quinta-feira, 13 de março de 2008

A forma de ver as coisas

Prof. Antônio Lopes de Sá* As idéias que povoam a nossa mente representam todo um complexo de percepções. Observamos coisas, imaginamos outras, mas, existe o que nos faz sentir que somos nós mesmos. Essa percepção do "si", presente desde o início até o fim de cada dia, por sua vez se divide naquilo que mesmo não percebido a cada instante acha-se, todavia, impregnado em nós e que é o "eu interior". Esse "interior" nos comanda e possui uma vigorosa estrutura que sempre está a merecer de nossa parte indagações para que possamos evoluir. Ainda existe a ponderar que a Neurobiologia molecular hoje informa que nos é transferida pelo nascimento uma identidade de comportamento, impregnada em nosso ADN ou DNA, aminoácido responsável por nossa natureza biológica. Embora os estudos sobre a questão não tenham permitido um completo entendimento, a verdade é que tudo faz crer que eles caminham no sentido de explicar as origens da vida. O recebido, o percebido, o raciocinado, dita nossas ações. Cada ser é, a um só tempo autor, ator e platéia no espetáculo da existência. Existe uma autêntica "anatomia da consciência". Cada um possui diversas manifestações do "si" e existem verdadeiros "territórios cerebrais". Importante é entender que apesar dos efeitos do herdado possuímos também a capacidade de construir em tal sistema este que influi sobre nossa forma de comportar. O que comumente se atribui como "feitio" de cada um pode ser ao longo do tempo modificado. O entendimento dessas realidades é determinante face ao que somos e procuramos ser. Felicidade ou infelicidade é uma variável dependente de nossos pensamentos e nestes se funda. Assim sendo, o que faz a felicidade de manhã pode fazer infelicidade à tarde, dependendo da forma de pensar. Recordo-me de um fato acontecido em minha época de estudante que foi determinante exemplo em minhas reflexões. Um colega meu era do interior do Estado, filho de abastado fazendeiro. Pela manhã havia-me dito que se tivesse cinqüenta mil reis seria o ser mais feliz da Terra naquele dia. À tarde estava colérico; perguntado sobre a razão disse-me que na rua havia por acaso encontrado um conterrâneo ao qual o seu pai havia incumbido de entregar-lhe cem mil reis, mas, que não o tendo encontrado havia gastado parte do dinheiro e entregara-lhe, então, o saldo e que eram cinqüenta mil reis. Os mesmos cinqüenta mil reis que faziam a felicidade pela manhã eram os que promoviam a infelicidade no fim do mesmo dia. A forma com a qual vemos as coisas muito influi sobre a nossa maneira de pensar e esta é a que determina o governo de nosso cenário em cada momento. A consciência do "si" deve implicar permanente indagação sobre o que deveras somos ou como nos fizemos ser. O uso de nossa razão, através da análise de nós mesmos enseja penetrar no referido "eu interior", oferecendo possibilidades da conquista da felicidade pelo conhecimento de nós mesmos. Grande parte dos aborrecimentos é defluente de imagens distorcidas sobre a vida, do erro de estabelecer a prevalência do que é negado sobre o que é permitido, ainda que este seja a quase totalidade. *Prof. Antônio Lopes de Sá é Doutor em Letras, honoris causa, pela Samuel Benjamin Thomas University, de Londres, Inglaterra, 1999 Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, 1964. Administrador, Contador e Economista, Consultor, Professor, Cientista e Escritor. http://www.lopesdesa.com.br/

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