quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Rio Branco A.C. (Espírito Santo)

Fundação 
O Rio Branco foi fundado em 21 de Junho de 1913 e sua história se confunde com a história de tantos outros clubes criados nos primeiros anos do Século XX. Segundo Antônio Miguez, um dos fundadores do Rio Branco, em entrevista ao jornalista Oscar Gomes Filho, autor da mais importante obra já publicada sobre um clube de futebol no Espírito Santo - "Rio Branco Atlético Clube - Histórias e Conquistas (1913-1987)", base deste relato, a história do Rio Branco se inicia em Maio de 1913. Das "peladas" e "rachas" em campos de áreas descobertas, os meninos dos Sul América e do XV de Novembro (equipes ligadas a instituições de ensino tradicionais da época, Colégio Estadual e Escola Normal) já se divertiam com o futebol e os dois outros times já pensavam em competições, o Rui Barbosa (que teve vida efêmera) e o Victoria Foot-Ball Club, fundado por meninos brancos e ricos. Mas os pobres também gostavam dos "rachas". Entre eles, José Batista Pavão e Antônio Miguez, até então balconistas em uma casa de ferragens. Os dois, em uma das muitas conversas sobre futebol, em conjunto com Edmundo Martins, também balconista, decidiram fundar um time. No segundo domingo de Junho marcaram uma nova reunião e trouxeram vários convidados. O primeiro a aceitar o convite foi Nestor Ferreira Lima, que apesar de estudar no Colégio Estadual, não jogava no Sul América. Os meninos presentes, todos entre 14 e 16 anos, trocaram idéias e discutiram sobre tudo, da bola inglesa aos gorros. Nova reunião foi marcada, desta vez para a fundação do clube. A reunião foi marcada para o dia 21 de Junho de 1913 e os convidados deveriam levar uma sugestão de nome para o novo clube. E chegou o dia. Todos presentes com suas melhores roupas. As sugestões de nomes foram variadas, desde nomes de personalidades da História do Brasil e datas comemorativas. Também várias sugestões de nomes de heróis portugueses, mas os mais populares já davam nomes a clubes existentes em Vitória (Saldanha da Gama e Álvares Cabral). Interessante notar que foi assim em vários locais do país. As alternativas forma se escasseando, quando um dos jovens, que Antônio Miguez não se recorda, sugeriu uma homenagem aos próprios jovens que o idealizaram, jovens e vigorosos. Surgiu o "Juventude e Vigor". A importante reunião aconteceu na casa de Nestor Ferreira Filho, na Rua Sete de Setembro, mais precisamente num cômodo cedido pelo pai deste, junto ao seu escritório de contabilidade. Entraram para a história do "mais querido" do Estado os fundadores Edmundo Martins, Antônio Miguez, Gervázio Pimentel, José Fiel, José Batista Pavão, Cláudio Daumas, Otávio Alves de Araújo, Hermenegildo Conde, Adriano Macedo, Antônio Gonçalves de Souza e Nestor Ferreira Filho, que seria seu primeiro presidente. A Troca de Nome: de Juventude e Vigor para Rio Branco Um pouco depois de sua fundação, alguns de seus fundadores, convidados pelos joves de 14 a 16 anos, não se sentiram bem com a denominação, pois não eram mais adolescentes e lembraram que os demais fundadores também deixariam de sê-los. Neste período, o Juventude e Vigor também 'amadureceu', com a adesão dos jogadores do Rui Barbosa. Pedido feito e aceito. A decisão, em uma reunião realizada em 10 de Fevereiro de 1914, foi rápida e uma afirmação com referência aos acontecimentos que marcavam a história republicana daquele tempo: homenagear o Chanceler José Maria da Silva Paranhos Júnior, conhecido como o Barão de Rio Branco. Saía de cena o nome "Juventude e Vigor" e surgia o RIO BRANCO FOOTBALL CLUB. A Troca de Cores: de Auri-verde para Alvi-negro A mudança de nome não atingiu as cores verde e amarela da bandeira do clube e do uniforme do time. Segundo o jornalista Oscar Gomes Filho, tudo leva a crer que a decisão de mundaça de cores ocorreu em uma reunião realizada em 20 de Maio de 1917. Segundo o ex-presidente Luiz Gabeira, "o verde e o amarelo desbotavam muito, eram cores ingratas". O problema com cores não era exclusivo do Rio Branco. O Clube de Regatas Flamengo, que outrora defendia as cores azul e amarela, também decidiu