domingo, 8 de junho de 2008

Itaocara-RJ - 01º Distrito

Márcio Seixas da Costa

OS ANTECEDENTES ...E a Aldeia da Pedra se fez Curato da Aldeia da Pedra.Lá pelos idos de 1812 a vida na Aldeia da Pedra corria mansamente, apesar do progresso que se ensaiava, Os índios já iam ficando raros e espalhados pelo território da Aldeia. Na atual localidade de Água Preta, nas margens do valão do mesmo nome, ficavam os coroados, ali aldeados por Frei Tomás, em terras demarcadas pela Coroa. Os puris, que eram nômades e indomáveis, acompanhavam os animais que caçavam, indo da atual localidade de Monte Puri, no 4° Distrito, até o Ribeirão das Areias, em Laranjais, mas habitavam também na região norte, nas margens do Rio Pomba (onde hoje estão Funil e Aperibé, ambos na época, territórios da Aldeia) em número de 500 a 600, vivendo no meio das matas. Ainda existiam os coropós e os botocudos. Em 1814 morreu, aos 60 anos de idade, José de Leonissa e Silva, primeiro Capitão-do-Mato da Aldeia, que era casado com a índia Rosa...No dia 24 de novembro de 1812 a Aldeia, que na época chamava-se D. Marcos, recebeu a visita do bispo José Caetano da Silva Coutinho, que a elevou à categoria de Curato, sob as bênçãos de São José de Leonissa da Aldeia da Pedra, nomeando seu primeiro cura o Frei Tomás de Civita Castello, que continuou na luta para paroquiar os índios, catequizados. Mas os puris eram indomáveis. Ele conseguiu, entretanto, aldear os coroados. Aos poucos, o Curato da Aldeia da Pedra foi sendo tomado pelos colonizadores portugueses, pelos emigrantes turcos, italianos e mesmo nacionais brancos.O Cura Frei Tomás de Castelo, que era capuchinho italiano, faleceu em 16 de abri I de 1828 e foi sepultado na Igreja Matriz de São Fidélis, onde se encontram seus restos mortais. Sucedeu-o, nomeado pelo Bispo Dom Manuel do Monte Rodrigues, para ocupar o lugar de Vigário Colado, o Padre José Joaquim Pereira de Carvalho, que aqui chegou em 30 de agosto de 1847 e faleceu no dia 15 de janeiro de 1900, trucidado a pedradas na frente de sua casa. De 1827 até 1835, foram batizados 1440 índios dentre coroados, puris, botocudos e coropós, conforme informa Frei Flórido de Caste110, em seu oficio datado de 22 de julho de 1835, "ao Ilmo. Sr. Juiz de orphãos da vila de São Salvador de Campos".Como diz Alaôr Eduardo Scisínio, "os índios, pouco a pouco, iam sendo compelidos a abandonarem a Aldeia". Debret passou por ali entre 1834 e 1839 e afirmou: "Existem algumas famílias de coroados na Aldeia da Pedra, à margem do Paraíba superior." (Viagens, Tomo I, p. 31).O Curato de São José de Leonissa da Aldeia da Pedra, que era filial da Matriz de São Fidélis, obteve foros de Freguesia, de natureza coletiva, pela Lei n° 500, 21 de março de 1850, com os limites estabelecidos em setembro de 1812 quando foi elevado a categoria de Curato. Nesses tempo o progresso já alcançava grandes proporções e a Freguesia era parte integrante do município de Campos. O seu vigário continuava sendo Frei Flórido, que praticou o seu Último ato em 23 de agosto de 1857. A Freguesia de São José de Leonissa da Aldeia da Pedra tinha foros de cidade. Lamego in O Homem e a Serra, p. 286, diz que "uma fábrica de cerveja no pequeno burgo indicava o consumo por uma população alienígena, e o seu movimento de passageiros exigia quatro hotéis e duas casas alugadoras de troles (o automóvel da época) para a condução entre as fazendas e a estrada de ferro". Em 1885 a Freguesia era ponto final da Estrada de Ferro de Cantagalo. Por esses tempos (1888) os índios já não mais existiam na "zona urbana" da vila. Nesse período, o da Freguesia, viveu-se o ciclo do café, que a história registra como tendo sido muito produtivo e importante. Em 25 de abril de 1846 foi passada a primeira provisão, autorizando a construção de cemitério, em favor do Dr. Bernardo Clemente Pinto. O cemitério que ainda se vê na Bóia, na divisa com Cambuci, tem sua provisão datada de 5 de setembro de 1849, a favor do fazendeiro José Joaquim Paes da Fonseca. No meado do século XIX, tempos