sábado, 17 de maio de 2008

Operação Pasárgada

CPI do enriquecimento Carros apreendidos nas casas de Bejani foram pagos em dinheiro vivo Táscia Souza - Repórter A caminhonete F-250, placa HEB 1653, e o Ford Ranger, placa HEB 1521, apreendidos pela Polícia Federal na fazenda de Ewbank da Câmara e na casa do prefeito Alberto Bejani (PTB) foram pagos à vista e em dinheiro vivo. Os proprietários dos veículos, Marcos Macacchero, sogro do secretário municipal de Agropecuária e Abastecimento, Marcelo Detoni, e Georgimar Ferreira, irmão de Bejani, confirmaram o pagamento em espécie durante depoimentos prestados, na tarde de ontem, à CPI responsável por apurar as denúncias de desvio de recursos públicos e enriquecimento ilícito contra o chefe do Executivo. A caminhonete zero quilômetro foi comprada por Macacchero, em agosto de 2006, por R$ 100 mil. Já Ferreira pagou, em março deste ano, R$ 72.000 pelo Ford Ranger, modelo de 2006. A renda mensal de ambos, porém, é de aproximadamente R$ 2.000.

Os vereadores questionaram a compatibilidade entre o rendimento das testemunhas e os montantes pagos pelos carros. O fato de as compras terem sido efetuadas em dinheiro vivo também levantou suspeitas. Visivelmente constrangido, Macacchero reagiu com irritação à maior parte das perguntas feitas pelo relator da CPI, vereador Bruno Siqueira (PMDB). Indagado sobre o valor de sua renda mensal, rebateu: “Para que você quer saber?”. Em seguida, informou que, além da aposentadoria de cerca de R$ 2.000, realiza pequenos trabalhos extras e recebe doações da mãe, de mais de 80 anos. “Faço meus bicos. Sou filho único, minha mãe é aposentada, pensionista militar. Sempre me ajudou”, justificou, acrescentando que a mãe recebe cerca de R$ 5.000 por mês.

Hábito com banco - Sobre o pagamento à vista, Macacchero alegou não ter “hábito de mexer com banco”. Diante da insistência do relator em saber onde os R$ 100 mil estavam guardados e como foram transportados do Bairro Borboleta, onde a testemunha mora, até a concessionária Original Veículos, na Cidade Alta, respondeu com ironia. “Botei num travesseiro e levei”, disparou. “O senhor fica me fazendo umas perguntas... Que situação mais chata! O senhor disse que eu não estou sendo investigado e fica fazendo essas perguntas!”. A resposta foi repreendida por Bruno Siqueira, que exigiu respeito aos trabalhos da CPI. “Gostaria que o senhor tivesse respeito com esse relator. Isso aqui não é uma brincadeira, é uma comissão parlamentar de inquérito.” Com a advertência, Macacchero baixou o tom de voz. “A gente vai juntando um dinheirinho.” Apesar disso, ele informou que seu outro veículo, uma motocicleta 1.500 cilindradas, foi comprada por R$ 36.000 com dinheiro emprestado. “Fiz um acordo com um amigo meu. Ele não fez questão de nada.” A CPI pediu cópias das declarações de Imposto de Renda da testemunha e de sua mãe de 2005 a 2007.

Macacchero não soube explicar o motivo pelo qual a caminhonete F-250, que está em seu nome, foi apreendida na fazenda que pertencia a Bejani. “Pedi ao meu genro, que tem garagem grande, que deixasse lá, porque minha garagem é pequena. Deve ter incomodado.” Ele disse, ainda, que não sabe se o carro continuou sendo usado após ir para a garagem do genro. “Os documentos estavam comigo. Se alguém usou, foi sem o meu conhecimento.”

"Botei (os R$ 100 mil) num travesseiro e levei. O senhor fica me fazendo umas perguntas... Que situação mais chata!"Marcos Macacchero, sogro do secretário municipal de Agropecuária, Marcelo Detoni, ao tentar explicar à CPI sobre o dinheiro usado na compra do carro

"Gostaria que o senhor tivesse respeito com esse relator. Isso aqui não é uma brincadeira, é uma comissão parlamentar de inquérito"Bruno Siqueira (PMDB), repreendendo a Macacchero

Irmão do prefeito diz que Ranger era para ‘entregar gás’ - Já o irmão de Bejani, Georgimar Ferreira, dono do Ford Ranger apreendido na casa do Bairro Aeroporto, disse que parte dos R$ 72.000 usados na compra do carro foram emprestados pelo presidente do PTB, Rogério Ghedin. “Eu tinha uma poupança de R$ 24.000 e um amigo me emprestou R$ 50.000 a juros de poupança.” Inquirido por Bruno Siqueira se poderia dizer o nome do credor, respondeu: “Sim. É o Rogério Ghedin.” O empréstimo foi confirmado pelo petebista, que afirmou ter sido procurado em seu consultório e garantiu que não cobraria os juros. “Georgimar é um moço muito bom. Foi uma quantia modesta para que ele investisse num pequeno negócio.” Ghedin alegou não ter idéia dos motivos que levaram Ferreira a pedir o empréstimo a ele e não a Bejani. “Nem sei se o irmão (Bejani) teria essa quantia. À vezes também nos sentimos mais à vontade com um amigo do que com um familiar.” O irmão do prefeito informou à CPI que pretendia pagar a dívida usando o Ford Ranger para “entregar gás”. A explicação causou espanto ao vereador Rodrigo Mattos (PSDB). “É comum usar esse tipo de carro mais luxuoso para entrega de gás?”, ironizou. “Existem vários modelos”, respondeu Ferreira. “Por ser a diesel, é um carro mais econômico.”

