Laerte Braga*
O Senado Federal deve ter um serviço médico com psiquiatras para atender a senadores em caso de surtos e delírios dos mais variados matizes, dentre os quais, a mão direita escapando e gritando “herr Hitler”.
Se não tiver tem que providenciar urgente. Nessas duas últimas semanas dois senadores surtaram de forma impressionante. Podem levar riscos à população, aos seus pares e pior, caírem num ridículo sem tamanho, principalmente porque a GLOBO dá cobertura a esse tipo de show no estilo popularesco de nobres atirando ovos podres em “vagabundas”.
Nem todo mundo sabe quem é Gerson Camata. Ou que é senador da República, foi governador do Espírito Santo, mas todo mundo sabe quem é Rita Camata, deputada federal, ex-vice (candidata) na chapa de José Serra e que em tempos idos foi miss qualquer coisa. Gerson é marido dela.
O marido da deputada, digo o senador Gerson Camata, seguindo a linha Artur Virgílio, rodou uma baiana falsificada no plenário do Senado e em alto e bom tom, o que indica um surto em estágio avançado, acusou as FARCs (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas) de estarem atuando na fronteira dos estados de Minas e Espírito Santo e causando prejuízos à CIA VALE, antiga VALE DO RIO DOCE.
Fora da realidade, completamente, o senador acusou o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a Via Campesina, de serem braços das FARCs no Brasil e particularmente nos dois estados.
O descontrole do senador se deve, entre outras coisas, ao fato da VALE ser doadora de recursos para suas campanhas eleitorais e talvez tenha envolvido Minas Gerais na história por sua amizade com o governador Aécio Neves, amizade de família, outro destrambelhado que governa (quer dizer faz que governa, Drusila chamada de Andréa é quem governo um lado, Anastásia governa do outro) seu estado diretamente do Rio de Janeiro.
No auge do ataque, o senador Camata em piruetas verbais capazes de colocarem em risco a liderança do senador Artur Virgílio e levar o troféu de “sou, mas quem não é” deste ano com larga antecipação, afirma que na Europa esse tipo de movimento já não existe mais, usa a expressão “subversivo” e ainda enrola a ABIN (Agência Brasileira de Informações), quando declara que ela sabe da atuação das FARCs em território nacional.
Camata dá um surto desse porte, dessa magnitude, mas não rasga dinheiro e nem sai pela rua pelado gritando que os comunistas estão debaixo da cama conspurcando a família brasileira. Isso não, nessa hora sabe contar de um a dez direitinho. Ainda não chegou ao “estágio Andrada”, um dos mais avançados desse tipo de surto.
Proclama-se católico e mostra-se preocupado com a presença de padres e bispos ao lado dos que chama de “subversivos”, mas nem por um instante se diz revoltado ou indignado com a predação ambiental da VALE e da ARACRUZ, faz referência à violência dessas empresas contra índios, quilombolas e camponeses, ou à grossa marmelada que resultou na privatização da VALE DO RIO DOCE, muito menos da posição de governos da Europa, como o da Suécia, que saiu fora da ARACRUZ, por considerar a empresa responsável por destruição ambiental e violência.
Ou, faz menção ao pedido de desculpas do embaixador da Suíça apresentado a mulheres da VIA CAMPESINA pelo assassinato de um dos integrantes do movimento, mostrando-se, ele e o governo suíço, revoltados e em desacordo com os métodos dessa gente. Essa gente leia-se empresas.
É claro que a mídia vai mostrar todo o “patriotismo” alucinado do senador, defensor da moral, da família, dos bons costumes e da contribuição da VALE às suas campanhas eleitorais. E nem vai tocar nas denúncias contra empresas que vão comprando o Brasil e fazendo o que bem entendem, a seu bel prazer, no esquema da violência usual (pistoleiros) e da destruição ambiental que chamam de progresso.