modificar suas cores para vermelho e preto. E, pelo país afora, casos semelhantes se repetiram. Na hora de escolherem a nova cor, Giberto Paixão, que aderira ao clube em companhia da maioria dos 'ex-jogadores' do Sul América, fez a sugestão aos companheiros: "Vamos colocar o preto e branco, que pegam muito bem, como era na camisa do Sul América". Querido pela educação que tratava a todos e admirado e respeitado pelas qualidades técnicas que faziam dele o melhor jogador do time e de Vitória, Paixão teve a idéia aclamada pelos companheiros. O clube adotava, assim, as cores que, para alegria de Paixão, eram não apenas do extinto Sul América, mas também do Botafogo, do Rio de Janeiro, clube pelo qual outros meninos torciam (o clube carioca, por sua vez, adotara o preto e branco, em sua fundação, numa imitação ao Juventus da Itália). Estádio: conquista árdua e demorada É comum dizerem que o Rio Branco nasceu em Jucutuquara, mas o correto é que o Rio Branco cresceu em Jucutuquara. A sua fundação ocorreu no Centro de Vitória, especificamente na Rua Sete de Setembro. Mas, certamente, o clube teve toda a sua vida ligada a Jucutuquara. No início, as partidas do clube eram disputadas em campos existentes em áreas descobertas, usando bolas de meia ou enchendo bexigas de boi. Em Jucutuquara, havia uma grande área usada para represamento das águas da maré, que, na secagem, produzia sal. Era a 'salina". Abandonada por longo tempo, transformou-se em um terreno reto, sem gramas, mas excelente para as 'peladas'. Mas, o local era utilizado pelos meninos do bairro. Com poucas, ou quase nenhuma opção, os meninos do Juventude e Vigor foram parar no Bairro de Lourdes, em área utilizada pelo 'Tiro de Guerra", do Exército Brasileiro. A utilização durou pouco. A turma do Victória fez valer seu prestígio, recorrendo ao Barão de Monjardim. O Barão não só impediu a utilização da área pelo Juventude e Vigor, como ainda cedeu o terreno para o Victória. O clube passou então a treinar em Vila Velha, em área então pertencente a família Araújo, identificado como campo do Bom Retiro (local identificado, na década de 90, como vizinha à Maternidade). Mas, logo após, ainda em 1916, segundo Antônio Miguez, o Juventude e Vigor decidiu ocupar, efetivamente, o campo de Jucutuquara. Foi necessário realizar um aterro, trabalho facilitado em face da localização do terreno, ao pé do morro (um aterro 'natural', com deslocamento de terra do morro). Arrancaram 'tocos', aterraram e a 'salina' ficou maior. Foi erguido, no local, o campo de jogo, separado dos torcedores por uma cerca de arame liso. A área ainda não agradava aos fundadores. Afinal, o Victória já tinha um campo, cercado com folhas de zinco e local para torcedores (degraus de madeira cobertos, batizados de 'arquibancadas'). O Rio Branco precisava melhorar suas instalações, não podia admitir aquela situação. O jornal "Diário da Manhã", em sua edição de 28 de Setembro de 1915, anunciava que o então presidente, Otávio Araújo, apresentara a planta do esplêndido campo de 'sports' que seria, depois de pronto, um dos melhores do Brasil. Esta informação também foi matéria de outro periódico, o "O Curioso", datado de 12 de Setembro. Assim, com o esforço dos 'meninos', o Rio Branco inaugurou em 1919 o "Estádio de Zinco", que a imprensa da época chamava, orgulhosamente, de "O Majestoso Ground de Jucutuquara". A inauguração foi contra o Fluminense, de Niterói, na época um dos grandes clubes do Rio de Janeiro e reforçado de vários atletas do tricolor Fluminense e de outros times do Rio. A partida de inauguração terminou empatada em 2 x 2. O Estádio de Zinco era um marco. Todos os times do Estado queriam jogar naquele 'campo'. Em 1929, a equipe do Flamengo, já uma equipe grande e popular em todo o país se apresentou no Estádio. E o Rio Branco não perdoou, vitória de 2 x 1 para os capa-pretas. Mesmo ocupando a área desde 1916, o Rio Branco não era o legítimo possuidor da mesma. A área ficava sob a administração da Liga de Esportes. Somente em 1934, depois de vencer uma batalha contra dirigentes do Victoria, que quase conseguiram que o Estado lhes doasse a área, o então Presidente