sexta-feira, 12 de março de 2010

Fluminense F.C.

Rio de Janeiro, 10 de junho de 1975. Félix; Toninho, Silveira, Assis e Marco Antônio; Zé Mário e Cléber; Cafuringa, Paulo César Caju, Rivellino e Mário Sérgio. Com essa fantástica linha, o Fluminense entrou em campo no Maracanã, para delírio dos 60.137 torcedores presentes. Disse 60.137, mas errei e já me corrijo: esse era o número registrado nas roletas. O amistoso organizado por Francisco Horta atraiu uma multidão soberba, muito maior que o público previsto. Dessa forma, a única solução foi abrir os portões. Havia, portanto, 100.000, ou talvez mais, testemunhas para o amistoso internacional. Sim, amigos, foi um mero amistoso. Como pode um amistoso atrair tanta gente para o Estádio Mário Filho? Era a estreia de Paulo César Caju, o ponta da seleção, que o Fluminense acabara de repatriar do Olympique de Marseille. Mas não foi somente isso que levou a multidão ao Maracanã. Foi, sobretudo, o adversário do Fluminense: die Bayern, o gigante clube de Munique, o maior clube da Alemanha e, na época, o maior time da Europa. "Esse cronista tricolor está exagerando", observam os idiotas da objetividade. Porém, os fatos me apoiam: em 17/05/1974, na cidade de Bruxelas, o Bayern de Munique havia conquistado a Europa, ao derrotar por 4 a 0 o Atlético de Madrid na final da Copa Européia (que hoje chamamos de Liga dos Campeões). E, em 28/05/1975, na cidade de Paris, o Bayern havia conquistado novamente a Europa, ao vencer o Leeds United por 2 a 0. Sim, amigos, o oponente do Fluminense era o atual bicampeão europeu. (Die Bayern ainda conquistaria o tricampeonato em 1976, batendo por 1 a 0 o Saint Étienne, em Glasgow, no dia 12/05). Vejam a constelação que envergava o uniforme de Munique: Maier; Durnberger, Schwarzenbeck, Beckenbauer e Weiss; Roth, Tortensson e Rummenigge; Zobel, Müller e Kapellmann. Sabem por quê eu destaquei cinco nomes na escalação? Porque os cinco estavam no escrete alemão, que venceu a Copa do Mundo de 1974. Eram, portanto, além de bicampeões europeus, campeões mundiais. Sepp Maier era o melhor goleiro do mundo, Franz Beckenbauer era o melhor zagueiro do mundo, e Gerd Müller era o maior artilheiro da história das Copas do Mundo. Que timaço! E como transcorreu a grandiosa batalha? Assim que entraram no gramado do Maior do Mundo, os times saudaram os torcedores e se cumprimentaram. O pontapé inicial revelou um desses jogos imortais. O Fluminense foi só pressão no começo, entusiasmando até mesmo quem não é pó-de-arroz. Aos sete minutos, Rivellino dá um "elástico" na entrada da área. O malicioso drible, inventado pelo próprio Riva, desnorteou toda a defesa alemã. Logo após, o craque da patada atômica deu um passe milimétrico para Cléber, que apareceu na cara do gol. Sepp Maier fechou o ângulo, e Cléber deslocou o goleiro. A bola, porém, não tinha como destino o gol. Acontece então o suave milagre: a pelota desvia na canela de Gerd Müller, e morre no fundo do gol. Gol contra do maior artilheiro da história das Copas. O placar do Maracanã anunciava, exaltando-se de felicidade: "Fluminense 1, Bayern 0". Era só o início da partida. O jogo se seguiu assim: o Fluminense dava espetáculo, e o bicampeão europeu se defendia. Não foi só a grande partida do Tricolor: foi também o grande dia de Sepp Maier. O arqueiro alemão defendia tudo, até pensamento. A facilidade com que detinha os disparos brasileiros, sempre bem colocado, era de arrepiar. "Isto sim é que é goleiro", urravam as testemunhas da atuação épica, nas arquibancadas, gerais e cadeiras. Começa a segunda etapa, e o show de Maier continua, com defesas incríveis e seguras. Elas eram feitas com tamanha simplicidade, que irritavam os atacantes do Fluminense e deliciavam quem as assistia. Os bicampeões europeus que estavam na linha apenas assistiam impotentes à exibição da Máquina Tricolor, comandada por Rivellino, Cafuringa e Mário Sérgio. Beckenbauer, Rummenigge, Müller, Kapellmann e os outros nada podiam fazer: era um show de bola dos astros de Laranjeiras. Apenas o arqueiro Maier conseguia deter o pó-de-arroz, com as espetaculares e milagrosas intervenções. O placar magro não traduz o domínio colossal que o Fluminense exerceu durante os noventa minutos. O time que, duas semanas antes, conquistara o bicampeonato europeu foi atropelado pela Máquina Tricolor. Amigos, o Fluminense de 1975 não foi campeão brasileiro, não foi campeão da América, e não foi campeão intercontinental. Porém, a equipe não precisava de nenhum desses canecos. Eles eram pequenos e irrelevantes diante da magnitude daquele plantel. Era, simplesmente, o melhor time da face da Terra. Colaboração: Alexandre Magno Barreto Berwanger

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