Em 1996 eu chegava à Rádio Itatiaia atendendo um convite do Emanuel Soares Carneiro, depois que ele conheceu alguns trabalhos que fiz com os números e de uma vontade muito grande que eu carregava: criar uma nova cultura no futebol, a cultura dos números. O meu lema era e continua sendo "os números contam a verdadeira história do futebol".
Uma volta ao Rádio depois de mais de 15 anos. Antes eu havia sido repórter esportivo na Rádio Sociedade de Ponte Nova, final da década de 70.
Quando ingressei na Itatiaia, as preocupações com números pelos torcedores era praticamente nula. Valia apenas uma tabela de classificação fixa, como se fosse um resultado de loteria. Antes das rodadas, eram ínfimos os comentários de onde uma equipe poderia chegar na tabela de classificação. Chances e riscos eram palavras muito pouco usadas no vocabulário da bola.
Nenhum torcedor ficava sem dormir sonhando com a possibilidade de ganhar um título quando não estava na ponta, ou com receio da zona de rebaixamento quando ocupava a parte intermediária da tabela de classificação. Também se estivesse na ponta já pensava que o título estava ganho, e se tivesse na zona do rebaixamento já esperava a degola. Não via nos números o caminho da salvação ou do calvário. Além da posição do seu time na tabela de classificação, o torcedor, acompnhava, no máximo, a posição do maior rival.
Mais de 12 anos passaram, as coisas mudaram muito. Todo o torcedor de futebol, movido pela paixão por seu clube do coração, acompanha a situação de cada equipe no campeonato, quer saber quem incomoda, quem pode ajudar, que resultado interessa. Monta tabela de resultados futuros. Uma visão para frente, uma visão de sonho, de esperança ou de pesadelo.
Os comentaristas esportivos, os participantes de programas sobre o futebol, todos, gastam mais de 50% do tempo falando em números, em chances, em riscos. Muitas vezes deixam de lado o jogo, a rodada, para analisar a tabela de classificação e as possibilidades de cada equipe. Até os repórteres setorista, responsáveis pelas coberturas aos clubes e as informações diárias, deixam muitas vezes de lado as notícias dos treinamentos, do departamento médico, para falar de números.
Pode-se dizer que todo torcedor, que acompanha de verdade o futebol, sabe onde o seu time pode chegar em um campeonato.
Agora, trabalhar com números, exige antes de tudo um prazer por eles, é preciso gostar de matemática, é preciso gostar da lógica, é preciso ter certeza que existe a projeção, a lei das probabilidades, mas também existe a conta exata, a conta certa, o resultado previsível. Projeção no futebol não é só jogar em uma planilha um série de formas matemáticas para encontrar o resultado final, existem algumas outras variáveis que devem ser consideradas. Temos hoje, sites especializados em números, em projeções, que rodada a rodada alteram os percentuais de chances e riscos das equipes. Em uma semana uma equipe tem x% de chances para alcançar uma determinada posição, depois de um ou dois resultadados a mais, o percentual se altera por completo. No rádio isto não funciona. Tenho com o ouvinte uma linguagem direta.
Foram 13 Campeonatos Brasileiros de 1996 a 2008, além de outras competições, que levei ao ouvinte Itatiaia as projeções, os resultados e as análises dos números. Hoje, nenhum ouvinte da Itatiaia, discute futebol sem estar com os números na "ponta da língua".
Administrar meu tempo e minhas obrigações para continuar, nos fins de semana, trabalhando com a informação dos números no futebol, para cumprir meus compromissos assumidos com o Emanuel Carneiro e com o público ouvinte da Itatiaia, não tem sido fácil. Eu tenho sacrificado a minha vida pessoal, os meus finais de semana, visto que, tenho outras atividades profissionais. Sinto que o meu trabalho na imprensa esportiva muito bem avaliado pelas duas vertentes, o Emanuel e o público ouvinte. O respeito profissional e pessoal que recebo do Emanuel tem me segurado na Itatiaia, com ele não há vaidades pessoais. Emanuel é daqueles que dificilmente convida alguém para usar as sandálias de São Francisco, ele dá o exemplo, usando-as. É de uma simplicidade e respeito a toda prova, por isto que a Itatiaia se transformou em uma das maiores potências radiofônicas do mundo. Por isto que minha relação com Emanuel é de consideração, respeito e amizade. O carinho que recebo por parte dos ouvintes é outro fator, que me faz pensar duas ou mais vezes, quando penso em reorganizar meu tempo, e preciso reorganizar.
Se conquistei respeito profissional perante ao público, isto só foi possível porque um dia Emanuel abriu as portas da Itatiaia e me recebeu de braços abertos. Isto é parte da minha história.
*Domingos Sávio Baião é mineiro de Matipó, Contabilista, Bancário, Blogueiro, Matemático e estudante de Jornalismo.
Um comentário:
Conheço o savinho desde a época do colégio dom helvécio, em ponte nova, mg! Talento puro na matemática! Abraços
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