quarta-feira, 25 de março de 2009

Taça Brasil e Robertão

Mauro Beting* Taça Brasil (1959-1968) é a mãe da Copa do Brasil - um torneio eliminatório, com representantes de quase todo o país; o Robertão (1967-70) é o pai do Brasileirão - um campeonato de fato, quase sempre com regulamentos discutíveis, clubes igualmente convidados, mas, de um modo geral, com os melhores do país, na época de ouro do futebol brasileiro. Por mim, o campeão do Robertão é tão campeão brasileiro quanto qualquer outro a partir de 1971. O campeão da Taça Brasil é tão campeão como qualquer campeão da Copa do Brasil a partir de 1989. Mas embora entendendo que não houvesse outro torneio de caráter nacional até 1967; embora a Taça Brasil concedesse vaga para a Libertadores da América (disputada a partir de 1960), ainda não considero Taça Brasil e Robertão o mesmo tipo de torneio. O que não desmerece todos os campeões a partir de 1959. Nem tira o significado histórico e esportivo de cada conquista. (Pode me chamar de filho daquilo. Só não xingue meu pai, que só não apresentou o evento dos clubes pleiteantes no Palestra Itália por compromissos profissionais previamente assumidos: diferentemente do filho que vos escreve, Joelmir Beting entende que todos os campeões da Taça Brasil e Robertão também são “campeões brasileiros”, como pretendem Santos, Palmeiras, Cruzeiro, Fluminense, Botafogo e Bahia). O Palmeiras, campeão da segunda Taça Brasil, jogou só quatro vezes (contra Fluminense e Fortaleza) e foi para a Libertadores-61. O Cruzeiro-66 fez apenas seis jogos e foi campeão – o que não tira mérito desses vencedores, mas apenas contextualiza as diferenças entre os campeonatos. O Santos, por exemplo, no brilhante pentacampeonato da Taça Brasil, só uma vez entrou nas quartas-de-final. Todas as demais, como representante paulista e/ou campeão do ano anterior, só jogou a partir das semifinais – o que não mudaria nada: se entrasse antes, possivelmente venceria todos os rivais, do jeito que Pelé e companhia ilimitada quisessem. Dos cinco canecos alvinegros, três foram invictos. O Santos chegou a ficar 16 jogos sem derrota no torneio. Quando não foi (penta)campeão, foi duas vezes vice, em 1959 e 1966. Só não jogou todos os torneios porque o Palmeiras ganhou dois estaduais, e, em 1968, nenhum paulista disputou a esvaziada Taça Brasil. Jogar pouco não tira o mérito de ninguém. E jogar muito só aumenta a façanha: o Bahia-59, por exemplo, fez 14 jogos, playoffs incluídos, e venceu o enorme Santos de Pelé. Mérito total para a equipe de Nadinho, Alencar e Biriba. Um dos maiores campeões da história dos torneios nacionais. O grande vencedor do Brasil em 1959. Mas, para mim, não é campeão brasileiro como o Bahia-88. Por mais que se possa discutir aquele torneio, e tantos outros com regulamento absurdos, desde 1971.Em 1967, quando começou o Robertão, ainda existia a Taça Brasil. Em 1968, último ano dela, o Botafogo foi campeão de um torneio já esvaziado, sem a presença dos paulistas. Eles preferiram jogar o Robertão, o pai legítimo, DNA reconhecido do Brasileirão. A Taça Brasil foi importantíssima para colocar no mapa brasileiro times de vários estados. Foram 80 clubes ao todo que a disputaram. Mas alguns grandes jamais atuaram no torneio, reservado apenas aos campeões estaduais. Gigantes como São Paulo e Corinthians, que viviam longo jejum, nunca participaram da Taça Brasil. Era um torneio muito semelhante à Copa do Brasil. Mas era uma disputa regionalizada: apenas nas fases finais equipes do Norte-Nordeste enfrentavam rivais do Sul-Sudeste e Centro-Oeste. O clube que mais participou da competição foi o Grêmio (9 dos 10 torneios – o Inter só jogou em 1962). O maior aproveitamento de pontos foi