sábado, 26 de abril de 2008

O "Valor" da Contabilidade

"Acabou a história de efeito meramente contábil" São Paulo-SP A nova lei contábil trará de volta o glamour à profissão de contador, acredita Antoninho Marmo Trevisan, fundador do grupo de empresas que leva seu nome. "Tudo o que tem a ver com números importa. Acabou aquela história de 'efeito meramente contábil'", diz, referindo-se a uma das expressão favoritas dos executivos para justificar algum prejuízo incômodo. Com a marcação a mercado nos balanços, lembra, a contabilidade passou a ter um grande impacto financeiro. A quebra do Bear Stearns confirma sua tese. - Trevisan, contador há 37 anos, está animado com os novos tempos, depois de uma fase difícil, na época do escândalo do mensalão, em que sua boa relação com o governo acabou sendo um entrave para os negócios. Seu trânsito no poder é tão conhecido que, nos bastidores da profissão, comenta-se que teve relação direta com a agilidade da sanção presidencial à lei. Apesar da intimidade com o trâmite da lei, diz que os bancos foram os grandes incentivadores da aprovação. E mostra-se melindrado com os comentários de seus pares . "Todo mundo pode crescer, só a Trevisan não pode."
Veja a seguir trechos da entrevista concedida ao Valor Econômico: - Valor: Como foi o bastidor da aprovação da lei? O sr. participou das decisões? - Antoninho Marmo Trevisan: Ela ficou sete anos no congresso e não foi percebida pelo governo. A área econômica foi pega de surpresa. A lei andou porque caiu nas graças da Febraban [a federação dos bancos], que viu uma enorme oportunidade de emprestar com mais segurança, e das empresas multinacionais brasileiras, que estavam necessitas de adaptar com urgência seus balanços. O próprio Gerdau [Jorge Gerdau Johannpeter] me contou na reunião do Conselhão da semana passada que a mudança permitiu que ele fizesse as novas aquisições no exterior. - Valor: Mas você também não trabalhou para agilizar a lei? - Trevisan: Eu esperei 37 anos da minha vida pra ver uma coisa dessas. A lei era desejada pelo mundo empresarial porque houve essa convergência... - Valor: Qual convergência? - Trevisan: Os bancos precisando emprestar, cheios de dinheiro, as companhias brasileiras crescendo, tendo que buscar capital. Além disso, tinha todo o ambiente de reforma tributária aberto para poder se ajustar essa nova lei, porque há excesso de arrecadação. - Valor: A nova contabilidade melhora o cenário econômico do país? - Trevisan: Há anos o Brasil não tratava o balanço como uma peça financeira. Quando falo em impacto contábil a sensação que eu passo é que não existe na realidade. É financeiro, sim. Tem impacto no dividendo, no valor da ação... Veja o Bear Stearns... Vivemos, primeiro, a ditadura patrimonialista, do controlador. O balanço aqui só tinha patrimônio. Não tinha nem receita antes da 6.404, de 1976. Depois, a ditadura fiscal. Agora, o mundo está vivendo a ditadura do acionista de um dia. Os balanços serão mais volatéis. Temos que nos adaptar a essa nova realidade.

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