Para se ter uma idéia da “grandeza” do senador marido da deputada, vale trazer à lembrança alguns fatos interessantes e que podem explicar o “surto” do “marido”.
Vamos lá. Revista ÉPOCA, edição 210, 27 de maio de 2002:
“Pára com isso, Silvério!” – Tramita no Superior Tribunal de Justiça um processo baseado na gravação de uma conversa por telefone em que o diretor de operações do DER durante o governo Camata, Marcos Madureira, pede propina de 10% sobre o valor de um contrato de R$ 70 milhões a José Silvério de Vasconcelos Barros, dono da empresa mineira CAB. ÉPOCA teve acesso à transcrição do diálogo, ocorrido em 1988. Nele Madureira afirma que Camata também receberia a comissão, destinada ao caixa de sua campanha à reeleição ao governo do Estado. ”Escutei essa gravação e demiti Madureira”, conta o deputado Max Mauro (PTB-ES), ex-aliado e sucessor de Camata no governo. O Supremo Tribunal Federal julgou que a gravação não pode ser considerada prova – porque foi feita sem autorização judicial. Basta ler os diálogos para ficar comprovado que o próprio Silvério gravou a conversa, chegando a induzir o interlocutor a dizer o que ele queria.
Ainda assim, o processo continua. ”Essa fita é perseguição de Max Mauro, que foi quem indicou Madureira para meu governo”, diz Camata. “Eu nunca falei isso”, afirma Madureira, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, um dos poucos a colocar em questão a autenticidade da gravação. Em um trecho da conversa, digna do humorístico Casseta & Planeta, Madureira é levado a responder à pergunta se daria recibo para a propina: ”Eu vou dar recibo, p...? Pára com isso, Silvério!”
Infere-se, como gostam de dizer os causídicos, que a gravação só não foi aceita por não ter sido feita com autorização judicial, logo, não foi contestada e nem negada a sua autenticidade.
E mais, na mesma revista, na mesma edição:
“Agenda – O empresário capixaba Toninho Roldi, conhecido financiador de campanhas eleitorais no Espírito Santo, morreu há um ano, de câncer, quando fugia da prisão preventiva decretada pelo assassinato de um prefeito e de um advogado. Mas parte de seu arquivo pessoal está em mãos de integrantes da CPI do Narcotráfico. Entre os registros, está a contabilidade de um suposto caixa dois de candidatos apoiados pelos Camata. O nome de Rita aparece sob a rubrica da empreiteira Mendes Junior em contribuição dada à campanha do candidato que ela apoiava para a prefeitura do município de Pinheiros. “Não tenho registro disso. Não sei fazer isso e defendo o financiamento público de campanhas”, disse ela. Na lista de Toninho Roldi também aparece o nome de Rogério Camata, irmão de Gerson, que disputou vaga na Câmara Municipal de Rio Bananal. “Não pedi e não recebi nada de Roldi. Se ele ajudou é porque candidatos devem ter pedido. Além disso, as agendas são papel datilografado, que nem sequer foram periciadas”, argumenta Gerson”.
Registre-se que à época, sem trocadilhos, o senador marido da deputada contrariava os interesses da ÉPOCA (assim, com letras maiúsculas) mas, como no mundo das máfias tudo é possível e tudo é “apenas negócios” o senador marido da deputada hoje é um dos capatazes dos mesmos interesses.
Os trechos acima transcritos podem ser encontrados no site http://epoca.globo.com/edic/210/brasil1b.htm.
É surto sim, mas outra “modalidade”. Indignação fingida e muito bem remunerada. O tipo bonzinho, que ajuda, caridoso, está sempre com uma pasta quase maior que ele próprio cheia de imundícies e quando não corre o risco de ser ouvido se proclama “perigoso”. Na hora de mostrar o “perigo” aperta o passo e entra pela galeria.
Gerson Camata é só o marido da deputada e um senador muito bem “remunerado”.
Laerte Braga* é Jornalista
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