sábado, 29 de março de 2008

1964 – O ANO QUE A LUZ APAGOU - 2ª Parte

Laerte Braga*
O golpe de 1º de abril de 1964 aconteceu numa clara intervenção política dos Estados Unidos no Brasil (se estenderia a toda a América do Sul depois), montada e orquestrada pelas classes dominante, à frente a paulista e a cooptação dos militares comandados por Washington se deu pela presença do general Vernon Walthers. A presença do Brasil na IIª Grande Guerra aconteceu como parte da força norte-americana e Walthers era o oficial de ligação entre os militares brasileiros e o comando dos EUA. Falava fluentemente o português e era amigo entre outros de Castello Branco, primeiro "presidente" do círculo/circo de horrores militar. Olímpio Mourão Filho, comandante da IV Região Militar, sediada em Juiz de Fora, Minas Gerais foi apenas um instrumento da chamada linha dura (extrema-direita) que buscou antecipar-se ao golpe dentro do próprio golpe e foi logo engolido pelo grupo pró-EUA. Mourão era ligado a Juscelino e sua história registrava a montagem do chamado Plano Cohen. Um plano criado para implantar a idéia do perigo comunista e permitir a Getúlio Vargas, em 1937, o golpe do Estado Novo. Permitiu o elemento surpresa e desmontou o esquema militar do presidente Goulart, montado por seu chefe de Gabinete Militar, general Assis Brasil, num momento que o então ministro da Guerra (hoje do Exército), Jair Dantas Ribeiro se encontrava hospitalizado e acéfalo o Estado Maior janguista. O próprio Jango desistiu da reação quando já no Rio Grande do Sul forças legalistas sob o comando do general Ladário Teles garantiam ao presidente condições efetivas de enfrentar os golpistas, até porque Leonel Brizola já havia tomado também o governo do Estado (o governador Ildo Meneghuetti fugira para o interior). O golpe, num primeiro momento, promoveu uma limpa dentro das próprias Forças Armadas evitando qualquer reação à frente e tratou de isolar o marechal Teixeira Lott, principal liderança legalistas, mas na reserva. O grupo militar vencedor passou a executar a política de horrores das prisões indiscriminadas, da barbárie da tortura, dos assassinatos políticos, de operações conjuntas com outras ditaduras na América do Sul, a chamada Operação Condor, transformando, definitivamente, o perfil do País e dessa parte do continente americano, atrelando-o aos interesses dos Estados Unidos, conduzidos pelos verdadeiros donos do poder. As elites do campo e da cidade, latifundiários, banqueiros, grandes empresários. Três figuras se destacam como representantes diretos desse meio. Roberto Campos, Delfim Neto e Mário Henrique Simonsen. Assim como Pedro Malan foi o mais qualificado funcionário norte-americano no período dito democrático, o governo de Fernando Henrique Cardoso (punha e dispunha, controlava o presidente e sua vaidade inclusive). A sístole e a diástole definidas por Golbery são uma realidade. Lula está fora desse contexto independente de maior ou menor avaliação de mérito de seu governo e tem razão quando afirma que a oposição "destila ódio". Está possessa por não ter a chave do cofre e por não poder mostrar serviços efetivos aos que pagam e controlam, Washington. Os militares? Foram apenas os bárbaros e cruéis executores da parte da borduna nesse processo todo, falo de 1964. A Polícia qualificada dos Estados Unidos, os executores das ordens das elites. Coube a eles o serviço sujo e o fizeram com tal zelo que até hoje devem ao Brasil e aos brasileiros a explicação e a verdade de toda a imundície subterrânea do ódio e da violência. Ao abraçar a tese que as Forças Armadas não podem ser "desmoralizadas" pelos excessos do período, ou que estavam em guerra (quebraram a ordem constitucional), na verdade, de fato se desmoralizam, de fato e diante da História. Como afirmou Samuel Johnson, "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas". Escudaram-se nessa doença típica da extrema-direita. Entre 1964 e 1984 a luz esteve apagada numa escuridão sangrenta e estúpida promovida pela ditadura. Hoje a luz está acesa, mas teimam em tentar apagá-la, mesmo que sob a batuta de uma farsa democrática. O que existe de fato é a velha luta de classes. E continua a não existir saída no chamado mundo institucional, mero instrumento para o processo revolucionário no sentido real da palavra. Se em 1964 vivíamos o fascínio da revolução que libertou Cuba, hoje vivemos a realidade de Hugo Chávez e do bolivarianismo. Evo Morales, Rafael Corrêa (mas ainda devendo algumas explicações sobre o ataque terrorista da Colômbia que matou Raúl Reyes) e governos com maior nível de independência em relação à matriz. Dentre eles o Brasil. E num contexto de uma única superpotência, mas tal e qual os tempos do Vietnã, atolada num fracasso político e militar no Iraque. As personagens sombrias como Carlos Lacerda, Ademar de Barros, Magalhães Pinto e outros foram engolidos na voracidade desse monstro e só se perceberam instrumentos quando do momento da execução (política). 1964 não foi nada além de uma quartelada e um capítulo da luta de classes. Naquela batalha vencida pela barbárie. A luta permanece, noutro contexto de tempo e espaço, mas é basicamente a mesma.
*Laerte Braga é Jornalista

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