quarta-feira, 26 de março de 2008

Trapalhão de Barbacena

Alberto Luchetti* 
A queda de braço entre o governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva e a Telefônica, pelo direito de oferecer serviço de tv paga no país, não é imbróglio restrito a ante-sala do Ministério das Comunicações. A origem tem o endereço certo e sabido na rua Lopes Quintas, 303, no Jardim Botânico, zona sul do Rio, cep 22460-901, sede da Rede Globo de Televisão. O nó nas linhas começou recentemente, quando a Telefônica comprou a participação acionária na TVA (controlada pelo Grupo Abril) e, ainda, as operações da Abril em MMDS, outra modalidade de TV paga com transmissão por rádio. Num outro negócio, a Telefônica se julga também habilitada a distribuir televisão por assinatura via satélite (DTH - direct-to-home), mas o ministro das Comunicações, Hélio Costa, não gostou de nada e correu para desligar todos os transmissores. Pegou a caneta e suspendeu, por 60 dias, todas as operações da Telefônica. Foi mais longe, a rigor: solicitou à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), uma fiscalização nas operações de TV da Telefônica. Por isso, cabem algumas considerações a serem feitas ao ministro.O que tem a ver a Rede Globo de Televisão com a associação da Telefônica com a TVA (do grupo Abril)? Tudo. E ficará claro, como se verá adiante. A Rede Globo não quer que a Telefônica faça o mesmo acordo que ela tem com a Telmex. Quando a Telmex (maior empresa mexicana de telefonia e que no Brasil detém a empresa Claro) comprou uma participação na Net, da Rede Globo, ela pretendia entrar na área de telefonia local usando a capilaridade da rede de TV a Cabo, da Globo. A mexicana e a Globo pretendiam ainda mais: intensificar as vendas do Vírtua, produto de banda larga da Net, que permitiria à operadora desenvolver ofertas de voz sobre IP (telefone por internet).O que era apenas um plano claro de negócios, hoje é realidade. A Rede Globo, através da NET e da Telmex, oferece aos seus clientes, além da distribuição de TV paga por assinatura, banda larga (Virtua) e telefone residencial (voz sobre IP - telefone sobre Internet Protocol). O que a Telefônica pretende com a aquisição de ações da TVA do Grupo Abril? Continuar vendendo telefone, banda larga (Speedy) e, agora, também televisão paga por assinatura. Nada mais justo: Se uma associação de empresas vende televisão, banda larga e telefone; a outra, pode (ou poderá) vender telefone, banda larga e televisão.Está mais do que claro, que a decisão do Senhor Ministro não atende aos interesses do governo Lula, mas sim do seu ex-patrão, sediado no Jardim Botânico. A aprovação pelo ministro Hélio Costa da compra das ações da TVA pela Telefônica permitiria - além de dar fôlego a um tradicional e respeitado grupo de comunicação, como a Abril - que o governo Lula incentivasse uma disputa democrática, legitima e saudável, com o privilégio da livre concorrência e o benefício geral e irrestrito do consumidor. O que é necessário para que isso aconteça, e o presidente Lula, em vez de colher elogios, não experimente de novo o veneno de decisões equivocadas, colocado em sua boca por mão alheia? Basta, apenas um gesto de dignidade do ministro das Comunicações, pedindo demissão em caráter irrevogável. Assim, o ex-funcionário da Rede Globo de Televisão não persistiria na dança do sapateado sobre a ética. Como ex-funcionário da Rede Globo de Televisão, Hélio Costa, retornaria à emissora carioca, só que na função de humorista. Depois de breve trajetória pelo ministério das Comunicações, com certeza lhe cairia bem o papel coadjuvante, ao lado do solitário trapalhão Didi Mocó, o Renato Aragão, nas manhãs de domingo.Senhor Ministro, esqueça a arrogância dos seus velhos tempos de apresentador do Linha Direta, da TV Globo, onde só falava com marginais presos ou segredados através de gravações editadas. Senhor Ministro, esqueça dos seus velhos tempos de repórter do Fantástico, onde todos os domingos apresentava um medicamento novo para delírio e lucro da indústria farmacêutica. Senhor Ministro, esqueça o palanque político, desça do trio elétrico porque a sua candidatura à reeleição ao Senado ainda demora alguns anos. Infelizmente, a sua enfermidade não tem remédio. Nem mesmo aqueles placebos, que o senhor anunciava aos domingos, na Rede Globo, poderão fazer milagres. A solução é o senhor pedir demissão, ir para Barbacena, em Minas Gerais, cuidar de sua saúde, da sua rádio e exercer a sua nobre veia de locutor. 
*Alberto Luchetti é jornalista e presidente da Associação Brasileira das Emissoras de IPTV - ABRAWEBTV 

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