quinta-feira, 20 de março de 2008

À espera das grandes batalhas

Ailton Alves*
Chega um momento, no futebol e na vida, em que é preciso participar de batalhas. Não falo dos embates comuns, do dia a dia, os quais quem procura acha ao dobrar as esquinas. Nem das lides democráticas, duelo mais na retórica que tudo. E muito menos dos confrontos amorosos e filosóficos como um jogo de xadrez, onde, cavalheiristicamente, avisa-se ao rei que ele está em xeque, que o soberano está nu. Falo de coisa grande, de batalhas épicas que, talvez, nenhum de nós, contemporâneos do fato, sejamos capazes de dimensionar. Quer o destino que as nossas batalhas - as maiores da nossa existência, as decisivas para conquistar esse império chamado Minas, as necessárias para se colocar no peito a faixa de campeão das Gerais - sejam disputadas longe do nosso solo, da outrora fazenda de um juiz de fora. Está bom. Os grandes exércitos enfrentaram, realmente, distância, pântanos, montanhas, tempestades e neblinas para vencer. Ademais, não corremos o risco de sermos humilhados em nosso território, que um aventureiro qualquer ouse triunfar no mítico estádio Radialista Mário Helênio, deixando-nos, além da água da sempre presente chuva, as lágrimas. As batalhas as quais me refiro, porém, são coisas arrumadas, avisadas, civilizadas, marcadas com antecedência pela Federação que supervisiona os exércitos. Sabíamos todos, desde o início do campeonato, que chegaria a hora desses combates, contra 200 anos de história. O primeiro, domingo, com o Atlético, clube centenário (a partir do dia 25), no Mineirão, na capital de todos os mineiros, ali perto da Lagoa da Pampulha e do Zoológico. O segundo embate, na quarta-feira, dia 26, contra o Villa Nova, também agremiação secular (a partir de junho), no alçapão, bem perto da Mina de Morro Velho, propriedade dos ingleses, que fundaram o Leão do Bonfim. É recomendável que se chegue às batalhas em vantagem. O Galo tem esse trunfo. Contabiliza 18 territórios conquistados, à frente do Cruzeiro, Rio Branco, Atlético e outros oito exércitos. É de bom tom apresentar-se para as batalhas confiante. O Galo está. A vitória de domingo contra o Democrata de Sete Lagoas, com um gol aos 44 minutos do segundo tempo, trouxe-nos esse dom e transformou a contagem regressiva em algo mais do que uma brincadeira de rodapé: agora faltam sete jogos e 48 dias para o Tupi ser campeão mineiro. Por fim, é vital que se queira, realmente, vencer as batalhas. Talvez nem seja necessário fazer as árvores se moverem parra derrotar a soberba dos macbeths, aqueles que mancham os tronos de sangue - "comer grama" pelas vitórias é o bastante. Possivelmente não seja preciso evocar São Valentim, como fizeram as tropas de Henrique V - já está bom entoar, antes das partidas, o hino do Tupi: (...) surge na luta a chama viva da esperança/ E o Galo forte carijó não tem rivais/ Grandes vitórias sempre alcança/ E vive a glória dos imortais. *** Esta crônica é dedicada a Paulo Rogério dos Santos, devoto de São José, um santo guerreiro - como ele mesmo, muitas e muitas vezes, disse.
*Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo, formou-se em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em 1992. Trabalhou no Diário Regional de 1994 a 2000, como repórter de região, especial e política, e como editor e cronista esportivo. Neste mesmo período exercia a função de noticiarista na Rádio Manchester Em 2000, foi para o Jornal dos Sports, onde atuou como editor-chefe, crítico de cinema e cronista esportivo Em 2003, participou do programa Mesa de Debates da TVE - Juiz de Fora Foi repórter de política no jornal Tribuna de Minas e já atou na editoria de Esportes Em 2003, publicou o livro "Meus Sonhos são bastante razoáveis" Em 2004, publicou "A Saga dos Carijós" Em 2006, lançou "Cidadão do mundo" Fonte: http://www.acessa.com/

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