terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Rádio AM

Antônio Manoel Góes*
Sou Antônio Manoel (Góes), radiojornalista, 67 anos. Num desses acasos da internet, esbarrei em seu blog e li, com especial interesse, as postagens sobre a Rádio Globo/Rio. Trabalhei lá, de 1977 a 1981, na equipe de esportes de Waldir Amaral/Jorge Curi. ‘Oficialmente’ repórter, fui produtor dos programas ‘Esporte no Ar’ e ‘Panorama Esportivo’, apresentando nesse último uma janela sobre as ‘últimas do Brasil e exterior’. Fazia o ‘plantão’, na retaguarda, com o Jairo de Souza, na Globo, coordenando as jornadas esportivas de quartas, sábados e domingos. Na realidade, durante os 5 anos em que lá trabalhei, além de redator e produtor da programação esportiva, incluído o arquivo de gols reprisados na pré-hora, com o ‘Bola pra Frente’ e a ‘Jornada...’. Redigia(e apresentava, com o Jairo), o ‘Grande Placar Esportivo’. Em minha volta ao Rio(abril/1977), apresentado pelo conterrâneo de Alagoas, Edson Mauro, após dois anos em Londrina-PR(trabalhei no Banco do Brasil, de que sou aposentado faz quase 18), descobriu, desencantado, que os programas esportivos eram produzidos ‘na perna’, sem texto, tudo à base de improvisação nas chamadas de ‘sonoras’ de setoristas dos clubes(Kléber, Loureiro, Fernando Carlos, Danilo Bahia, Gilson Ricardo, Luís Penido), da participação dos comentaristas (João Saldanha, Afonso Soares, Mário Vianna, Alberto Rodrigues, Cláudio Moisés), além dos narradores (Edson Mauro, Cézar Rizzo, Antônio Porto). Tratei de redigir, como aprendi desde os idos de 1959, na rádio de minha cidade natal (Penedo-Alagoas), o que me valeu total aprovação do chefe Waldir. Sem dúvida, honra-me ter participado do fim dos tempos áureos do rádio carioca, na Globo-AM ( Haroldo de Andrade, Paulo Giovanni, Adelzon, Zarifi (Brasil-sil-sil-sil-sil!!!), Luciano Alves, Waldir Vieira, Gilberto Lima, Guilherme de Souza, Isaac Zaltman, Antônio Carlos Bianchini, Roberto Figueiredo, comunicadores e noticiaristas). Sérgio Nogueira lá comparecia, entre 1978 e 79, para tratar da venda de automóveis, e, vez por outra, falava conosco sobre a possibilidade de fazer um teste como locutor de estúdio. Fui um dos falaram com o ‘Zarifão’, que autorizou gravasse uns textos. Acabou aproveitado na Eldorado e seguiu, como noticiarista, na Rádio Globo. Assumi, no fim de 1979, o programa ‘Portugal Esportivo’(“Você tem nome de português’, ponderou Waldir, ao me passar a responsabilidade), substituindo o grande Arthur Agostinho (edição semanal, aos sábados, às 19h40) que retornara a Lisboa, de onde viera (1974), ‘exilado’ em função da Revolução dos Cravos e sua ligação com a ditadura deposta. Arthur, ainda bem vivo, aos 85 anos, o mais famoso cronista esportivo lusitano, era(e continua no batente) ator de TV e cinema. Lamentavelmente, o rádio carioca vai célere ladeira abaixo, (des)administrado por pessoas alheias ao ramo. A Globo, hoje rede de rádio com geração principal em São Paulo, bem assim a CBN, igualmente a partir da capital paulista, tem seus prefixos cariocas como meros subsidiários do ‘sistema’. A verdade, Paulo Francisco, é que, a partir das duas maiores emissoras, Globo e Tupi, pagam mal e porcamente aos profissionais, além da terceirização dos serviços, notadamente os departamentos de esporte. Como ‘audiência’, subsiste aqui a BandNewsFM, dentro da mesma linha permissiva de salários inexpressivos, à base do odioso’ bom e barato’. As empresas visam, acima de tudo, ao lucro, sem priorizar o talento de seus profissionais. Demiti-me da Rádio Globo, em novembro/1981, para encarar o desafio de ajudar na implantação do Canal 5-TV Alagoas, segunda de meu Estado, retornando a Maceió, onde me aposentei do BB, em 1993, após participar intensamente do movimento sindical e popular, além das lutas pós-redemocratização, nos anos 80/90. Novamente no Rio, em 1996, deparei-me com a mixórdia do rádio. Passaram a empregar detentores de diploma de jornalismo, como se as faculdades preparassem comunicadores necessários a estes tempos de novas mídias audiovisuais, em particular a internet. Eu próprio, já sessentão, voltei à faculdade e fiz ‘Comunicação’, um dinossauro trocando figurinhas com jovens despreparados, sem informação elementar sobre o mundo que os cerca. Hoje milito no Conselho de Cidadania do Alto da Boa Vista, entorno da Floresta da Tijuca, a braços com a recuperação de áreas degradadas pela especulação imobiliária e a garantia de regularização fundiária para moradores históricos, cujos antepassados lá chegaram há mais de um século. Infelizmente, companheiro, o rádio do Rio está em queda livre há quase duas décadas, sem qualquer sinal alentador de volta aos bons tempos sobre os quais exagerei nessa despropositada ‘dissertação’. Para terminar, sempre fui ouvinte das rádios de Goiânia, nas ondas curtas (Brasil Central e Anhanguera), desde meus idos de Alagoas, faz um montão de décadas. Waldir Amaral, meu chefe na Globo e competente diretor comercial do sistema inteiro, à época, veio aí do ‘coração verde da pátria’, como diria o Porto, também de saudosa memória. Desculpe-me pelo estorvo, mas é que, ao lê-lo (matéria do blog ‘radiobase’,em 17.11.2008), vi-me tocado, conquanto o atraso de um ano, a remover coisas do baú.
*Antônio Manoel Góes–Rio de Janeiro-RJ .

