sábado, 8 de março de 2008

Companheira de Carlos Marighella recebe indenização do governo

Claudia Andrade Em Brasília A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça decidiu nesta sexta (07/03) que Clara Charf, companheira de Carlos Marighella, fundador da ALN (Ação Libertadora Nacional), tem direito a uma indenização mensal vitalícia de R$ 2.520. Clara enfrentou repressão desde 1946, quando começou a militar politicamente, e o risco de ser presa a fez abandonar a carreira de aeromoça, o que influenciou no valor determinado pela comissão. As contas foram feitas levando-se em consideração o rendimento que a anistiada teria tido caso tivesse continuado a trabalhar. Aos 83 anos, Clara atua no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e articula a rede Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo. Ela pode recorrer do valor determinado em um período de 30 dias. No entanto, ela tomou a palavra para solicitar que ninguém entrasse com recurso e deixar claro que não o faria. "O Estado jamais vai poder pagar as vidas das pessoas. O que a gente tem que pedir é que isso não se repita no Brasil. O mais importante não é o dinheiro, mas o valor dessa comissão para tornar público o que aconteceu", disse a anistiada, aplaudida de pé pelo público que acompanhou a sessão aberta. Também receberam indenização outras seis anistiadas. Ana Wilma Moraes, que era secretária, e Maria do Socorro Magalhães, que era professora, também receberão prestações vitalícias. As outras quatro anistiadas, que eram estudantes ou não tinham como comprovar vínculo empregatício à época da perseguição, receberão uma indenização única, com valores calculados de acordo com o período em que sofreram repressão, mas com teto estipulado de R$ 100 mil. É o caso de Estrella Dalva Bursztyn, Halue Yamaguti de Melo e Nancy Mangabeira Unger - irmã do ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger. Os sete casos analisados nesta sexta representam uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado neste sábado, e fazem parte de um universo de 60 mil requerimentos recebidos pela comissão. Metade deles já foi analisada e 50% foram deferidos. A previsão é que todos sejam julgados até 2010, ainda durante o mandato do presidente Lula. A mensagem de Clara Charf encontrou respaldo na de outras anistiadas. Para Ana Wilma, "dinheiro nenhum paga o que minha família sofreu. O mais incrível foi entrar no Ministério da Justiça pela porta da frente, porque eu sempre entrei nos órgãos do governo encapuzada." Para Estrella Dalva, "a questão de ser indenizada é mais simbólica do que real para as anistiadas, mas a iniciativa é muito importante e espero que possa se estender". "O Estado brasileiro deve a nós, mas também deve ao povo, à população. Este é um momento extremamente importante para se falar de tudo aquilo que ficou escondido durante a ditadura, para que seja restituída a história." Além das indenizações, as sete mulheres foram declaradas oficialmente anistiadas políticas e receberam um pedido de desculpas em nome do Estado, da conselheira que presidiu a sessão, Sueli Bellato. Os julgamentos foram precedidos de um painel com a participação de Iara Xavier, familiar de desaparecidos políticos, Therezinha Zerbini, escritora e militante política, e Adelina Dematti de Alaye, uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio, da Argentina. Em sua palestra, Therezinha lembrou que foi "hóspede" da ditadura com Dilma Rousseff, atual ministra-chefe da Casa Civil. Ressaltou a necessidade de se contar a história das mulheres perseguidas políticas e lembrou que "direito não se pede, se exige".

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