quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Canal 100

Victor Kingma*
Anos 60, nas telas o auge do canal 100
No início dos anos 60, ter um aparelho de TV em casa era um privilégio apenas para as famílias mais abastadas. Assistir a um bom filme no cinema, então, era um dos principais divertimentos, não só para a criançada, nas matinês, mas, também para os adultos, nas sessões noturnas.

O cinema vivia o seu auge e enormes filas se formavam nos dias de exibição dos grandes filmes. Seja pelos apreciadores de épicos, como “El Cid” ou “Os Dez Mandamentos”, de aventuras como “Tarzan, o Rei das Selvas”, um bom faroeste, nos moldes de “Duelo de Titãs” ou “Sete Homens e Um Destino”, e até uma boa comédia nacional, com o inesquecível Mazzaropi.

Naquela época, as sessões de cinema apresentavam ainda uma atração a mais: a exibição, antes dos filmes, do cine-jornal Canal 100. Fundado em 1957, por Carlos Niemeyer, o documentário sempre apresentava um resumo dos acontecimentos importantes da semana, que podia ser a inauguração de Brasília, a nova capital, em 1960, pelo presidente Juscelino Kubitscheck, a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, ou as conquistas do campeão Éder Jofre, o Galo de Ouro, no Boxe.

Entretanto, para os apaixonados por futebol, como eu, o auge do canal 100 acontecia no final, quando eram apresentados os lances do principal jogo da semana. A molecada vibrava quando o slogan do futebol
aparecia na tela, acompanhado da trilha sonora marcante que eternizou a música “Na Cadência do Samba”, do compositor Luiz bandeira e seus versos iniciais “Que bonito é”. Com sua voz grave, o locutor Cid Moreira, na época em início de carreira, era o narrador oficial.

Quando o Flamengo conquistava algum título a filmagem era ainda mais completa e vibrante, devido à grande paixão do produtor Carlos Niemeyer pelo rubro-negro.

Lembro-me bem de que, muitas vezes, eu e tantos outros amigos dos bairros Alto dos Passos e São Mateus, onde morei naquela época, íamos ao cinema, seja nos cines São Mateus, Central, Palace, Excelsior ou São Luiz, não pelo filme que estava passando, mas, pelo jogo que seria exibido pelo documentário. Todos que freqüentavam os cinemas daquela época, com certeza, guardam grandes lembranças dos tempos saudosos e marcantes do Canal 100.
*Victor Kingma é historiador e escritor
Fonte: www.victorkingma.com.br

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