quinta-feira, 2 de abril de 2009

A irritada vida de Adílson no Cruzeiro

Adilson Baptista. 41 anos. Técnico do Cruzeiro. Mesmo disputando bem demais a Libertadores e o Campeonato Mineiro, ele está insatisfeito. Não importa não ter perdido nenhuma partida em 2009. Adilson está incomodado. O motivo: a imprensa. "Eu fui jogador de time grande, fiz estágios, estudei, peguei time pequeno, cresci, cheguei ao Cruzeiro.
E é duro ver meninos falando bobagens no microfone, criticar seu trabalho sem ter a menor noção do que diz. Eu dou treino na Toca da Raposa e a grande maioria dos jornalistas fica lanchando e conversando. E depois ainda tem coragem de comentar o que não viu. Isso me irrita muito", desabafou hoje ao blog.
Adílson: tanta coisa boa para falar do seu time e você quer reclamar dos jornalistas... Ah, eu estou cheio de bobagens. Técnico passa por coisa que ninguém pode imaginar. É pressão de todo o lado, responsabilidade, estudo, noite sem dormir, viagens que ninguém sabe para ver adversários. Comandar um grupo. Ser cobrado pela diretoria. Tudo isso para vir um menininho de 18 anos, ganhando R$ 500,00, falar um monte de bobagens na rádio. Nada quanto ao salário baixo, mas pela falta de experiência do garoto, que beira a irresponsabilidade de quem o colocou lá. Milhões de pessoas que escutam, não têm a menor idéia das bobagens que estão ouvindo.
Por que você teve tanto problemas com a imprensa que pensou em abandonar o Cruzeiro?
Eu não nego. Digo a verdade. Cheguei no Zezé Perrella em janeiro e falei que iria embora para deixar o clima mais leve.
Ele não quis que eu saísse. De jeito nenhum. Eu fiquei no meio de um tiroteio. O Oswaldo de Oliveira tinha processado um repórter da rádio Itatiaia (emissora fortíssima em esportes em Belo Horizonte. Ganhou R$ 12 mil. O meu jogador Wagner processou outro jornalista porque o chamou de 'Cabeça de Alface'. A imprensa começou a me atingir para atingir o clube, a diretoria do Cruzeiro. Isso vale até hoje. A campanha na Libertadores é ótima. No Campeonato Mineiro também. Mas isso não interessa. O bom é fazer tudo para abalar o ambiente, mexer com o grupo. Só que eu não vou deixar. Eu enfrento. Não tenho medo, não.
Adílson, você não vê o desgaste da situação? Eu não nasci ontem no futebol. O que eu posso fazer se lido com maldade? No ano passado não tinha peças de reposição a altura dos titulares. Quando tinha de mudar o time era massacrado. Mas ninguém queria ver que os jogadores no banco estavam bem abaixo de quem saía. Fizeram campanha contra mim. Até hoje, isso continua. Ganhamos em Sucre. Mas nove de dez perguntas foram feitas para falar sobre a expulsão do Kléber.
Hoje querem mais é tumultuar, bagunçar para vender jornal. Falar sobre tática ninguém fala. Até porque a imprensa de um modo geral não entende de futebol, não entende o que faz. Isso reflete na torcida. O torcedor não tem confiança no time, no técnico, por causa de pessoas que não sabem o que estão falando.
Onde isso vai parar? Não sei. O que sei é que o meu time, meus jogadores precisam se concentrar em ganhar partidas e não ficar dando explicações para a imprensa a toda hora. Eu assumo esse papel. Não tenho assessor de imprensa. Estou enfrentando quem pretende atrapalhar o trabalho. Aprendi a ser assim. Não escondo nada. Assumi o Grêmio muito novo, o time quase caindo e o Danrlei e outros jogadores dando festa. Afastei todo mundo. Já tirei Edmundo, já mandei embora Anderson Lima de treino. Não tenho medo de ninguém. Quem precisar enfrentar, eu vou enfrentar para o meu time dar resultado. Já foi assim no Figueirense, no Avaí, no Mogi Mirim, no Grêmio ou no Japão. Fui para lá, peguei o Jubilo Iwata em 11º e levei ao quinto lugar. Um grupo horroroso. Eu falei para a diretoria que tinha de mandar todos embora, quando eu quis sair.
Não me ouviram e o time quase foi rebaixado.
Você acha que o Cruzeiro tem time para ganhar a Libertadores? Falei para os meus jogadores que existem seis equipes favoritas. Não vou falar quais são. Nós estamos entre elas. Temos tudo para brigar pelo título. Mantive a mesma base de 2008. O time está mais vivido, experiente, sabe o que quer. E o que não pode fazer. Um detalhe mal calculado pode colocar a Libertadores a perder. Entre as seis favoritas, vou dar um exemplo que você vai entender. A Libertadores está bem próxima de acabar para uma delas no dia 8 de abril. Na primeira fase da competição. (Neste dia jogam Sport Recife e Palmeiras na Ilha do Retiro. Se o Palmeiras perder está fora.)
Três jogadores são fundamentais ao Cruzeiro. Como estão Kléber, Sorín e Ramirez? O Kléber foi expulso duas vezes, foi multado. Mas está consciente da sua importância ao time. Ele tem muita garra, muita vontade de ganhar. Reconheceu para mim que estava exagerando. Eu confio nele. Não há mais problema. O Sorín ficou muito tempo parado, contundido. Ele está trazendo experiência ao time. Não estando machucado, ele me ajuda muito. Já o Ramirez não tem problema algum. Soube que um empresário (Giuliano Bertolucci) comprou 30% dos seus direitos federativos. Mas a direção do Cruzeiro me garantiu que ele não será vendido no meio do ano. Então, eu confio na sua cabeça. Na sua personalidade.
O Campeonato Mineiro pode te atrapalhar na Libertadores? Eu sou transparente. Se tiver as finais do Mineiro e a chance de chegar às semifinais da Libertadores da América, eu não penso duas vezes. E poupo os titulares no Campeonato Mineiro. Assim, sem esconder nada de ninguém. A Libertadores é muito mais importante para mim, para a diretoria, para o torcedor. E a imprensa pode dizer o que quiser. Não estou no Cruzeiro para brigar apenas pela rivalidade com o Atlético Mineiro como muito jornalista quer. Eu desejo muito mais para o clube do que o campeonato estadual. As pessoas precisam aprender a pensar grande na vida.

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