sábado, 21 de fevereiro de 2009

O MARACANÃ E A INDÚSTRIA DO FUTEBOL

Eduardo Sá*
O Maracanã desde sua criação é muito freqüentado pelo público carioca. Em 1950, quando foi construído, em algumas partidas chegava a quase 200.000 pessoas os que iam ao seu espetáculo. Muitos dos que viveram essa época ficam espantados ao verem a violência que paira nos estádios hoje, já que apesar de bem mais cheios tinham menos conflitos antigamente.
Meio século depois o Maracanã acolhe menos da metade da sua capacidade original, com o ingresso relativamente mais caro, e o índice de violência ao seu redor só piorou com o passar dos anos.
É curioso também o desrespeito à singularidade dos torcedores e a paixão que o povo tem pelo futebol, aliás reconhecido internacionalmente e setor muito rentável senão ao país pelo menos aos clubes. Desrespeito por que o Maracanã é um reduto de manifestação da cultura popular se compararmos, por exemplo, às torcidas da Europa onde claramente estão pessoas da classe média para cima nas arquibancadas.
Normas são industrializadas Europa afora, ditadas pela FIFA em nome da segurança, e emplacadas aqui como se os problemas fossem gerados do estádio para fora e não o contrário. A geral já foi reestruturada, afinal ver o jogo sentado e com “bons modos” é civilizado enquanto vibrar, se abraçar, pular, gritar e coisas mais não devem ser vistas dentro de um espetáculo popular(?).
A descaracterização em nome da padronização segue e se esquecem que os principais agentes que fazem essa indústria funcionar/lucrar, os jogadores, são também de origem pobre igual a grande maioria da torcida cada vez mais excluída.
Será problema financeiro essa redução gradativa do espaço e aumento de preço do ingresso no estádio mais importante do país? Essa violência noticiada em pelo menos quase todo clássico é fruto do espetáculo futebol ou sintomas da má gestão pública fora dele?
Vemos filas imensas para comprarem os ingressos onde os torcedores além de perderem horas do seu dia, quando conseguem, muitas vezes estão sujeitos a repressões em meio a tumultos gerados por falta de organização; os cambistas e “clientelistas” nos bastidores dos clubes e empresas afins proliferam paralelamente.
Sabemos que a maioria do povo vai continuar indo aos jogos fazendo suas economias e sacrifícios por uma das poucas coisas que os divertem e o incluem socialmente, mesmo que por pouco tempo, enquanto outros se conformarão à restrição lendo apenas as manchetes nas bancas dos jornais no dia seguinte.
No caso dos clubes no Rio, tomando como referência os tradicionais que lotam os estádios, todos são patrocinados por empresas internacionais como a Nike, Adidas, Kappa e Reebok que de pobre nada têm e mesmo assim às vezes jogadores e funcionários dos clubes queixam-se de pagamentos atrasados; a reforma do estádio para o Pan custou aos cofres públicos 196 milhões...
Mais uma vez o povo será explorado e naquilo que lhe serve de escape a todas as dificuldades que enfrenta dia-a-dia. O futebol, apesar de novo no Brasil, já está enraizado na nossa cultura e é para todos se divertirem juntos independente de qualquer valor que venha a impedir a sintonia de torcer pelo seu time.
Como será até e/ou depois da Copa de 2014 pelo andar da carruagem? Ingressos serão vendidos aos olhos da cara somente aos conchavos, afortunados ou sortudos das filas quilométricas?Nisso tudo os canais da TV, principalmente a cabo, só têm a superfaturar com uma indústria do futebol cada vez mais reservada à elite.

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