sexta-feira, 1 de maio de 2009

Ayrton Senna: 15 anos de saudade

Em 1º de maio de 1994, o Brasil chorou a morte de um dos seus maiores ídolos e a Fórmula 1 perdia o mais arrojado e brilhante piloto de todos os tempos Rodrigo Gini*

Há exatos 15 anos, a curva de Tamburello, no circuito de Imola, próximo a Bolonha (Itália), tirava a vida do homem, mas fazia nascer o mito. Para quem, naquele triste 1º de maio de 1994, estava pelo menos terminando a infância, as imagens ainda ecoam, fortes, como se todo este tempo não tivesse passado. Começo da 7ª volta do GP de San Marino, prova que já havia sido marcada pelo grave acidente com Rubens Barrichello (Jordan) nos treinos de sexta-feira, e pela morte do austríaco Roland Ratzenberger (Simtek) no sábado.

A câmera instalada na Benetton de Michael Schumacher mostra, pouco à frente, a Williams de número 2 que, sem aviso, não consegue fazer a curva à esquerda e segue reta. O impacto, violento, desintegra o carro, que para, inerte, na área de escape. As equipes de resgate se aproximam e os rostos tensos revelam a gravidade do choque. O capacete imóvel apenas reforça o temor. Levado ao Hospital Maggiore, Ayrton Senna da Silva não resiste às tentativas de reanimação e, às 13h40 (de Brasília), o pior se confirma. Um longo processo conduzido pela Justiça italiana mostrou que a causa da batida foi a quebra da barra de direção do FW14, cuja espessura teria sido reduzida a pedido do piloto. Trágica coincidência, o braço dianteiro direito de suspensão do carro perfurou justamente a viseira, que não ofereceu qualquer resistência. Quem acompanhou os últimos momentos do brasileiro nos boxes viu um piloto preocupado, temeroso, bem diferente do Ayrton motivado, concentrado; do tricampeão que, encerrado o ciclo na McLaren, foi buscar no time de Frank Williams um novo desafio. Com o carro campeão nos dois anos anteriores, queria chegar ao quarto título. Mas a temporada não havia começado bem. Líder por 21 voltas em Interlagos, rodou ao tentar recuperar a primeira posição, então com Schumacher. Em Okayama (GP do Pacífico), novo acidente e nenhum ponto. As milhões de pessoas que lotaram as ruas de São Paulo para o último adeus e as palavras de respeito e admiração dos mais ferrenhos rivais, como Alain Prost e Nigel Mansell apenas ajudaram a dar a dimensão dos feitos deste paulista que hoje teria 49 anos, para quem substantivos como determinação, garra e vitória possuíam significado quase transcendental. O piloto que disse ver Deus na volta que lhe deu a pole do GP de Mônaco de 1988 e, no dia seguinte, jogou fora a primeira posição ao bater na entrada do túnel. Que, na chuva de Donington, no GP da Europa de 1993, protagonizou a mais impressionante primeira volta do automobilismo mundial e venceu depois de sete pitstops. Que, nos últimos momentos dos treinos oficiais, era praticamente imbatível. Foi campeão pela primeira vez com uma corrida antológica em Suzuka: caiu para 16º na largada, recuperou uma a uma as posições até superar Prost. No ano seguinte, tentou na mesma pista uma manobra desesperada para superar o companheiro de equipe. A batida tirou o francês da corrida, mas não Senna, que voltou, recuperou as posições perdidas e levaria a decisão para a Austrália, não tivesse sido desclassificado pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), à época comandada por Jean-Marie Balestre. E, ao seu modo, se vingou em 1990, forçando o abandono de Prost, então na Ferrari, em um toque na largada. Um Senna que, depois de tentar por sete anos, finalmente conseguiu, em 1991, triunfar em casa, e desfilar, aos olhos do público que lotou Interlagos, com a bandeira verde-e-amarela. Uma a uma (com exceção da sexta) as marchas de sua McLaren Honda ficavam pelo caminho, enquanto Riccardo Patrese se aproximava. Somente depois o mundo teria noção do verdadeiro feito. E que, dois anos depois, com uma McLaren Ford que sequer conseguia rivalizar com as Williams Renault de Prost e Damon Hill, repetiu a façanha. Quem sabe onde pararia uma carreira encerrada bruscamente com 65 poles, 41 vitórias e três títulos mundiais? Qual seria o desfecho dos duelos épicos com o então novato Michael Schumacher? Veríamos Senna pilotando uma Ferrari e desafiando o jejum de títulos do time italiano? Perguntas que infelizmente ficaram sem resposta há exatos 15 anos. A vida do homem Ayrton Senna da Silva pode ter chegado ao fim naquele 1º de maio, mas, onde quer que haja um autódromo, um fã do automobilismo ou alguém capaz de se emocionar com as vitórias das manhãs de domingo, a imagem daquele capacete com as cores brasileiras segue mais forte do que nunca. *Rodrigo Gini é Jornalista Fonte: www.uai.com.br

Nenhum comentário: