quinta-feira, 6 de maio de 2010

Claudinei Coelho

Marco Antonio Campos*
É triste falar de um amigo depois que ele se foi. Mas Claudinei, além de grande profissional, era exatamente isso: um grande amigo.


Com ele trabalhei na Rádio Solar desde os tempos de Super B-3. Também na Rádio Nova Cidade e Rádio Juiz de Fora. Em todas elas pude presenciar o seu talento como radialista e humorista. Claudinei sempre estava contando piadas, muitas delas criadas por ele mesmo. Nunca se deixou levar pela tristeza ou abatimento. Seu alto astral contagiava a todos.

Ainda no início de minha carreira como radialista, tive o privilégio de substituí-lo, durante as férias, em seu programa musical diário (de segunda a sábado, das 12 às 14h) na Rádio Solar. Seu profissionalismo chegava a tanto, que Claudinei deixou gravado 30 quadros com participações de seu eterno personagem Zé do Morro dialogando comigo. Foram necessários cinco dias de gravações para que sua criação não ficasse ausente do programa. Sua criatividade era tanta, que conseguiu nesse período falar sempre de assuntos pertinentes e que nunca pareciam estar datados.

Sobre Zé do Morro, Claudinei o representava com tanto talento, que muitos ouvintes pensavam que era outra pessoa. Talvez fosse mesmo, pois o próprio Claudinei, quando falava do Zé, como carinhosamente o chamava, sempre usava a terceira pessoa. O criador se confundia com a criação. Mudando a voz, ela dava ao personagem uma característica de gente humilde representante de um povo sofrido e abusava dos erros de português para falar o que pensava. Ainda que não fosse culto, Zé do Morro era politizado e totalmente integrado aos fatos diários.

O amigo era daquelas pessoas que não temiam concorrências. Sempre pronto a ensinar o que sabia de sobra, era atencioso com os colegas profissionais e mais ainda com os ouvintes, os quais ele idolatrava mais do que era adorado. Outra característica sua foi jamais se render a imposições políticas ou econômicas em seus comentários. Falava o que tinha que falar sem medo de sofrer represálias, guardando sempre a educação como sua marca de comunicação.

Claudinei conseguia circular com igual desenvoltura por temas totalmente diversos. Programa musical, radiojornalismo, entrevistas com personalidades, debates políticos, transmissões de carnaval, de futebol e outros esportes e até na TV ele se manteve como grande profissional. Onde quer que estivesse empunhando um microfone, certamente este estaria em ótimas mãos com a certeza de um trabalho de primeira.

Infelizmente Claudinei esteve afastado dos meios de comunicação da cidade nos últimos anos. Consequência do cada vez mais reduzido espaço para o verdadeiro radialista em Juiz de Fora. Uma pena porque a cidade deixou de ouvir um raro talento em seus veículos de comunicação.

Só posso desejar que ele tenha na eternidade o merecido reconhecimento que o final da vida lhe negou. Que o amigo descanse em paz sabendo que vai deixar enorme saudade de sua alegria e presença.

*Marco Antonio Campos é Radialista

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