terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Futebol (Brasil Afora)

Ex-elite, Desportiva quase teve Zico, mas ficou com Fio

Time tradicional nos primeiros anos de Brasileirão, clube fechou as portas nos últimos meses e não sabe se disputará a Segunda Divisão capixaba

Uma lista com nomes de jogadores do Flamengo. Assim a Desportiva Ferroviária iniciou o planejamento para a disputa de seu Campeonato Brasileiro, em 1973. Com uma boa relação com o clube carioca, os dirigentes capixabas apostavam em jogadores pouco aproveitados no Rubro-Negro. Zico, então com 19 anos, estava na relação e foi o escolhido. O sonho, entretanto, durou pouco, uma vez que a negociação foi imediatamente vetada pelo técnico Zagallo. Com a negativa, o folclórico Fio Maravalha acabou desembarcando no Espírito Santo.

O centroavante dentuço, no entanto, não marcou gols e o clube da então estatal Vale do Rio Doce teve apenas uma participação discreta. Terminou o Brasileiro na 27ª colocação, em um ano em que a competição contou com 40 participantes. Essa foi a marca da Desportiva na Série A. Sem muito brilho, mas sempre presente. Nome certo até 1982, a melhor campanha aconteceu em 1980, quando ficou em 15º. Na ocasião, com um empate sem gols na Vila Belmiro contra o Santos, ajudou o Flamengo a avançar de fase e conquistar seu primeiro título nacional. Neste período, o clube revelou o meia Geovani, grande ídolo do Vasco anos depois. Na década de 80, grandes nomes como Andrade e Washington (Fluminense) também fizeram sucesso no Engenheiro Araripe.

Da Série A ao esquecimento
Realidade bem diferente dos dias atuais. Os tempos de coadjuvante no cenário nacional ainda deixam muitos torcedores grenás saudosos. Já faz 17 anos da última participação na Primeira Divisão, em 1993. E nenhuma perspectiva de retorno a curto ou médio prazo. Nem no âmbito estadual o clube se destaca. Hoje, inclusive, paira a dúvida se a Desportiva disputará a próxima Série B do Campeonato Capixaba, um dos mais fracos do Brasil. Rebaixado neste ano, o futebol do clube ficou fechado durante todo o segundo semestre (exceto a base). Embora os dirigentes afirmem que o time jogará no ano que vem, nenhum representante apareceu em qualquer edital da competição.

No cenário nacional, o último suspiro da Desportiva aconteceu em 1998, quando ficou na 03ª colocação da Série B, atrás apenas de Gama e Botafogo-SP. Desde então, uma sucessão de erros levou o clube à situação atual. Em 1999, afundou no Campeonato Estadual com um time que contava com o zagueiro William (ex-Corinthians), Mauricinho (ex-Vasco e Botafogo) e Jéferson Feijão (ex-Intenacional). Os resultados ruins dentro de campo, entretanto, não foram as únicas mudanças no clube, que sofreu transformações radicais em sua estrutura.
- Com a privatização da Vale do Rio Doce e o fim dos investimentos, o clube foi vendido ao grupo Villa-Forte, transformou-se em clube empresa e passou a chamar-se Desportiva Capixaba. A Ferroviária continuou com 49% das ações, mas sem poder algum no futebol – conta o jornalista Bruno Marques, autor do livro “Os trilhos da história - Memórias da Desportiva Ferroviária”.

Clube-empresa
Com os novos donos, porém, não foram apenas o escudo, a cor da camisa e o nome que mudaram. A situação dentro de campo foi de mal a pior. Em 2001, o rebaixamento para a Série C. No ano seguinte, a primeira queda para a Segunda Divisão capixaba. Na sequência, altos e baixos no cenário estadual, que chegou ao cumulo do fechamento provisório do futebol do clube em 2005.

Uma tentativa de reação aconteceu duas temporadas depois. Após anos sem esperança, a torcida grená voltou a sonhar com voos mais altos em 2007. De volta à Primeira Divisão capixaba, o clube investiu na contratação do atacante Sávio – formado nas categorias de base da Desportiva. O jogador desembarcou no Engenheiro Araripe com status de estrela e foi a grande atração do Campeonato Capixaba. Formou dupla de ataque com Zé Afonso, campeão brasileiro pelo Grêmio, em 1996. O reforço de impacto levou quase dez mil pessoas em sua estreia, na derrota o rival Rio Branco. Público 25 vezes maior do que a média da competição - 400 torcedores por jogo.
Em campo, Sávio até marcou seis gols no Capixabão, mas a Desportiva foi um fracasso, só escapando do novo rebaixamento na penúltima rodada. O fiasco no investimento de peso acabou fazendo mal ao clube e ao próprio futebol capixaba.

Título 
Kieza e novo rebaixamento
Após a má experiência com Sávio e outros medalhões do futebol capixaba, a Desportiva voltou os olhos para as categorias de base e jovens revelações do futebol do Espírito Santo. Em 2008, com a fórmula da juventude, conquistou o título da Copa Espírito Santo – competição que marca o calendário local do segundo semestre.

O título sobre o grande rival Rio Branco trouxe um pouco de alento aos torcedores grenás. Em campo, destaque para o atacante Kieza, que despontou com a artilharia da competição, o que lhe rendeu uma negociação para o Americano-RJ. De clube de Campos, a revelação capixaba seguiu para Fluminense e Cruzeiro, antes de disputar a Série B pela Ponte Preta, em 2010.

Na atual temporada, no entanto, tudo desandou. A começar pela demora no planejamento para a disputa do Campeonato Estadual. A dez dias da estreia, o clube sequer tinha jogadores para formar um time. O mau planejamento custou caro. Mesmo com contratações ao longo da competição – entre elas, a de Fábio Augusto (ex-Corinthians, Flamengo e Botafogo) -, o time grená terminou o Estadual na última colocação e, após uma batalha no TJD contra o Espírito Santo, foi rebaixado, novamente, para a Série B.

A história reservou bons e maus momentos para a Desportiva. A sensação, porém, é de que o clube - fundado em 1963 na expectativa de tornar-se um potência do futebol brasileiro, uma vez financiado por uma grande estatal, além do fato de ter estádio próprio - chegou muito aquém de onde poderia chegar. O grande número de torcedores apaixonados que conquistou no Espírito Santo não esconde o descaso dos dirigentes nos últimos anos, que deixou o time de Cariacica largado às traças.
Fonte: www.globoesporte.com

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