quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Célio Silva

Ex-jogador da Seleção vira treinador Célio Silva (Célio Wagno do Nascimento Silva), zagueiro que passou pelo Corinthians, trabalha para ser treinador e quer quebrar preconceitos

Campeão praticamente por todos os times em que passou, o ex-zagueiro Célio Silva agora se aventura em uma nova carreira no meio futebolístico. Depois de pendurar as chuteiras em 2003, quando jogava pelo Americano/RJ, clube que o revelou, ele agora tenta a sorte como treinador e como descobridor de talentos. Para alcançar os novos objetivos, o ex-jogador mantém um Centro de Treinamento que leva o seu nome na cidade Joanópolis, no interior de São Paulo.
Na mais nova empreitada da sua vida, ele quer romper barreiras e quebrar preconceitos. Um dos tabus é conseguir vencer no futebol sendo um treinador negro. Pela Copa São Paulo de Futebol Júnior, Célio firmou parceria com o Flamengo de Guarulhos, mas acabou sendo eliminado logo na primeira fase com apenas uma vitória (1 a 0 no Jaguaré/ES) e duas derrotas, para Sertãozinho/SP (2 a 1) e Fluminense (6 a 1).
Como jogador, Célio Silva, nascido em Miracema/RJ, iniciou a carreira no Americano, de onde seguiu para o Vasco. Depois atuou por Internacional, Caen/FRA, Corinthians, Goiás, Flamengo, Atlético/MG e Universidade Católica/CHI, além de algumas convocações para Seleção Brasileira.
Títulos foram vários, entre eles:
Copa América/97, Brasileiro/88, Copa do Brasil/92 e 95 e Mercosul/99.
Nesta entrevista exclusiva ao site Justicadesportiva.com.br, Célio Silva fala sobre passado, presente e futuro.
Site JD – Como está o Célio Silva hoje como um ex-jogador?Célio Silva - “Hoje nós damos uma seqüência à carreira. Sempre digo que o rio corre para o mar e normalmente o jogador de futebol vira empresário ou treinador. Então, o meu perfil correu para o lado de treinador de futebol. Sempre brinco que prefiro ser chamado de burro a chamar as pessoas de burras”.
Site JD – Alguma proposta encaminhada?
Célio Silva - “Temos algumas propostas. Estamos estudando e vendo qual é a melhor delas. Times do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Nordeste me sondaram e por considerar um início de carreira temos boas possibilidades. Estou até surpreso. Não esperava que o trabalho fosse ser visto com bons olhos no início”.
Site JD – E esta história de que treinador negro não dá certo no futebol. Você chega para romper esta barreira?
Célio Silva - “Infelizmente, algumas pessoas pensam nisto. Em 2001 quando parei de jogar futebol estava eu, Felipão (Luis Felipe Scolari), que tinha acabado de assumir a Seleção Brasileira, o meu empresário, na época o Gilmar Rinaldi, e mais um assessor da CBF. Neste dia estávamos em São Paulo, num saguão do hotel conversando. O Gilmar me chamou para trabalhar com ele como empresário e o Felipão falou para eu seguir o mesmo caminho, já que treinador negrão não vinga e as pessoas não dão oportunidade. E eu, analisando bem aquele momento, fiz uma retrospectiva e vi que não tem ninguém nos grandes clubes do país. Tivemos há pouco tempo o Lula Pereira, que trabalha em muitos times intermediários e teve uma oportunidade de trabalhar no Flamengo, mas eu creio que o fato dele não ter ficado no Flamengo foi em função de resultados. Naquele instante vi que não tinha preconceito, porque se ele chegou ao Flamengo, independente de qualquer situação, se foi para tapar um buraco ou não, pelo menos teve a oportunidade de trabalhar no Flamengo. O próprio Andrade trabalhou lá. Se o trabalhar fluir e render, acredito que nenhum tipo de preconceito consegue segurar a força do trabalho”.
Site JD – Como foi a preparação do Célio Silva para ser treinador?
Célio Silva - “O próprio zagueiro e goleiro já são treinadores. Eles têm a função de comandar a equipe porque ficam ali atrás. Somos os treinadores dentro de campo. Eu me adaptei muito bem a essa maneira de comandar e raras vezes fui capitão de equipe. Adquiri uma liderança naturalmente. Fora dos campos, fiz um curso de expressão verbal e fiz estágio com o Parreira no Corinthians. Hoje, tenho acompanhado os jogos na televisão de maneira diferente, não como mero expectador, e sim como treinador, onde você analisa os posicionamentos dos atletas. Mas também é necessário se preparar psicologicamente. A carreira que tive como jogador de futebol me deu uma boa base e o restante é trabalhar, ter confiança e a certeza que vamos chegar longe. Quem sabe podemos quebrar barreiras, porque há muito tempo não se tem um treinador negro na Seleção Brasileira, e este é o meu objetivo”.
Site JD – Algum time brasileiro te chama para um desafio. Atingir as metas lá seria melhor do que estar em um país qualquer no Oriente Médio?
