terça-feira, 25 de março de 2008

PARA NÃO ESQUECER

Laerte Braga* O brigadeiro João Paulo Burnier, em abril de 1968, montou a operação conhecida como PARASAR (Esquadrilha Aéreo Terrestre de Salvamento) e que pretendia, dentre outros atos de terrorismo, explodir o gasômetro do Rio de Janeiro e utilizar o fato e as conseqüências do mesmo como instrumento para culpar grupos adversários da ditadura militar. Um capitão do grupo, Sérgio Miranda, conhecido como “Sérgio Macaco”, recusou-se a cumprir as ordens e denunciou a operação a alguns jornais e revistas e mesmo existindo censura o fato veio a público, ganhou repercussão na imprensa internacional e acabou abortado. Anos depois, no período do ditador João Figueiredo, no dia 1º de maio de 1980 um oficial do Exército e um sargento chegaram ao Pavilhão do Riocentro com o objetivo de explodir uma bomba no local. Ali estava sendo realizado um show em comemoração ao Dia do Trabalhador e a pretensão dos militares ligados ao CIE (CENTRO DE INFORMAÇÕES DO EXÉRCITO) e SNI (SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES) era a de promover um atentado capaz de criar um clima de comoção nacional, culpar os adversários da ditadura e ter então o pretexto para nova onda de repressão. A bomba explodiu no colo do sargento que veio a falecer e deixou gravemente ferido o oficial que dirigia o carro, um modelo Karmanghia. Uma segunda bomba foi atirada contra a estação de energia do Riocentro, mas não foi forte o suficiente para interromper o fornecimento de energia ao local onde acontecia o show. A reação do governo Figueiredo foi de tentar culpar “inimigos da democracia” e esse fato gerou discordâncias dentro do próprio Planalto. O general Golbery do Couto e Silva, chefe do Gabinete Civil da Presidência da República exigiu apuração transparente, deixou claro que se tratava de um atentado promovido por setores radicais das Forças Armadas interessados em promover um retrocesso no que chamavam de “abertura lenta e gradual”. Custou-lhe o cargo. Não houve como esconder a verdade. A própria imprensa já rompendo as amarras da censura denunciou o caráter do atentado. O semanário O PASQUIM deitou e rolou em cima do frustrado atentado, entre outras coisas, fazendo referência à destruição da “genitália do sargento”. Teve a edição apreendida e felizmente circularam exemplares de forma clandestina. O fato apressou a desmoralização do governo Figueiredo e numa certa medida o passo para a chamada “Nova República”. Essa prática de promover atentados terroristas e inculpar adversários para justificar ações de violência e arbítrio encontra exemplos ao longo de toda a história da humanidade. Hitler explodiu o Parlamento alemão e colocou a culpa nos comunistas, logo em seguida implantou sua ditadura. No Brasil mesmo, em 1937, o então capitão Olímpio Mourão Filho montou um plano conhecido como Cohen, que permitiu a Getúlio Vargas implantar o Estado Novo, um período cruel e ditatorial, com o pretexto de combater o comunismo. O plano se viu mais tarde foi montado para isso. Mourão, em 1964, colocou as tropas na rua para iniciar o processo de derrubada do governo João Goulart. Uribe não fez diferente e nem faz na Colômbia em relação às FARCs e ao ELN (respectivamente Forças Armadas Revolucionárias Colombianas e Exército de Libertação Nacional) e Bush não usou estratagema diferente quando imputou a Saddam Hussein “armas de destruição em massa” para invadir e ocupar o Iraque, se apropriando do petróleo. E é essa a prática de Israel em relação aos Palestinos. Cotidiano ao longo de anos e anos. Invadem o país Palestino, prendem, ocupam, saqueiam, destroem, matam, torturam, estupram e depois chamam os Palestinos de terroristas e encontram eco em boa parte da mídia. E ainda procuram justificar com as escrituras sagradas. *Laete Braga é Jornalista

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