da Freguesia, havia, conforme relato do Prof. Moisés de Carvalho Gama, uma estrada de ferro com vagões puxados a burro, ligando Ibipeba (hoje zona rural do 3° distrito de São Sebastião do Alto) a Itaocara, passando pela Serra Vermelha. Ainda hoje se pode ver vestígios dessa ferrovia nas várzeas de Ibipeba e a tem Itaocara, na propriedade do Sr. Adolvani Soares.Os habitantes da antiga Aldeia da Pedra, depois Curato e Freguesia de São José de Leonissa, julgavam ter razões de sobra para serem avessos ao regime monárquico, apesar das visitas do Imperador à região, quando, às vezes, ficava na Fazenda da Serra Vermelha, hoje propriedade do Sr. Cláudio Gualberto, e de alguns títulos de nobreza ofertados à algumas pessoas do local. O sistema monárquico era centralizado e os municípios não tinham autonomia plena. Além disso, durante a monarquia, a religião oficial era a católica, o que significava dizer que todas as outras eram consideradas clandestinas ou apenas toleradas. Os padres recebiam salários dos cofres públicos; o casamento civil não existia; o voto popular era restrito a um reduzido número de pessoas que satisfizessem a certos requisitos, ou seja, posição social e renda; a mulher não tinha direito ao voto e os senadores tinham mandato vitalício. Tais fatos eram repudiados pelos moradores da Aldeia.As idéias revolucionárias, pregadoras da república, chegavam à Aldeia trazidas pelos ventos da modernidade que sopravam em outros países, inclusive da própria América. A grande maioria das pessoas, principalmente os formadores de opinião, não se conformava com este estado de coisas e achava que o Brasil com a monarquia estava fadado a ficar fora do carro do progresso. Os habitantes da Terra de Frei Tomás pensavam assim. Daí o nascer e crescer da campanha republicana nas terras que viriam a formar o município de Itaocara.O exemplo de Liberdade, Igualdade e Fraternidade já tinha sido dado em todos os rincões da Aldeia através de Ana Catarina de Azeredo, a Sá Dona. Dela foi o primeiro grito contra a escravatura. O auge do repúdio ao governo monárquico foi alcançado nas terras da Aldeia da Pedra com a criação do "Club Republicano de Estrada Nova", cuja fundação ocorreu no dia 14 de julho de 1888, inclusive com a presença do "Arquiteto da República", Quintino Bocaiúva. Por terem sido pioneiros na divulgação do programa republicano, os líderes estrada-novenses passaram a gozar de grande prestígio junto ao movimento republicano e com a vitória deste, e a conseqüente proclamação da República, fato ocorrido em 18 de novembro de 1899, como prêmio receberam, através do primeiro governador republicano da província do Rio de Janeiro, Francisco Portela, a criação do distrito de Estrada Nova, em 10 de setembro de 1890, mas como parte integrante do município de Cantagalo. Mas os republicanos da Aldeia da Pedra queriam a criação do município de Itaocara, inclusive reivindicando que nele fosse incluído o recém-criado distrito de Estrada Nova, cujo território anteriormente pertencera à Aldeia da Pedra. Tal pretensão foi coroada de êxito e em 28 de outubro de 1890, pelo Decreto n° 140, foi criado o Município de Itaocara. O povo exultou de alegria e as festas aconteceram durante alguns dias ao sabor de discursos, fogos, comemorações. Afinal, a liberdade! As primeiras autoridades nomeadas para administrar o novo município foram Dr. João José de Sá: Intendente, tendo a auxiliá-lo os membros da Intendência, Major João Baptista Heggendorn, Reynaldo José Machado e Augusto Poubel. Delegado: José Joaquim da Cruz Braga. Tabeliães: 1° Oficio - José Luiz Marinho; 2° Oficio - José Joaquim Pereira de Carvalho. Escrivão de Rendas: Artur Ferreira de Oliveira e Silva. A primeira divisão política de Itaocara foi dada pela Deliberação de 4 de setembro de 1891, que ordenou o município em quatro distritos: 1 ° Distrito: Vila (a sede); 2° Distrito: Conceição da Estrada Nova; 3° Distrito: Três Irmãos; e 4° Distrito: Pedro Corrêa (atual Aperibé).

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