domingo, 10 de agosto de 2008

O Jornalista e o diploma

"Em defesa do jornalismo ético e de qualidade"

Heitor Reis (*)

"Odeias a mídia? Sejas tu a mídia!!!"

Somente um imbecil da mais alta estirpe ou os poderosos espertalhões que assaltam este país há 508 anos, bem como seus lacaios na classe média, e a massa mantida ignara para manobra e exploração, não estariam engajados na luta "Em defesa do jornalismo ético e de qualidade". Parece que não sobra muita gente, né?

"Brecht, pensando exatamente através da concepção original do rádio - isto é, na característica de um meio de comunicação bi-direcional - sugeriu a extensiva disseminação de equipamentos de rádio por toda a sociedade, o que tornaria quaisquer grupos ou indivíduo ativamente participante, numa como que gigantesca assembléia geral permanente, através das ondas hertzianas."

Nada mais universalizador do jornalismo ético e de qualidade que todos se tornarem comunicadores em qualquer lugar onde estiverem e fazer da internet esta ágora planetária como sonhava Bertold Brecht em relação ao rádio. Todos analisando todos os ângulos possíveis dos fatos para todos. Todos gerando e recebendo informações.

Assim, um jornalista assalariado vem cada vez mais sendo visto como alguém menos confiável, já que ganha para divulgar o que o patrão manda, na forma como ele deseja. Senão perde a boquinha... E, quanto maior a empresa para quem ele trabalha, menos confiável ainda seu trabalho se torna. Maiores e mais sutis serão os métodos de manipulação.

Mas, daí, defender que a exigência do diploma seja sinônimo desta causa, extrapola qualquer padrão de lógica, raciocínio e bom senso.

"Não é possível negar que:

(1) ética, (2) informação de qualidade e com responsabilidade (3) e preparação técnica são algumas dessas qualificações que devem ser consideradas essenciais para o exercício do jornalismo. Para tanto, a formação acadêmica é fundamental nesse processo."

(1) "Ética" implica naturalmente em (2) "informação de qualidade e com responsabilidade", devendo ser consideradas como ambos lados da mesma moeda. Ou seria possível uma coisa sem a outra? Quer dizer: Seria possível coexistir simultaneamente uma condição ética com ausência de qualidade e de responsabilidade na informação?

O curso de jornalismo avança mais na qualificação ética de seus estudantes que o fazem outros cursos profissionais? Ou ensina apenas a técnica? O que é mais necessário para uma sociedade? (1) Uma notícia tecnicamente perfeita e manipulada ou (2) uma notícia com baixa qualidade técnica que aborde todos os ângulos de uma questão, permitindo que os interessados se manifestem, que ataque problemas cruciais e profundos da população, mesmo que atrapalhe os interesses comerciais dos capitalistas da comunicação e de seus anunciantes? Entre a ética e a técnica, qual é mais relevante? Como a formação acadêmica possibilita a qualificação ética em qualquer profissão, especialmente, em jornalismo?

Há algum curso de jornalismo que hipnotize os formandos, de tal forma que eles se tornem imunes à obediência cega, quando o patrão ordenar que manipulem, enganem, deturpem, omitam, atenuem ou enfatizem, etc., a informação? Se a formação acadêmica fosse realmente fundamental nesse processo, a exigência do diploma, após tanto tempo em vigor, já não teria resolvido este problema?

Por que ainda persiste hegemonicamente a realidade pesquisada e registrada por Perseu Abramo?

Por que ainda predomina um jornalismo que, segundo ele, caracteriza-se por praticar interesses contrários ao do povo brasileiro. Mesmo sendo feito por profissionais perfeitamente diplomados!!! Por que ainda predomina a prenstituição tanto aqui, quanto nos EUA?

O jornalista e sociólogo Perseu Abramo (1929-96) põe em foco os interesses políticos que estão por trás das notícias e o modo pelo qual a apresentação da realidade é manipulada pelos meios de comunicação."Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com os seus interesses político-partidários, os órgãos de comunicação aprisionam os seus leitores nesse círculo de ferro da realidade irreal, e sobre ele exercem todo o seu poder.

O Jornal Nacional faz plim-plim e milhões de brasileiros salivam no ato. A Folha de S.Paulo, o Estado de S. Paulo, o Jornal do Brasil, a Veja dizem alguma coisa e centenas de milhares de brasileiros abanam o rabo em sinal de assentimento e obediência." Não seria exatamente a formação acadêmica a causa deste problema? Nem uma coisa, nem outra! O buraco é mais embaixo... Ou mais em cima. (Tudo é tão relativo!...)

O problema está na relação de dependência entre o patrão e o empregado, em qualquer profissão. Mas, numa atividade que é formadora ou deformadora de opinião, isto se torna um problema muito maior que nas demais. Especialmente porque o componente ético do jornalismo é astronomicamente maior que na engenharia, medicina, odontologia, psicologia, etc. E muito mais difícil de ser verificado e punido.

Enquanto não for criada uma forma de permitir que o jornalista seja independente (ou subordinado a um conselho independente) do interesse comercial e político da empresa midiática em que trabalha, diploma e conselho profissional da categoria serão meras bandeiras pirotécnicas e estéreis para diletantismo dos incautos. Para que tenhamos meios de comunicações que atendam ao interesse público, toda a possibilidade de influência do interesse capitalista sobre a notícia deve ser absolutamente controlada e eliminada. *Heitor Reis é engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da CMQV - Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida

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