quarta-feira, 5 de março de 2008

América Latina

Colômbia: um país em busca de si 02ª - parte Por RUDÁ RICCI* A crise que se abate sobre a Colômbia tem cerca de 50 anos. Desde 1946 com mortes em uma campanha presidencial, o país vive uma divisão sangrenta (...). As FARC nasceram nos anos 60 combatendo a miséria [a partir] dos ideais da revolução cubana e de Che, pela liberdade e o socialismo. Em meados dos anos 80 as FARC deixaram as armas e decidiram participar do processo eleitoral. Com um apoio popular foi organizado o movimento União Patriótica, que reunia representantes de vários movimentos sociais da Colômbia, trabalhadores, intelectuais, militantes populares e sindicalistas. A UP conquistou uma grande vitória, encerrando o domínio dos partidos Liberal e Conservador. Venceu em mais de 300 prefeituras, elegendo mais de 10 senadores e mais de 50 deputados. Durante a campanha o candidato a presidente foi morto a tiros em um comício. Após menos de um ano as elites e barões da droga com apoio dos EUA, infligiram uma guerra contra a UP e mais de 50% dos deputados e prefeitos eleitos foram assassinados. As FARC tiveram que reorientar sua política e voltar as selvas e a guerrilha. (...) A central sindical CUT, por exemplo teve mais de 10 dirigentes assassinados nos últimos 6 anos. (...). Em um encontro internacional latino americano realizado em Niterói, há cerca de três anos, organizado por entidades sociais como o MST, o presidente do PCC - Partido Comunista da Colômbia, que é professor da Universidade em Bogotá, deu um depoimento de que ele só saia de casa, para reuniões, ou dar aulas com seguranças armados já que era constantemente vítima de ataques e ameaças contra a sua vida, já que tantos integrantes do partido e dos movimentos sociais tinham sido, seqüestrados, assassinados por esquadrões da morte. Em outubro do ano passado, estive reunido com Guillermo Asprilla, militante político da Colômbia, que completou o cenário que procuro descrever. Asprilla afirmou que em 1991, com o pacto que gerou a Constituição Política da Colômbia, o movimento guerrilheiro M19 entregou suas armas e constituiu-se como partido. Conseguiu, em seguida, apenas 10% dos votos e desapareceu aos poucos. A partir de seu desaparecimento, todo pacto estabelecido pela Constituição de 91 (fundado no modelo de Estado de Bem-Estar Social Europeu, influenciado pelo municipalismo citado por Fábio Velásquez) foi esquecido pelo novo governo. Em seguida, implantaram-se iniciativas governamentais de tipo neoliberal e aflorou uma estrutura paramilitar que hoje ocupa toda costa leste e controla 33% do Congresso Nacional. Mesmo assim, citou experiências inovadoras, como as "Constituintes Locais". Há quinze dias, o Foro Nacional por Colômbia divulgou nota pública, rechaçando a possibilidade de nova reeleição de Álvaro Uribe, que possui contraditoriamente, altos índices de popularidade. A tensão política colombiana chega, assim, a um ponto de ebulição imprevisível, agora envolvendo diretamente vários países vizinhos. As FARC têm, hoje, como reféns 800 civil, 23 políticos e 47 oficiais do Exército. Exigem a troca por mais de trezentos guerrilheiros presos. Os segmentos e instituições mais equilibradas e comprometidas com a democracia da Colômbia ficam reféns, a partir de agora, de um jogo tenso entre países do Continente. Nunca o futuro da Colômbia esteve tão intimamente vinculado à geopolítica regional. Se antes, o governo norte-americano procurava ditar o futuro do país, a partir de fartos recursos injetados para "combate ao narcotráfico", agora a polarização ideológica é evidente e radical. O país parece na ante-sala de mais uma profunda crise institucional, emoldurada pelas disputas internacionais de toda região vizinha. Uma situação que não interessa em nada aos colombianos. E tampouco ao Brasil. *Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais, Diretor Geral do Instituto Cultiva, membro da executiva nacional do Fórum Brasil de Orçamento e do Observatório Internacional da Democracia Participativa. SITE: www.cultiva.org.br . BLOG: rudaricci.blogspot.com E-MAIL: ruda@inet.com.br

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