sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Jornalista e o diploma

Além do curso
Bruno Marques*
Defender a não-obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista é bem mais complexo que a luta por uma simples reserva de mercado. Com receio de perder espaço para outros profissionais nas redações, até mesmo porque nas assessorias e empresas de comunicação a regra já não é tão engessada, muitos jornalistas não se permitem questionar se a necessidade de formação em um curso superior é mesmo benéfica.
Na verdade, a obrigatoriedade do diploma tem emperrado o próprio desenvolvimento da profissão. Sem entrar no mérito da liberdade de expressão, acredito na validade do diploma para a formação de um jornalista. Entretanto, esse não é o único meio para atingir tal fim.Vivemos em uma sociedade rica culturalmente e bastante heterogênea, capaz de oferecer diferentes pontos de vista que possam contribuir para o crescimento tanto de quem lê quanto para quem escreve. Quanto maior for essa troca, mais o conhecimento e os costumes serão disseminados na sociedade.
Pensar que só os jornalistas formados podem descrever os fatos do dia-a-dia chega a ser quase uma utopia, ainda mais depois do advento da Internet e dos recursos tecnológicos, que transformaram cada celular em uma miniestação multimídia.
Não acredito que o diploma de jornalista esteja com os dias contados. Entretanto, é preciso lembrar que a discussão da necessidade de conclusão de um curso de jornalismo está restrita às cidades de maior porte.
Jornalistas esquecem que ainda é muito comum existir no interior repórteres que aprenderam a profissão no exercício diário da atividade. Já nos grandes centros, jornalistas da velha guarda exercem a profissão com muito zelo e presteza sem ter passado pelos bancos da academia. Nem por isso fazem o trabalho com menos responsabilidade ou menos compromisso que um diplomado.
A profissão de jornalista talvez seja um dos exemplos mais claros do que é a transmissão de cultura em uma sociedade. As redações são renovadas constantemente pelos recém-formados, que logo são moldados pelos profissionais mais antigos, repórteres, chefes de reportagem, redatores e editores.
Precisamos ter a consciência de que a defesa do exercício da profissão vai bem mais além do que a simples regulamentação da atividade.
O fim da obrigatoriedade do diploma fará com que as universidades desenvolvam cursos mais diferenciados, que chamem a atenção por suas características específicas e possam, dessa maneira, obter a legitimação do mercado por meio da qualidade do ensino.
*Bruno Marques é Jornalista
Fonte: O TEMPO

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