do Santos (72%). A turma de Pelé foi quem mais venceu (64%), teve a melhor média de gols (2,9), o maior saldo de gols (53). O Torneio Roberto Gomes Pedrosa foi o primeiro disputado em grupos, em ida e volta, e com caráter de campeonato, não de copa. No primeiro ano, foram os 15 principais clubes de cinco estados mais poderosos da CBD; de 1968 a 1970, foram 17 equipes de sete estados. Ao todo, 22 clubes participaram, de 1967 a 1970. O Palmeiras foi o maior campeão (duas vezes), o clube que mais pontos conquistou (104), o que mais venceu (41 jogos), o melhor aproveitamento de pontos (67%), o melhor ataque (118 gols), o melhor saldo de gols (45), e teve a terceira melhor média de gols sofridos (o Grêmio foi mais eficiente defensivamente, com 0,9 por jogo). Em 1967, 15 clubes de cinco estados disputaram o Robertão vencido pelo Palmeiras; em 1968, o Santos foi o primeiro entre 17 clubes de sete estados, divididos em dois grupos; em 1969, o Palmeiras voltaria a ser o melhor de um campeonato com o mesmo número de clubes e estados participantes; em 1970, com os mesmos números e regulamento de 1969 e 1968, o campeão foi o Fluminense. Se Santos (campeão da Taça Brasil de 1961 a 1965), Palmeiras (campeão em 1960 e 1967), Bahia (1959) e Botafogo (1968) querem ser campeões “brasileiros” daquelas temporadas, o Criciúma-91 e o Juventude-99 também são campeões “brasileiros”, como vencedores da Copa do Brasil. Nesta modesta opinião, não são. Não foram. Pode ser um preciosismo de minha parte, um exagerado apego ao rigor dos fatos (dentro da minha ótica com 7 graus de miopia). Mas é apenas mais uma opinião. Que, dentro do possível, tenta não ser clubista e bairrista e revisionista. Ressalvas feitas para a Taça Brasil, o Robertão, para mim, é outra história. Mais rica: o Palmeiras campeão do Robertão (em 1967 e 69), o Santos (1968) e o Fluminense (1970) podem se dizer campeões brasileiros. De fato, de direito, de história. A Taça Brasil apontava o campeão do Brasil, o campeão nacional, o representante brasileiro na Libertadores. Mas não pode e não deve se equiparar ao Robertão e ao Brasileirão. São tipos de campeonatos distintos. A Taça Brasil só foi ter algo além do mata-mata nas duas últimas edições, com grupos nas fases preliminares. E quando já dividia o calendário com o Robertão.Por casuísmo, já tivemos duplicidade de campeões em outros anos, como em 1987, quando Flamengo foi o campeão brasileiro de fato, e o Sport, de direito (ou o da CBF, reconhecido pela Conmebol).Os campeões do Robertão podem e devem ser campeões brasileiros reconhecidos pela CBF, Fifa, Liga da Justiça, quem mais quiser. Mas, os da Taça Brasil, para este humilde escriba, não.E já respondendo a vários questionamentos feitos: 1. Não é desmerecer a Taça Brasil, muito menos seus campeões. 2. Bahia, Santos, Palmeiras, Cruzeiro e Botafogo tinham equipes para ganhar tudo que disputassem. Foi o maior Bahia de todos os tempos, o maior Santos da riquíssima antologia (para não dizer o maior time da história na primeira metade dos anos 60), foi o melhor Cruzeiro desde a fundação, um dos melhores Botafogo e Palmeiras de todos os tempos e campos. Como o Flamengo da metade dos anos 50, o Expresso da Vitória vascaíno dos anos 40-50, o Rolo Compressor colorado, a Máquina do São Paulo dos anos 40, o Corinthians do início dos anos 50. Enormes times que não foram “campeõess nacionais” por falta de um torneio. O que não tira o mérito de nenhum deles. Até porque a bola os reconhece como gigantescos campeões de todos os tempos e campos. Que não precisam de chancela de uma entidade que não dá pelota para a própria história. Ou a reescreve a partir de conveniências, não convivências. *Mauro Betting é Jornalista