O irmão do prefeito disse já ter trabalhado como revendedor de bujões de gás e com moto-entrega, antes de ocupar cargo comissionado na Cesama, durante seis meses da atual administração, onde ganhava cerca de R$ 2.000 por mês. Ele explicou que, atualmente, trabalha como supervisor técnico de uma empresa, com salário de R$ 2.345. Em relação à poupança de R$ 24.000, ele alegou que sacou o dinheiro aos poucos e guardou em casa. Ferreira foi questionado, ainda, sobre as razões de seu automóvel ter sido encontrado na casa de Bejani no dia 9 de abril, durante a Operação Pasárgada. “Estive lá um dia antes. Não tenho costume de beber, mas, por insistência, ingeri bebida alcoólica. Como me senti mal, pedi ao meu filho que fosse me buscar e deixei o carro lá”, explicou, também atribuindo a apreensão ao “azar”.

Comissão quer visitar fazenda na quinta-feira A CPI pretende marcar uma visita à Fazenda Liberdade na próxima quinta-feira, dia 22. A data ainda não foi confirmada, porque depende de autorização do proprietário do imóvel. A venda da fazenda ao advogado Marcelo Abdalla da Silva, por R$ 1,2 milhão, foi utilizada pelo prefeito Alberto Bejani (PTB) para justificar os R$ 1.120.390 encontrados pela Polícia Federal em sua casa no Aeroporto, no dia 9 de abril. A escritura da propriedade, contudo, permanece no nome do antigo dono, o advogado Luiz Carlos Mazocoli. O presidente da comissão, vereador Isauro Calais (PMN), enviou ofício à Associação Juizforana de Corretores de Imóveis (Ajade) e ao Sindicato de Corretores, pedindo que cada entidade indique três profissionais para acompanhar os parlamentares na inspeção à fazenda e fazer a avaliação do imóvel.

Ainda ontem, no 32º dia de investigações, a CPI voltou a cogitar a necessidade de prorrogar o prazo para a conclusão do inquérito sobre o prefeito Alberto Bejani (PTB). De acordo com o relator Bruno Siqueira (PMDB), muitos documentos solicitados ainda não foram enviados, o que pode dificultar o encerramento dos trabalhos. “Não estou dizendo que precisamos de todos, mas alguns desses documentos são importantes para confrontarmos com outros”, alegou. “Se continuar a demora, poderemos ter que pedir o adiamento por mais 45 dias.” Entre os documentos que faltam, Bruno citou as declarações de Imposto de Renda do prefeito desde 2005, informações da Anac e da Infraero sobre os aviões particulares em que Bejani teria voado durante a atual administração, a quebra do sigilo bancário do Grupo SIM, as cópias dos contratos de compra e de venda da Fazenda Liberdade e a cópia do inquérito da PF sobre o esquema de desvio de verbas do Fundo de Participação dos Municípios.

Antigo proprietário presta depoimento na segunda-feira - O advogado Luiz Carlos Mazocoli, antigo proprietário da Fazenda Liberdade, prestará depoimento à CPI na próxima segunda-feira. Mazocoli vendeu o imóvel ao prefeito Alberto Bejani em junho do ano passado, por cerca de R$ 430 mil. Os vereadores questionam, principalmente, a rápida valorização das terras, compradas no início de abril por Marcelo Abdalla por R$ 1,2 milhão. Além dele, a CPI também vai ouvir Márcio Francisco de Oliveira, de quem supostamente o prefeito comprou terras vizinhas.

Em entrevista à Tribuna, logo após Bejani ter atribuído a origem do dinheiro apreendido em sua casa à venda da fazenda, Mazocoli afirmou que já estava com todos os documentos prontos para mostrar à CPI. “Estou às ordens para prestar qualquer esclarecimento.” Segundo ele, até junho de 2006, quando a propriedade foi arrendada a Bejani, a fazenda contava com 56,6 hectares, cem cabeças de gado, 12 cavalos manga-larga, um trator e armas. Atualmente, de acordo com Abdalla, o imóvel possui 92,41 hectares, 40 vacas leiteiras, 20 cavalos manga-larga, um trator, piscina, sauna, ordenhadeira mecânica e tanque de resfriamento de leite, além de 4 km de vias pavimentadas no interior da propriedade. Fonte: http://www.tribunademinas.com.br/

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