A unificação dos títulos

por Alexandre Magno Barreto Berwanger*

O QUE FOI A TAÇA BRASIL ( 1959 – 1968 )
Torneio oficial, organizado e patrocinado pela CBD em suas dez edições, tendo a sua criação visado indicar os representantes do Brasil na Taça Libertadores da América, disputada em formato um tanto parecido com o da Copa do Brasil, através de mata-matas, com os clubes cariocas e paulistas entrando diretamente nas semifinais na maioria das edições, dada a disparidade técnica que se atribuía em favor destes dois estados em relação aos demais. Este conceito começou a mudar com a vitória contundente do Cruzeiro na edição de 1966, reforçado pela inauguração do Estádio do Mineirão, que aconteceu um ano antes, já que, exceto RJ e MG, os demais estados não tinham ainda estádios de porte como esse, mesmo São Paulo, já que o Estádio do Morumbi seria concuído apenas em 1970.

O QUE FOI O TORNEIO ROBERTO GOMES PEDROSA ( 1967 / 1970 ).
Torneio oficial, organizado e patrocinado em sua edição inicial, em 1967, pelas federações carioca e paulista, como ampliação do antigo Torneio Rio-São Paulo, com quinze clubes na primeira edição e dezessete nas demais. Sucesso técnico, de mídia e de público retumbante, foi incorporado a partir de 1968 pela CBD, que até 1974 os considerava em seus boletins oficiais como campeonatos nacionais, misturando as estatísticas destas competições com as das edições iniciais do Campeonato Brasileiro, que ganhou essa nova denominação em 1971, chamado então de Campeonato Nacional de Clubes, e cujo nome variaria durante a sua história até a forma como o tratamos hoje, não tendo sido organizados e patrocinados pela CBF, entidade precurssora da antiga CBD, em 1987 e em 2000, embora reconhecimento posterior, diferente do que ocorreu com o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que contou em todas as suas edições com os doze maiores clubes do futebol brasileiro, além de outros grandes clubes, disputadas inicialmente em turno único onde todos jogavam contra todos e incluía uma fase final com os quatro melhores colocados disputando o título.

QUANDO O TORNEIO ROBERTO GOMES PEDROSA DEIXOU DE SER APONTADO COMO CAMPEONATO NACIONAL PELA CBD.
Até 1974, a CBD publicava em seus boletins oficiais relação dos campeões do Torneio Roberto Gomes Pedrosa como campeões nacionais, acrescentando-os em suas estatísticas, modificando a redação posteriormente para satisfazer os interesses da Ditadura Militar, pois bem diferente dos rentáveis e de excelente nível técnico campeonatos de 1967 a 1970, os campeonatos nacionais passariam a ser instrumentos para satisfazer os interesses da ARENA, partido que apoiava a ditadura, com a inclusão de um número crescente de clubes, em geral de localidades onde a ARENA precisava de votos ou pretendia se expandir.

Nestes mesmos boletins, a CBD, ao contar a história do progresso do campeonato nacional, colocava o Torneio Rio-São Paulo como precursor do Torneio Roberto Gomes Pedrosa e em nenhum momento citava a Taça Brasil como competição integrante do campeonato nacional.

Modificando-se na atualidade a interpretação histórica oficial de então, muito bem documentada, considerando-se a Taça Brasil como a primeira competição nacional de clubes, e por isso mesmo, devendo fazer parte desta lista, ela perde totalmente o sentido em 1967, com a criação do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, sendo que em 1968 nenhum clube de São Paulo disputou a competição, fracasso técnico, de mídia e de público que foi, pois na prática, as duas últimas edições já não faziam mais sentido, com a criação do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, tendo o Palmeiras sido campeão fa Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1967.

O Santos, que facilmente foi campeão de seis edições da Taça Brasil disputando apenas vinte e quatro jogos no total, não teve sucesso igual no Torneio Rio-São Paulo, de nível técnico muito mais elevado que a Taça Brasil, embora conquistasse outros quatro títulos, mas dois deles, como co-campeão.

POR QUE ACEITAR A TAÇA BRASIL COMO EQUIVALENTE AO CAMPEONATO BRASILEIRO.
Aceitando-se a inclusão da Taça Brasil, mesmo das edições de 1967 e 1968, pois seria mais estranho ainda do que aceitar a Taça Brasil, deixar duas de suas edições de fora, por outro lado, valoriza-se mais a história do futebol brasileiro, de seus clubes e craques, fator positivo para a aceitação da Taça Brasil como competição integrante do campeonato nacionaL.

Embora o Torneio Rio-São Paulo tivesse nível técnico mais elevado do que a Taça Brasil e fosse disputado sem as distorções do sistema mata-mata, não recebia por parte da CBD o reconhecimento de campeonato nacional, já que oficialmente era apenas apontado como campeonato interestadual precurssor do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, nos boletins oficiais de nossa confederação.

Não havia no Brasil, entre 1959 e 1966, outro torneio com o caráter nacional para apontar o melhor time do país como a Taça Brasil, torneio que preenche esta lacuna histórica, numa época de ouro do futebol brasileiro e que contou com a participação de 16 a 21 estados brasileiros em suas edições.

Mesmo considerando-se a vitória do Cruzeiro em 1966 como um marco na história do futebol brasileiro, não se pode deixar de reconhecer a campanha expressiva do Bahia na sua conquista histórica de 1959, tendo participado de todas as fases da competição, quando fez quatorze partidas, com nove vitórias, dois empates e apenas três derrotas, vencendo na final de forma convincente o grande time do Santos, do Rei Pelé, que seria o time mais vitorioso do Brasil na década de 1960.

Os campeões da Taça Brasil, no período acima, assim como os do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, recebiam da imprensa e do público reconhecimento como campeões nacionais.
*Alexandre Magno Barreto Berwanger é Pesquisador
Fonte: www.campeoesdofutebol.com.br