Carlos Marciano de Medeiros, o Capitão Carlito Medeiros, conseguiu que o Interventor Federal do Estado, Capitão João Punaro Bley, realizasse a doação ao Rio Branco, por meio do Decreto 4.969, publicado no Diário Oficial em 24 de Junho de 1934. O Rio Branco cresceu. O time alvinegro já se tornara um patrimônio do Espírito Santo e o Estádio de Zinco estava pequeno e obsoleto. Os dirigentes rio-branquenses não se omitiram, tomando a responsabilidade de construir o novo Estádio. Partiu-se para a construção do Estádio Governador Bley. Ao ser inaugurado, em 30 de Maio de 1936, o Estádio Governador Bley era o 3º maior do país, símbolo da grandeza do clube, do desenvolvimento de Vitória e um orgulho para o povo capixaba (à época, apenas dois estádios o superavam, São Januário, do Vasco da Gama, e o Estádio da Laranjeiras, do Fluminense, ambos no Rio de Janeiro, então a Capital Federal). No dia seguinte, 31 de Maio de 1936, a torcida capa-preta lotou todas as dependências para assisitr a primeira partida no local, entre Rio Branco e a forte equipe do Fluminense. Desta vez, não deu para o Brancão, o Fluminense ganhou por 2 x 0. Mas, com a construção do Estádio, o clube entrou em sérias dificuldades financeiras. Com as contratações de jogadores de outros Estados, e seus altos salários, o Rio Branco ganhava quase tudo, diminuia o interesse das torcidas, tamanha a superioridade do clube, ocasionando rendas menores e aprofundamento da crise. As dívidas foram se tornando insolúveis. E o Decreto de doação deixava explícito: "... se o clube ficar em condições de não solver os compromissos contraídos para a construção do Estádio, o terreno e as benfeitorias nele existentes deverão reverter à propriedade do Estado, que a seu turno, responderá por todos os débitos existentes". A situação complicou ainda mais em 1937, quando o Presidente Carlito Medeiros rompeu com a 'situação' governista local. Em Março de 1939, foi anunciado o fechamento do Estádio. Em 22 de Abril de 1939, o Estádio reabriu e, a partir de então, também era a sede oficial do Serviço de Educação Física do Governo do Espírito Santo. O Rio Branco perdia o domínio da praça esportiva de Jucutuquara, que administrada pelo Estado, serviria a todos os clubes. Uma curiosidade é que o Estado, conforme previa o Decreto, não honrou as dívidas com os colaboradores riobranquenses. Segundo Oscar Fomes Fiilho, apenas alguns dirigentes ligados ao Victória é que receberam seus créditos. O clube afundado em dívidas e sem Estádio praticamente acabou. Em 23 de Dezembro de 1939, sob o comando de Laonte de Lima Soares, vários dirigentes se reuniram e fundaram o Riobranquinho Futebol Clube. O nome era diminutivo, mas a chama de idealismo de seus dirigentes, na conservação de sua tradição, era a mesma dos meninos fundadores do Juventude e Vigor. Mantiveram-se unidos, juntos, encobertos pelas cores preta e branca da gloriosa camisa do Rio Branco Football Club. Ressaltando que já havia sido constituído um Riobranquinho, no início da década de 30, mas era informal e simbólico. Os atletas usavam esta denominação para jogos nas férias e em finais de temporadas, atuando e difundindo o nome do clube nos bairros de Vitória e no interior. Atuando sempre que o Rio Branco Football Club estivesse inativo, sem jogos promovidos pela Liga. Em 08 de Março de 1941, foi eleito Presidente Luiz Gabeira, um riobranquense das primeiras horas, que ja fora Presidente do clube em 1930. Cumpridas as exigências legais para funcionar por breve período como Riobranquinho, restabelecida a normalidade administrativa e mantendo o time vitorioso, como fora desde a sua fundação, os dirigentes alvinegros realizaram um Assembléia Geral em 18 de Março de 1941, para deliberar sobre a criação de uma nova agremiação. Tendo como lema a frase "Tudo em benefício do Rio Branco", criaram o RIO BRANCO ATLÉTICO CLUBE. A partir daquele momento, o clube teria, no escudo, a sigla RBAC, de memoráveis conquistas. Apenas em 27 de Março de 1958 é que o Estádio Governador Bley voltou para o Rio Branco. A retomada do Estádio, um desejo de todos os presidentes que passaram pelo clube, teve seus capítulos finais