sábado, 25 de julho de 2009

Vida de técnico

Rivelle Nunes* Belo Horizonte, MG - Duas célebres frases sobre treinadores explicam a situação desses senhores, muitas vezes questionados, outras super estimados. Otto Glória definiu bem o cargo que ocupou por tantos anos: "Quando o treinador perde, é uma besta, quando vence, é bestial". A outra, do grande Armando Nogueira: "Existem dois tipos de treinadores, os que caíram hoje e os que cairão amanhã." Há algumas rodadas vivenciamos uma situação inusitada no Campeonato Brasileiro. Três dos mais vencedores treinadores brasileiros da atualidade estavam sem emprego. Muricy Ramalho não suportou a desclassificação nas quartas-de-final da Libertadores e caiu no São Paulo. Na mesma semana o Palmeiras demitiu Vanderlei Luxemburgo após declarações do comandante relacionadas à venda de Keirrison para o Barcelona. No conturbado Fluminense, caiu Carlos Alberto Parreira após péssimo início no Brasileirão. Nos currículos desses três exemplos, nove títulos brasileiros, duas Copas do Brasil, duas Copas Américas e uma Copa do Mundo. Mesmo com o futebol brasileiro apresentando nas últimas temporadas uma maior maturidade quanto à manutenção de treinadores nas equipes grandes, alguns fatores ainda são determinantes para a queda de comandantes, sejam eles consagrados ou aqueles que ainda buscam um lugar ao sol. Um desses fatores é o que derrubou Muricy, no São Paulo, a obsessão pela Copa Libertadores. O tricampeão brasileiro não suportou a desclassificação na menina dos olhos do Morumbi e, aliado a problemas de relacionamento no elenco montado para a temporada, viu sua vitoriosa história virar apenas um retrato na parede do clube tricolor. No Palmeiras, olhando de fora, parece que Luxemburgo caiu pelo mesmo motivo que foi demitido do Cruzeiro após ganhar tudo no time mineiro, insubordinação. Bateu de frente com a diretoria e todo o planejamento, que o Luxa sempre afirmou ter, foi por água abaixo. Ele, supervalorizando seu trabalho, disse que leva lucro e títulos para o clube que o contrata. Não creio que o Paulista do ano passado tenha sido o maior sonho do palmeirense, principalmente para a turma do amendoim que frequenta as tribunas do Palestra. Já Carlos Alberto Parreira que, na minha opinião, é um treinador obsoleto, foi vítima de uma parceria que manda mais que o próprio clube, no caso o Fluminense. A empresa de planos de saúde e o tricolor vivem entre tapas e beijos e, quando a fase é de tapas, não há treinador que se sustente no cargo. Os números mostram que o tricolor das Laranjeiras é o clube que mais trocou de treinadores na era dos pontos corridos, 17 vezes no total. Hoje, dos vinte clubes que disputam a Série A, apenas um tem o comandante aparentemente sem correr riscos no cargo. Curiosamente, Mano Menezes, no barril de pólvoras que sempre foi o Corinthians. Os resultados convincentes desde que assumiu o time do Parque São Jorge, no início do ano passado, colocam o treinador mosqueteiro com uma boa "gordura para queimar" no comando do alvinegro. Aqui em MG, Celso Roth chegou questionado, mostrou trabalho e hoje é aceito pela torcida atleticana, desde que o time continue no alto da tabela. Já Adilson Batista, sempre criticado pela imprensa e torcida, subiu no conceito de ambos, porém se o Cruzeiro não melhorar no Brasileirão, única competição que restou para os celestes, a pressão em cima dele voltará com tudo. Vida de treinador no Brasil é assim. Não há planejamento ou currículo que perdure em meio ao amadorismo das diretorias e o pensamento imediatista dos torcedores que querem resultados para ontem. Aquele que hoje veste o agasalho pode ter que pendurá-lo amanhã. Hoje ele pode ser um bestial, amanhã uma besta completa. *Rivelle Nunes é Jornalista Fonte: www.rivellenunes.blogspot.com

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