Um comentário:

marcos schweizer disse...

Já trabalhei em rádio e sempre fui um inconformado com a entrada das igrejas neste espaço de comunicação, mas foi justamente ao lutar contra isto que descobri o porque das emissoras cederem a tentação do arrendamento, o mercado publicitário fechado para as demais emissoras AM que não as duas líderes, no Rio. Depois de já ter saído do meio, certa vez conversando com uma jornalista e publicitátia, ela me contava, e se não for verdade pelo menos aparenta ser, que as agencias publicitarias têm um acordo velado para somente direcionarem publicidade as duas emissoras citadas. Verdade ou não, fato é que não importa a qualidade da progrmação veículada nem tão pouco se a emissora é lider ou última colocada na audiência, não haverá verba publicitária. Se há alguma dúvida sobre esta prática, esta tese no mínimo fica reforçada quando vimos que o maior nome do rádio carioca, Haroldo de Andrade, montou sua própria emissora, levou-a ao terceiro lugar em audiência e ...não conseguia nenhuma publicidade que tivesse conta em agencia. Nem mesmo do supermarcado que tem sua publicidade administrada pelo colega de Rádio Globo, Antonio Carlos. Fica assim compreendido o porque do rádio no Rio de Janeiro estar com igrejas ou veicularem programação variada de programas alugados. Não bastasse esta forma de sufocamento financeiro, há o fato de que se algum programa se destacar em outras emissoras a ponto de incomodar na audiência das poderosas, o veiculador do programa é contratado e lançado em horário da madrugada, demonstrando que o objetivo foi somente liquidar a emissora concorrente.
Assim o rádio do Rio se tornou o que é. Não há espaço para novos, não há espaço para antigos profissionais se estes não sacarem do bolso ou não tiverem algum amigo comerciante que pague pelo arrendamento de espaço em alguma emissora pequena e, assim sendo, as igrejas, nos mais variados segmentos, ocupam a grade destes veículos de comunicação. É aceitar ou fechar.