira hora saíam atirando parasalvar a própria pele. Como ratos no porão do navio.
Nas eleições que se seguiram, Custódio Mattos (93 a 96) trouxe a estrela reluzente da Mercedes com um mar de promessas e desenvolvimento. E um bando de tucanos com o bico empinadopara mostrar que chegara a hora do caviar, embora o populachotivesse que se contentar mesmo era com jiló.Tarcísio Delgado retornou em 97 e manteve a hegemonia política até 2004, já no antigo prédio da Rede, na Avenida Brasil.
O cansaço com os políticos e a política trouxe Bejani devolta para os braços do povo, em 2005. Agora, ladeado porVanessa Loçasso. No ano passado, acusado de desvio dedinheiro público destinado ao Fundo de Participação dos Municípios e de cobrar propina de empresários para autorizar o aumento da passagem de ônibus da cidade, Bejani passou uma temporada na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem.
No dia 16 de junho, renunciou para não perder os direitospolíticos. José Eduardo Araújo terminou o mandato e passou obastão para Custódio, que retornou com a missão de devolver amoralidade à administração e recuperar a imagem de JF. Enquanto isso, o povo continua que nem os personagens de Samuel Beckett: Esperando Godot.
De promessa em promessa, Juiz de Fora reafirma sua vocação de cidade-enceradeira, aquela que dávoltas e nunca sai do lugar.
*Geraldo Muanis é Jornalista e Historiador

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