terça-feira, 24 de novembro de 2009

Monotrilho

Ricardo Mucciaroni* Em meados da década de 1980, quando era, ainda, um garotinho, presenciei, curioso, o início da construção de várias pilastras e colunas em meio às calçadas das Avenidas Francisco Sales e João Pinheiro. Eram tantos homens trabalhando, caminhões e mais caminhões de concreto, ferros, chapas... A realização daquela engenharia deixava os moradores e turistas boquiabertos. "O seria aquilo?", pensava eu na minha molecagem. Eram os trilhos para o monotrilho. Passados mais de 20 anos do início daquela obra, vemos que o que nos deixava orgulhosos - ser uma das poucas cidades no mundo a possuir um sistema de transporte com tal tecnologia - hoje, se tornou um problema. O projeto não foi realizado em sua plenitude, deixando de ser um meio de transporte coletivo para se transformar em um atrativo para o transporte de turistas, que acabou tendo curta duração. Atualmente, são quase unânimes as opiniões relacionadas à sua derrubada (é a decisão mais simples), pois suas colunas e trilhos já estão porosos devido às ações do tempo. Além do que, algumas colunas e vigas caíram, devido ao desassoreamento realizado no ribeirão há alguns anos. Também é fato a tecnologia ultrapassada utilizada nas cabines do meio de transporte. Isso, sem comentar o dilaceramento sofrido pela paisagem da área em que foram construídas as vigas e colunas. Mas, será que o tal monotrilho é só problema? Particularmente, acredito que se deveria pensar e discutir o assunto tendo em vista o caráter complexo que a temática envolve. Se, simplesmente, for derrubada a estrutura - deformada - que está aí, estará resolvido o problema da feiúra, da instalação ociosa, do perigo de mais uma dessas colunas e vigas caírem e causarem um incidente mais grave. Por outro lado, este é um problema pontual, que a engenharia deve ter soluções para mitigá-lo, devendo o município e os responsáveis pela obra, verificar os custos de uma possível reforma ou revitalização, buscando os recursos necessários junto aos órgãos financiadores, governamentais ou mesmo privados, através de parcerias. Quem está lendo deve achar que estou louco, mas elenco alguns motivos para defender esta idéia. Hoje, Poços de Caldas começa a sofrer com um mal que assola as grandes cidades: o trânsito. Segundo informações extra-oficiais, são emplacados no município cerca de 250 veículos ao mês (se não forem mais), isto significa que ao final de um ano teremos mais 3.000 automóveis nas nossas ruas e, daqui a 10 anos, serão, com certeza, mais de 30.000 veículos, gerando todos os tipos de poluição que podemos imaginar. E o que faremos? Será que o monotrilho não seria uma das possíveis soluções para o problema? Se não, então vejamos. "A prefeitura de São Paulo pretende implantar uma linha para monotrilho entre a estrada do M’Boi Mirim e a região de Santo Amaro. A linha teria pouco mais de 10 quilômetros e poderia substituir um corredor de ônibus cuja implantação estava prevista no local" (Folha de S. Paulo 09/07/09). Neste mesmo jornal foi publicado, em agosto, que a prefeitura daquele município pretende instalar cerca de 100 quilômetros de linhas para o monotrilho. Pois então, se São Paulo, que enfrenta congestionamentos diários de mais de 150 quilômetros está implantando um sistema de monotrilho, nós, aqui em Poços, iremos apoiar a derrubada do nosso? Acredito que o prefeito deveria encarar esta empreitada, pelo menos, viabilizando caminhos para a resolução desta pendenga, que se arrasta a anos, estudando meios para viabilizar projetos para o reinício das atividades do monotrilho e mesmo a ampliação da linha do transporte, circundando toda a cidade, mesmo que seja chamado de louco. Sabemos que as ruas de Poços foram planejadas no início do século XX. Já pensaram se nossas ruas fossem estreitas? O que faríamos, nos dias de hoje, com o número de veículos que circula pela cidade? Será que não é momento para a tomada de uma atitude arrojada e planejada? A tendência do trânsito de veículos em Poços (e no mundo) é piorar. Por isso deve-se utilizar a capacidade de planejamento para traçar o desenvolvimento sustentável do município, visualizando, neste caso específico, que as águas e o subsolo de Poços de Caldas devem ser preservados, e sendo assim, num futuro, talvez longínquo, não seria possível realizar escavações para implantação de um metrô. Mas, com certeza, se a partir de hoje, forem colocadas estruturas adequadas para o desenvolvimento racional da malha de circulação (que pode aproveitar-se do monotrilho), estará se dando um grande passo para que se tenha uma cidade mais tranqüila em relação ao trânsito no futuro. Parafraseando o Dr. Francisco Risola, "Quem viver verá". *Ricardo Mucciaroni é comerciante e graduado em Turismo pela PUC/Minas campus Poços de Caldas. Fonte: www.jor-cidade.com.br

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