quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Abominável Dia da Mentira

Nicanor Pereira O sol já desponta no horizonte, seus dourados raios começam a desfazer a escuridão da noite. É primeiro de abril. O dia da mentira. — Ah! Que mentira! — São iguais os dias de minha vida, multiplicam-se num refluir constante; nada de novo ou excepcional, somente o desejo de viver, de sonhar, de prosperar e de amar, pois a vida é uma verdade. Assim como é verdade que nosso gigantesco Brasil é o fértil canteiro do folclore, das lendas e dos mitos, dentre os quais borbulham o saci pererê, o curupira, o boi tatá, o lobisomem, a mula sem cabeça e outros genuinamente brasileiros. Alguns há que, importados, são, por vezes, adaptados à nossa cultura, como o é dia das bruxas. Porém, a sua grande maioria projetados e institucionalizados com selo Made in Brazil. Isto tudo fruto de nossa miscigenação cultural, ou talvez, a bem da verdade, pela nossa incontestável falta de cultura. Vem daí este folclore intitulado o dia da mentira, de origem alienígena exuberantemente aclimatado em nossas plagas. Este folclore, até há algum tempo cultuado e praticado com entusiasmo por nossa gente, teria sido originário da França. Diz-se ter nascido pela substituição do calendário Juliano pelo Gregoriano, no ano de 1564. Aquele, que tinha como primeiro dia do ano o primeiro de abril que, por decreto do rei Carlos IX, deixou de ser utilizado, entrando em seu lugar o calendário Gregoriano, que estabelecia o início do ano como o primeiro de janeiro. A França, assim como toda a Europa no século XVI, tinha alta deficiência nos meios de comunicação, o que teria facilitado o surgimento da prática da mentira, como forma de escárnio. As pessoas, desavisadas, especialmente das regiões rurais, comemoravam com a troca de presentes aquela alvissareira data, que, então, passavam a ser ridicularizadas pelos mais informados, dando, assim, início à prática do “Poisson d’Avril” (peixe de abril). Um recorte de papel, em formato de peixe, era colado às costas dos que “caiam” em tal engodo. Importante notar que esta prática felizmente vem caindo em desuso, mercê da aculturação de nossos patrícios, hoje aquinhoados por crescentes meios de informação, embora muito aquém do ideal. Como disse, felizmente este nefando hábito de mentir no primeiro dia de abril vem deixando de ser considerado por cada vez maior número de brasileiros. Nefando porque a mentira, seja qual for o seu propósito carrega em si o lado negativo das coisas. A ela está associada a traição, o engano, a perfídia, a desonestidade, a hipocrisia, o engodo e outros tantos conceitos negativistas, induzindo à falta de caráter, de amoralidades e à ausência da ética. A mentira é abominada pelos cristãos, baseados nas informações de Jesus Cristo que a atribui como filha do Diabo, quando contestava com judeus que intentavam matá-Lo (Jo 8:44). Já, o apóstolo São Paulo, em exortando os fiéis à santidade dizia: “...deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros.’ (Efésios 4:25). Já, entre os muçulmanos, é também execrada pelas citações do Alcorão, pois Maomé teria dito aos seus súditos: “Ai do crente que conta uma mentira para fazer os outros rirem. Ai dele. Ai dele.”

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