domingo, 28 de dezembro de 2008

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada 

Manuel Bandeira* 

Vou-me embora pra Pasárgada 
Lá sou amigo do rei 
Lá tenho a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei.

Vou-me embora pra Pasárgada 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Aqui eu não sou feliz 
Lá a existência é uma aventura 
De tal modo inconseqüente 
Que Joana a Louca de Espanha 
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente 
Da nora que nunca tive.
 
E como farei ginástica 
Andarei de bicicleta 
Montarei em burro brabo 
Subirei no pau-de-sebo 
Tomarei banhos de mar! 
E quando estiver cansado 
Deito na beira do rio 
Mando chamar a mãe-d'água 
Pra me contar as histórias 
Que no tempo de eu menino 
Rosa vinha me contar 
Vou-me embora pra Pasárgada.

Em Pasárgada tem tudo 
É outra civilização 
Tem um processo seguro 
De impedir a concepção 
Tem telefone automático 
Tem alcalóide à vontade 
Tem prostitutas bonitas 
Para a gente namorar.

E quando eu estiver mais triste 
Mas triste de não ter jeito 
Quando de noite me der 
Vontade de me matar 
- Lá sou amigo do rei - 
Terei a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada.

*Manuel Bandeira (Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho) nasceu no Recife-PE, em 19 de abril de 1886, na rua da Ventura, atual Joaquim Nabuco, filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e Francelina Ribeiro de Souza Bandeira. 
Manuel Bandeira morreu no Rio de Janeiro, aos 82 anos, em 13 de outubro de 1968.

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