Célio Silva - “Você tem que pensar de duas maneiras. Precisa priorizar o lado financeiro ou o futuro profissional de se tornar um grande treinador de futebol. Os desafios maiores são aqui no Brasil. Tenho amigos que trabalham no Oriente Médio e Japão. Tenho tido contatos com eles, mas hoje meu objetivo é entrar no cenário nacional. Então não posso sair do meu país para tentar a sorte, mas se eu tivesse pensando simplesmente no lado financeiro eu já teria ido, mas como tenho objetivo hoje de me tornar um grande técnico, não pela vaidade, mas pelo objetivo que traçei para minha vida. Minha vida toda é um desafio, desde quando eu nasci. Nasci de parteira e já foi um desafio. Nada para mim foi fácil, nada caiu de pára-queda na minha mão e eu também não caí de pára-queda em lugar nenhum. Sempre fiz por onde para chegar aonde cheguei. Desafio para mim não causa medo nenhum”.
Site JD – Com 40 anos de idade e em início de carreira de treinador, você espera até quando para alcançar uma condição boa no cenário nacional?
Célio Silva - “Eu não estou estipulando prazo para que quando eu tiver com 50 anos estar no top, por exemplo. Se nós dermos uma seqüência boa e pegar um time de qualidade para exercermos um excelente trabalho, creio que logo vou seguir a carreira de treinador como fiz a de jogador, trabalhando forte e sério para que ela flua o mais rápido possível. Percebo que o futebol brasileiro carece de novos talentos, não só no campo, como fora dele. Hoje, temos excelentes profissionais, mas temos carecido de revelações. É dada pouca oportunidade hoje, porque os clubes preferem apostar naqueles que já são conhecidos e têm olhado muito pouco para aqueles que estão chegando. Então, a minha idéia é fazer um barulho forte, como tive a felicidade de fazer no Paraná. Hoje tenho reconhecimento lá, porque quando jogamos de frente com os grandes, jogamos de igual para igual, com condições de vencê-los e mostramos um excelente trabalho”.
Site JD – Que títulos você quer ganhar como treinador que não ganhou como técnico?
Célio Silva - “Como jogador ganhei quase tudo. Só não ganhei uma Copa do Mundo e uma Libertadores. Mas tenho uma Mercosul, que não tem o mesmo peso, mas são as mesmas equipes que disputavam a Libertadores. Fui campeão brasileiro, da Copa do Brasil, ganhei Estadual em todos os clubes que joguei. Em 18 anos de carreira, ganhei 23 títulos. De 25 títulos disputados, ganhei 23. Destes dois que não ganhei, foi porque eram pontos corridos, porque se vem para o mata-mata eu estava acostumado a ganhar”.
Site JD – Quando chega próximo de uma Copa do Mundo, fica aquela decepção de não ter jogado nenhuma, apesar ter chegado perto em duas oportunidades?
Célio Silva - “Eu joguei uma Copa do Mundo sim, só que de juniores, em 1987, no Chile. Naturalmente que um atleta de ponta, como sempre fui, quando não disputada uma Copa do Mundo em alguns momentos fica chateado. No ano de 93, era titular da Seleção Brasileira na US Cup nos Estados Unidos e tive uma lesão no joelho que me atrapalhou muito na carreira, mas não me impediu de ter êxito. Retornei ao Brasil, tomei uma enquadrada do Parreira e do Zagallo e eles praticamente me fizeram com que voltasse para o Brasil para tratar do joelho. Naquele instante, tinha certeza que iria jogar, mas da maneira que foi colocado não tinha outra opção a não ser retornar para o Brasil e cuidar do meu joelho. Fiquei de fora da Copa América e comecei a trabalhar no Internacional, onde estava. Tive a felicidade de ser convocado para disputar o jogo entre Brasil e Bolívia , em La Paz, pelas Eliminatórias, mas tive a infelicidade de não poder sair de Porto Alegre por problemas no vôo, já que a neblina era muito forte. Cheguei no aeroporto às oito da manhã e saí às seis da tarde, sem conseguir decolar. Perdi a chance de disputar as Eliminatórias e a vaga na Copa do Mundo, porque quem foi convocado na ocasião foi o Ronaldão, que foi para este jogo e deu seqüência. Na Copa de 98, na França, fui titular da Seleção no torneio da França, contra a Noruega e iniciei como titular na Copa América da Bolívia, mas não dei uma seqüência boa, tive alguns problemas de desentendimento com alguns jogadores e até mesmo com a comissão-técnica, porque não aceitava algumas coisas e perdi a vaga. Depois disto nunca mais fui convocado para Seleção Brasileira, mas às vezes fico chateado comigo mesmo, porque possibilidades eu tive, mas não guardo nenhuma mágoa ou ressentimento”.

Um comentário:

Claudia Marques disse...

Adorei a reportagem sobre o Celio Silva , pois um Miracemense que lutou e venceu escrevendo seu nome no futebol brasileiro e com isso levando o nome da nossa tão querida terra para os outros cantos do mundo. Parabéns !!!!!!!!!!