em 1954, quando alguns deputados apresentaram Projeto de Lei autorizando o Governo a doar ao clube CR$ 300.000,00 para a construção de um Estádio no Bairro da Bomba (não foi encontrado registros de quando o Rio Branco adquiriu este terreno). O autor do projeto era o deputado Luiz de Lima Freitas, ex-presidente do clube, e contou com o forte apoio de José Buaiz, Dirceu Cardoso e Jefferson de Aguiar. Em 1958, o deputado Jose Buaiz apresentou projeto prevendo a retomada do Estádio Governador Bley. O projeto de lei, relatado pelo então deputado Cristiano Dias Lopes Filho, teve aprovação unânime na Assembléia. O projeto previa que para a devolução do Estádio, o Governo do Estado deveria ser ressarcido de todos os valores que pagara aos credores do clube. O Governador da época, Francisco Lacerda de Aguiar, sancionou a Lei 1.402, em 27 de Março de 1958. Apenas em 1960, mais precisamente no dia 21 de Novembro, tendo o Rio Branco dado como pagamento das dívidas quitadas pelo Estado o terreno da Bomba (onde hoje se situa a Rádio Espírito Santo, na avenida Reta da Penha, em frente à EMESCAM), o Estádio Governador Bley voltou a ser propriedade do Rio Branco. O valor da transação alcançou a soma de CR$ 1.800.000,00. Em 1972, já sob a Presidência de Kleber Andrade, houve a decisão de venda Estádio Governador Bley. O Estádio foi utilizado, em partidas oficiais do clube, até o ano de 1974. Durante o período compreendido entre 1974 e 1983, data de inauguração do Estádio Kleber Andrade (cujo nome homenageia o ex-presidente, cujo falecimento ocorreu em 12 de Julho de 1978, em um fatídico acidente automobilístico), o Rio Branco mandava seus jogos no Estádio Engenheiro Araripe, até então de propriedade da Companhia Vale do Rio Doce, mantenedora da Associação Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce. O Estádio Kleber Andrade, foto abaixo, é mais uma prova do empreendedorismo dos dirigentes do clube, tendo sido inaugurado em 1983. A primeira partida oficial no novo Estádio do Rio Branco, que ao término de suas obras, seria o terceiro maior Estádio particular do país (perdendo apenas para o Morumbi e para o Beira-Rio), ocorreu em 07 de Setembro de 1983, em uma partida que o capa-preta venceu o Guarapari por 3 x 2 (três gols de Arildo Ratão). Infelizmente, o período de utilização do Estádio Kleber Andrade coincidiu com um período de muitas dificuldades financeiras e administrativas do clube, algumas causadas inclusive pelos elevados investimentos realizados nesta Praça Esportiva. Desde a sua inauguração, o clube conquistou apenas dois títulos estaduais da 1ª divisão (1983 e 1985), entrou em colapso financeiro, desistiu de participar de um campeonato oficial, voltou em 2005, e seguindo as normas vigentes da atual legislação esportiva, voltou disputando a 02ª divisão, cujo título conquistou (utilizando a equipe e comissão técnica do Vilavelhense). O elevado passivo fiscal, trabalhista e cível levou a uma situação irreversível. A antiga sede administrativa e social, localizada na Ilha de Santa Maria, foi desapropriada pelo Governo do Estado no ano de 2003. O clube ainda luta na Justiça para reaver o direito aos valores referentes a area, tendo em vista um processo de permuta ilegal e imoral promovido pelos Dirigentes da época. Em 2008, visando concluir as obras e dotar o Espírito Santo de uma moderna arena esportiva, o Governo do Estado também desapropriou o Estádio Kleber Andrade (pelo valor de R$ 6.800.000,00), com os recursos ficando bloqueados para o pagamento das dívidas do clube. As negociações para pagamento das dívidas estão em curso e, no final de 2009, restavam poucos processos a serem solucionados. O Maior Patrimônio Depois uma série de administrações que não conseguiram resolver completamente os problemas do clube, restou ao Rio Branco, como patrimônio físico, uma área de aproximadamente 60.000m² localizada em Portal de Jacaraípe (Serra - ES). E, obviamente, o clube não perdeu o seu maior patrimônio: a sua imensa e apaixonada torcida, a TORCIDA CAPA-PRETA.
Fonte: www.rbac.esp.br 
Colaboração: Alexandre Magno Barreto Berwanger

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