3 comentários:

Fernando disse...

Santos e Palmeiras serão os maniores vencedores...
Pelo menos teremos mais 1!
hehehehehe

roberto disse...

MAURO, BOA TARDE. BASEADO EM SEUS ARGUMENTOS, OS QUAIS RESPEITO MAS NÃO CONCORDO, PODEMOS CONCLUIR O SEGUINTE:
DAS 25 CONQUISTAS DE CAMPEONATOS PAULISTAS DO CORINTHIANS, O TIMÃO DEVERIA DESCONSIDERAR PELO MENOS UNS 5, POIS FOI CAMPEÃO JUNTO COM OUTRAS EQUIPES E EM UMA ÉPOCA QUE HAVIAM 2 ENTIDADES COMANDANDO O FUTEBOL PAULISTA.
A CBF DEVERIA DEVOLVER A JULES RIMET Á FIFA, E A SELEÇÃO BRASILEIRA SE CONSIDERAR BI CAMPEÃ DO MUNDO POIS A PRÓPRIA COPA DO MUNDO, NOS SEUS PRIMÓRDIOS, TEVE VARIAS FORMAS DE DISPUTAS, TIMES CAMPEÕES QUE JOGARAM 5 PARTIDAS, SELEÇÕES QUE COMPRARAM A COPA COMO INGLATERRA, ARGENTINA E FRANÇA.
ALÉM DISSO, DENTRO DA SUA ÓTICA, O MUNDIAL DE CLUBES DEVERIA SER DISPUTADO POR TODOS OS CAMPEÕES NACIONAIS DE TODOS OS PAISES JÁ QUE O MUNDIAL DISPUTADO ATÉ 79 ERA EM DUAS PARTIDAS, A PARTIR DE 1980, UMA PARTIDA SÓ, EM 2000 TEVE O BOCA CAMPEÃO NO FINAL DO ANO E O CORINTHIANS EM UM TORNEIO NO BRASIL QUE FOI CONSIDERADO MUNDIAL DE CLUBES. OUTRO DETALHE: A FIFA RECONHECE O CAMPEÃO DA TAÇA BRASIL COMO CAMPEÃO BRASILEIRO, BASTA IR AO SITE DA ENTIDADE.
POR ÚLTIMO: A IMPRENSA ESPORTIVA SEMPRE COBROU OS CLUBES BRASILEIROS POR NÃO PRESERVAREM E RECUPERAREM SUA HISTÓRIA. NO MOMENTO QUE ISSO ACONTECE, CHOVEM CRITICAS E COMENTÃRIOS NEGATIVISTAS. SERÁ PORQUE O CORINTHIANS OU O FLAMENGO NÃO GANHARAM NADA NESSA ÉPOCA?
SEM MAIS, OBRIGADO
ROBERTO DIAS ALVARES
roberto.alvares.brasil@gmail.com

roberto disse...

MAURO, BOA TARDE. BASEADO EM SEUS ARGUMENTOS, OS QUAIS RESPEITO MAS NÃO CONCORDO, PODEMOS CONCLUIR O SEGUINTE:
DAS 25 CONQUISTAS DE CAMPEONATOS PAULISTAS DO CORINTHIANS, O TIMÃO DEVERIA DESCONSIDERAR PELO MENOS UNS 5, POIS FOI CAMPEÃO JUNTO COM OUTRAS EQUIPES E EM UMA ÉPOCA QUE HAVIAM 2 ENTIDADES COMANDANDO O FUTEBOL PAULISTA.
A CBF DEVERIA DEVOLVER A JULES RIMET Á FIFA, E A SELEÇÃO BRASILEIRA SE CONSIDERAR BI CAMPEÃ DO MUNDO POIS A PRÓPRIA COPA DO MUNDO, NOS SEUS PRIMÓRDIOS, TEVE VARIAS FORMAS DE DISPUTAS, TIMES CAMPEÕES QUE JOGARAM 5 PARTIDAS, SELEÇÕES QUE COMPRARAM A COPA COMO INGLATERRA, ARGENTINA E FRANÇA.
ALÉM DISSO, DENTRO DA SUA ÓTICA, O MUNDIAL DE CLUBES DEVERIA SER DISPUTADO POR TODOS OS CAMPEÕES NACIONAIS DE TODOS OS PAISES JÁ QUE O MUNDIAL DISPUTADO ATÉ 79 ERA EM DUAS PARTIDAS, A PARTIR DE 1980, UMA PARTIDA SÓ, EM 2000 TEVE O BOCA CAMPEÃO NO FINAL DO ANO E O CORINTHIANS EM UM TORNEIO NO BRASIL QUE FOI CONSIDERADO MUNDIAL DE CLUBES. OUTRO DETALHE: A FIFA RECONHECE O CAMPEÃO DA TAÇA BRASIL COMO CAMPEÃO BRASILEIRO, BASTA IR AO SITE DA ENTIDADE.
POR ÚLTIMO: A IMPRENSA ESPORTIVA SEMPRE COBROU OS CLUBES BRASILEIROS POR NÃO PRESERVAREM E RECUPERAREM SUA HISTÓRIA. NO MOMENTO QUE ISSO ACONTECE, CHOVEM CRITICAS E COMENTÃRIOS NEGATIVISTAS. SERÁ PORQUE O CORINTHIANS OU O FLAMENGO NÃO GANHARAM NADA NESSA ÉPOCA?
SEM MAIS, OBRIGADO
ROBERTO DIAS ALVARES
roberto.alvares.brasil@gmail.com