domingo, 15 de fevereiro de 2009

Castilho

Há exatos 22 anos, em fevereiro de 1987, o maior goleiro da história do futebol brasileiro cometeu suicídio, em uma crise depressiva, aos 60 anos incompletos, atirando-se da janela do apartamento da ex-mulher, em Bonsucesso.
Carlos José Castilho foi o responsável por um número considerável de páginas da história do Fluminense, e pelo surgimento de dezenas (talvez centenas – talvez mais de um milhão) de milhares de torcedores do nosso amado clube em todo o Brasil.
Há vários cinquentões chamados Carlos Castilho espalhados pelo país, porque tiveram pais que idolatravam aquele que, talvez, tenha sido o maior ídolo da história do Flu. É realmente difícil para um tricolor jovem (leia-se um tricolor com menos de 45 anos) avaliar o que representou esse incrível atleta para o Fluminense e para as lendas e mitos do futebol brasileiro.
Pelo menos uma das lendas é verdadeira: realmente, mandou amputar o dedo mínimo de uma das mãos porque queria voltar a jogar mais rápido, em vez de esperar um ou dois meses de tratamento – em seu tempo, os goleiros não usavam luvas, jogavam de mãos nuas, e as luxações nos dedos eram comuns.
Os torcedores do Flu que acompanhavam o nosso clube nos anos 50 até a metade dos anos 60 têm duas referências fundamentais, que os enchem de orgulho até hoje: Castilho e Telê, sendo que Castilho sempre foi o ídolo maior.
Disputou quatro Copas do Mundo, uma delas como titular, em 1954, o que o estigmatizou, e atuou como profissional do Flu de 1947 a 1964. Sempre foi muito superior tecnicamente ao titular das Copas de 58 e 62, Gilmar, mas perdeu a posição porque Gilmar tinha a fama de “tomar frangos sem se abalar”, tinha a fama de ser “mais frio”. Ora, Castilho raramente tomava um frango, e era muito mais goleiro.
Até mesmo um dos jornalistas da época de ouro do jornalismo esportivo que mais odiavam o Fluminense, o botafoguense Armando Nogueira, escreveu uma apologia a Castilho no jornal “Lance!” há menos de um ano, antes de ficar gravemente doente. Os torcedores mais fanáticos do Flamengo, Vasco e Botafogo diziam que Castilho tinha “sorte”. Mas todos o admiravam e invejavam o Flu.
Castilho foi o super-herói de vários meninos e adolescentes dos anos 50 e 60, e que, por ele, tornaram-se tricolores, apaixonaram-se pelo Fluminense. Campeão carioca em 1964, aos 37 anos, foi depois praticamente expulso do Flu, que sempre odiou seus craques.
Atuou em equipes menores e tornou-se técnico. Dirigiu o Santos, por exemplo, o Vitória da Bahia, levou o Operário de Mato Grosso do Sul à semifinal do Brasileirão de 77. Com o Santos, foi campeão paulista de 1984, o último título paulista do Santos até 2006.
Tinha tudo para se tornar um técnico tão bom quanto Telê Santana, porque era tão obsessivo, profissional, detalhista e aplicado quanto o Fio de Esperança. Garantem os que conviveram com ele que sua grande mágoa era não ter sido jamais convidado para trabalhar no Flu ao fim da brilhante carreira de goleiro, e nunca ter tido a chance de dirigir o nosso time.
Ganhou uma estátua na sede do Fluminense não por obra da direção do clube, mas de três tricolores apaixonados: Heitor D´Alincourt, Remo e Pascoal. Foi uma homenagem mais do que merecida, mas muito menor do que a que todos nós e o clube devemos ao goleiro que ajudou a construir a mística da camisa tricolor. Duvidam? Perguntem então aos seus pais ou avós…

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu pai diz ter saudades dele...
E é para ter mesmo, já que hoje os jogadores não têm amor ao time como antes...